quarta-feira, 25 de novembro de 2009

A massacrante felicidade dos outros


Recebi esse texto da querida amiga Ani Paludo e agora compartilho aqui. Nunca gostei muito dos escritos da Martha Medeiros, mas a ideia desse parece tratar de um sentimento que a todos já deve ter tocado, ainda que de mansinho. Se bem que deve-se sempre duvidar da fidelidade autoral de textos recebidos pela internet...de qualquer forma não importa!



A massacrante felicidade dos outros...


Há no ar um certo queixume sem razões muito claras. Converso com mulheres que estão entre os 40 e 60 anos, todas com profissão, marido, filhos, saúde, e, ainda assim, elas trazem dentro delas um não-sei-o-quê perturbador, algo que as incomoda, mesmo estando tudo bem. De onde vem isso?Anos atrás, a cantora Marina Lima compôs com o seu irmão, o poeta Antonio Cícero, uma música que dizia: 'Eu espero/ acontecimentos/ só que quando anoitece/ é festa no outro apartamento'. Passei minha adolescência com a mesma sensação de que algo muito animado estava acontecendo em algum lugar para o qual eu não tinha convite. É uma das características da juventude: considerar-se deslocado e impedido de ser feliz como os outros são - ou aparentam ser. Só que chega uma hora em que é preciso deixar de ficar tão ligada na grama do vizinho...As festas em outros apartamentos são fruto da nossa imaginação, que é infectada por falsos holofotes, falsos sorrisos e falsas notícias. Os notáveis alardeiam muito suas vitórias, mas falam pouco das suas angústias, revelam pouco suas aflições, não dão bandeira das suas fraquezas... Então, fica parecendo que todos estão comemorando grandes paixões e fortunas, quando, na verdade, a festa lá fora não está tão animada assim! 4Ao amadurecer, descobrimos que a grama do vizinho não é mais verde coisíssima nenhuma.Estamos todos no mesmo barco, com motivos pra dançar pela sala e também motivos pra se refugiar no escuro, alternadamente. Só que os motivos pra se refugiar no escuro raramente são divulgados.Prá consumo externo, todos são belos, sexy, lúcidos, íntegros, ricos, sedutores, enfim, campeões em tudo! Fernando Pessoa também já se sentiu abafado pela perfeição alheia - e olha que na época em que ele escreveu estes versos não havia esta overdose de revistas que há hoje, vendendo um mundo de faz-de-conta: 'Nesta era de exaltação de celebridades - reais e inventadas - fica difícil mesmo achar que a vida da gente tem graça.' Mas tem. Paz interior, amigos leais, nossas músicas, livros, fantasias, desilusões e recomeços, tudo isso vale ser incluído na nossa biografia...Ou será que é tão divertido passar dois dias na Ilha de Caras fotografando junto a todos os produtos dos patrocinadores? Compensa passar a vida comendo alface para ter o corpo que a profissão de modelo exige? Será tão gratificante ter um paparazzo na sua cola cada vez que você sai de casa? Estarão mesmo todos realizando um milhão de coisas interessantes enquanto só você está sentada no sofá pintando as unhas do pé?Favor não confundir uma vida sensacional com uma vida sensacionalista. As melhores festas acontecem dentro do nosso próprio apartamento...


Martha Medeiros

2 comentários:

  1. É o que conversamos sempre meu caro, famílias margarina nos cercando.
    Salve, salve, que podemos ter a felicidade de dançarmos em nosso apto, molharmos nossa grama, comermos nosso peixe!!
    bjo prá ti

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  2. Puli!!
    Depois de um atribulado período tentando colocar em ordem o trabalho para sair alguns dias de férias, acabei por não mais visitar o meu blog preferido. Hoje, ao retomar parte de minhas atividades diárias, incluindo aí meus acessos à internet, visitei novamente e blog e vi que postaste o texto que eu te mandei! Fico feliz de ter contribuído um pouco com tuas reflexões, que tanto me maravilham, me inquietam, me acordam de alguma forma para uma nova maneira de pensar.
    Um beijo carinhoso prá ti!
    Saudade

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