terça-feira, 27 de setembro de 2011

PÁSSAROS ARTERIAIS






Compulsaram-se os pulsos.
Posso pedir que pulses? - algum disse.
Pousaram-se, nos pulsos dum, os dedos doutro.
Desnortearam-se os pássaros em ambos,
como se houvesse incêndio na floresta ou eclipse na lua.
Pululavam em conjunto as pulsações, como explica a medicina das paixões.
Mas a medicina ortodoxa não explica o desnorteio dos pássaros de dentro das pessoas.
Dizem outras poesias que esses pássaros têm a cor azul.
(Eu nunca pude ver algum pra atestar qualquer tom ou cor)
Era o pulsar da veia do pulso contra o da veia da ponta dos dedos.
Era um par de dedos tocando,
e outro fazendo charme.
Como fazem os despreocupados com etiqueta quando bebem espumante barata.
Com relação aos pássaros que vivem em nós, não é necessário etiqueta.
Nas pulsasões moravam veias e artérias e ainda outras coisas humanas como os pássaros.
Nas veias corria sangue arterial, que é aquele sangue bonzinho, com vida e oxigênio.
Nas artérias não havia sequer sangue, mas pássaros que cantavam em coro.
E era a batida das asas que se podia sentir.

domingo, 25 de setembro de 2011

MÍNIMAS - 3




Todos os livros de dieta e todos os nutricionistas poderiam ser queimados se as mulheres aprendessem que o alcoolismo tira a fome e evita aquele queijo espesso que sobra nas mãos da gente durante o sexo. Eu prefiro as médias. As gordas, as raquíticas e as que acham que tem um pau maior que o da gente, essas não tem viabilidade nenhuma senão aos desesperados.

 
*


Em time que está ganhando se mexe, mas só um pouco, que é pra fazer o time permanecer ganhando por mais tempo.


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O problema básico das mulheres é que querem atenção. O dos homens também, mas em ocasiões mais excepcionais como uma perda profissional ou uma carência fantasmagórica de sexta à noite. As mulheres querem fazer da vida a dois uma obra de arte. E nós, artistas da paciência, temos que obrar com mentira quando a parcimônia está em falta no nosso estoque. Que a honestidade possa estar em promoção no buffet de atributos das almas futuras.


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O caos merece muitas das honrarias que, desavisadamente, foram parar na sala de prêmios da ordem. O caos funciona como marco zero, como instituidor do novo, como a flecha que só se completa como flecha quando encontra uma carne quente ou um alvo milimétrico. Os antigos, os religiosos e os contemporâneos, falam de mil maneiras diferentes que é o destino o território das pulsações e, portanto, da verdade fajuta que nos compete como humanos. O caos mostra por meio da desordem que a metade das verdades vêm sempre depois...antes, não nos é cabível sequer usar o vocábulo.


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É a transitoriedade a grande culpada pela imperfeição dos julgamentos.


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Humildade e honestidade são atributos humanos que se odeiam. Atrás de olhares ternos e benevolentes, estão vaidosas miradas às nuvens.


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À noite, o sexo é dos burocratas que acreditam em calendários. De manha, trepar significa crer no amor dos filmes. Mas quando alguéns trepam de tarde, é porque existe verdadeira fidelidade. Não há como ser fiel sem a intimidade da tarde, sem a subversão corriqueira do tempo.


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Estou – mais esta vez – de acordo com Bukowski: estar entre tantos suicidas que morrem de medo de morrer, é estar entre covardes.


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A solidão, em regra, é uma terra do nunca em que existe apenas uma regra: respeitar o fato de que a tolice tem absoluta certeza de que a tolice é dos outros.


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Engana-se quem pensa que deixamos o útero com o parto. É pelos idos da meia idade que conseguimos nos livrar da sedução uterina e caminhar em direção à sensualidade da morte.


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Os sadomasoquistas sabem que as dores da carne anestesiam as dores que não pertencem à carne. Não deixa de ser uma maneira de cruzar altaneiramente as mais insuportáveis dores.

sábado, 24 de setembro de 2011

EXPLICAÇÕES CELESTIAIS

EXPLICAÇÕES CTÔNIAS




"...Feliz aniversário. Natal. Ano novo. Isso é a mais doente de todas as coisas doentes...Eu me suicidaria se tivesse que participar disso. E agora, vocês fazem as perguntas e eu dou as respostas..."

terça-feira, 20 de setembro de 2011

O PROVINCIANISMO USA GEL BOZZANO

Sinto nada. Não sinto nada aqui. O aqui é a cidade em que eu nasci. Não sinto a cidade em que eu nasci. Sinto, estando nela, um grande deserto. Um vento uivante distante como as coisas que são longínquas como as tumbas dos cemitérios. Na cidade em que eu nasci não se pode usar chapéu nos bares e nas ruas. Nas ruas, a intolerância é um olhar de reprovação, é um "bico torto". Nas ruas é melhor ser como a mediocridade cristã e pagã determina que se seja. Nos bares, usar chapéu é tão nefasto e proibido quanto fumar cigarro em lugares fechados. Qualquer espécie de desvio em circunscrições provincianas faz um mal danado aos pulmões das gentes médias e coletivas, que estão desde sempre domesticadas com a fumaça falsamente clara e saudável da moral.

A moral, como já disseram tantos e tantos não lidos pelos provincianos da cidade em que eu nasci, fode o rabo dessa gente maniqueísta que acredita que o julgamento do vizinho é uma espécie de postulado moral por excelência (ideia próxima àquilo que Kant chamou de imperativo categórico) que deve prevalecer sobre os desejos personalíssimos de todos que são vizinhos dos vizinhos. A metavizinhança acaba retroalimentando a miséria das províncias que, mesmo com a invasão da internet e das TV's a cabo do mundo, acabam não conseguindo parar de correr atrás do próprio rabo (ou do rabo do vizinho). Aliás, a falácia da mundialização da informação pode ser vista nesses pequenos condados medíocres como é a cidade em que eu nasci. Quando apenas é a miséria interna que se projeta no objetivismo exterior, não há mudança significativa que ocorra. Esse é um problema dos ocidentais, que querem modificar a plantação adubando a terra, sem prestar atenção à saúde das sementes. Internet e tv a cabo por quê, se tudo se resume à assistir o Bonner, o futebol de domingo e vigiar as frestas do vizinho pelo facebook.

Não tenho pretensões de que meu discurso seja bem quisto. Não vejo saída à mediocridade senão por meio da tragédia. Precisam perder filhos em acidentes de carro, precisam de grandes choques existenciais para que um terremoto interno seja capaz de balançar as estruturas fixas e pesadas que levam nas costas, como se fossem Sísifos-besouros que arrastam eternamente o próprio bolo gigante de merda. Deixam de perceber a atraso de suas percepções animalescas, lhes falta outra cor além do cinza para que possam enxergar a multiplicidade, a paradoxalidade que até a ciência já detectou.

Na cidade em que eu nasci existe um atraso de aproximadamente 600 anos. Em relação às vestes da moringa, ainda são medievais. Na Idade Média, quando o Deus cristão institui a onipresença da verdade por intermédio dos pastores que tocavam punheta no banho feudal, os fiéis tiravam seus chapéus quando entravam na Igreja em sinal de respeito ao grande Deus que, por ter o atributo de estar em todos os lugares ao mesmo tempo, flagrava os padres tocando bronha em homenagem aos coroinhas e às camponesas de bucetas provavelmente peludas e insuportavelmente fedorentas. Meus devires medievais trazem até meu nariz colossal os odores piscianos das bucetas do feudalismo.

Se as bucetas melhoraram de lá pra cá, nos bares da cidade em que eu nasci pouco mudou em relação ao ritual do chapéu. Usá-lo é crime de lesa majestade à saúde da homogeneidade. A diferença continua sendo um espinho que atravessa as carnes morais dos provincianos. Claro que a crítica não pode ser generalista, mas, como sou junguiano, acredito no caráter coletivo da consciência dos lugares. Resumo da ópera: fui agredido por um troglodita medieval por usar o chapéu que me apraz e que eu levava na MINHA moringa. O troglodita não era um segurança que não pode estudar, mas o próprio dono do lugar.

Os medievais contemporâneos como esse imbecil ainda vivem na lógica darwinista: seleção pela melhor capacidade. Mas como, em geral, leem pouquíssimo e fazem de suas vidas um jogo pueril que no mais das vezes se resume a futebol com amigos, bebedeiras e brochadas burocráticas resolvidas à base de viagra com a esposa que eles traem na zona pensando que são os caras mais espertos da paróquia medieval líquida, continuam acreditando que força e tamanho são poderes insuperáveis. Eu que sou um covarde mas que tenho devires sofistas, usei da retórica pra não apanhar e agora vou altivo buscar minha indenização moral depois de fazer uma ocorrência policial e uma perícia médica. Não acredito no estado democrático de direito senão quando posso usá-lo a meu favor como é o caso. O troglodita precisará pagar um advogado, precisará olhar pra minha cara numa sala de audiências, precisará sonhar comigo mijando em cima da sua própria cabeça de vento, precisará me pagar alguma coisa. O lastimável é que nada disso vai mudar o troglodita, o que escancara a falência do estado de direito enquanto locus de reeducador da conduta humana. 

Minha terra natal não aceita meu chapéu. Eu aceito cada vez menos minha terra natal. Nas terras do nunca, que são todas as que estão fora dos muros invisíveis da aurea mediocritas, os chapéus não agridem ninguém. Na verdade, meu chapéu representa a provocação à sensação de segurança que a estabilidade histórica traz. É mais fácil repetir o legado familiar do que instituir modelos novos. A psiquiatria sabe muito bem que do misoneísmo só escapam os que conseguem compreendê-lo, que meus conterrâneos visitem o dicionário e meditem.  Vivem na lama da homogeneidade, esta esquizofrenia coletiva que forja a sensação de segurança. Ainda precisam perceber que quando todos são bárbaros, é a civilização o exército inimigo. Depois desse insight primeiro, se está apto a perceber que a dicotomia não existe senão no reino das fantasias racionais (e medievais), que fazem das consciências provincianas, um sóton maculado por teias de aranha e outras coisas peçonhentas. Na terra em que eu nasci, as esposas continuam depilando o cú, os padres selando casamentos mentirosos e os homens de bem usando gel bozzano no cabelo.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

uma madrugada



2 da madrugada.
Eu escrevia.
Ouvi gritos da rua, era uma mulher.
Gritava com todo o pânico que a voz podia.
Pedia socorro.
Corri na janela.
Vidros se estilhaçaram.
As janelas dos apartamentos brilharam,
uma a uma, com as luzes acessas.
Outras janelas viam tudo do escuro com seus inquilinos medrosos.
Os gritos da mulher seguiam.
Ninguém podia ver nada, dos edifícios da frente e dos lados.
Outra vidraça se quebrou.
A mulher clamava por socorro,
como se estivesse diante do diabo.
Alguém disse ter visto o ladrão.
Eu não via nada, mas assistia tudo.
Era o palco flagrante da vida,
que ia sendo assassinada em flagrante.
Os piores flagrantes são os que não se permitem aos olhos quando estão acontecendo.
Um homem herói jurou morte ao ladrão pelo ar escuro da noite.
Ele vestia pijama azul, falava do 5º andar...
e é provável que fosse o mais cagão entre todos os vizinhos.
Outro herói desceu com lanterna e revólver na mão.
Deve ter visto todos os filmes do "Máquina Mortífera".
O Mel Gibson copman é o sonho de todo nazista homossexual contemporâneo.
Ninguém podia ver nada.
Alguém mandou alguém ligar para a polícia.
Era uma comunicação entre as janelas nunca antes vista.
A solidariedade pelas janelas vizinhas.
Uma solidariedade que protegia os solidários do suposto ladrão, assassino, estuprador.
Uma senhora que estava caindo aos pedaços ligou para o 190.
Fechou o chambre tentando evitar a dor alheia que urrava pelo vento.
Eram gritos de uma mulher como ela, de um ser humano como ela,
quase insuportáveis aos ouvidos da velha,
que só gaguejava pelo telefone com o policial.
A velha tremia.
Deve ter sido bolinada pelo pai alcoolatra quando criança.
Ver que o ser humano treme ante a bestialidade de sua condição é um espetáculo.
E eu nem precisei pagar ingresso nenhum.
Todo o show era grátis, da janela do meu quarto.
A grande virosa  humana ali, para quem quisesse ver ou estivesse acordado na madrugada.
A madrugada é a subersão das 24 horas.
A madrugada é o surrealismo do dia,
é o aurora da escuridão dos sonhos.
Os olhares dos outros eram curiosos.
Antes estavam todos dormindo,
tinham caras de sono e de casamento.
Teriam que trabalhar no dia seguinte
pra que não precisassem ser ladrões durante a noite.
Iam acordar, tomar banho, vestir suas roupas, comer suas torradas sem gosto e ir pro trabalho.
Trabalhar é preciso pra que se possa ter onde dormir.
Dormir é preciso pra que se possa trabalhar.
É assim que vive-se incessantemente aventura da vida...
A vida toda se resume a isso...
com algumas sobremesas como as férias ou as trepadas de sábado a noite.
"Todos os maridos funcionam regularmente, porque é sábado", disse o Vinícius de Morais.
Os trabalhadores e os ladrões se identificam na necessidade de ter necessidades.
Ambos necessitam.
Resolvi dar outra volta na chave da porta,
ser covarde cansa menos.
Não tenho pretensões heróicas.
A convivência terráquea anda de mal a pior.
Todos estavam desesperados.
O ladrão também.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

PARTIDO DO PINTO POÉTICO - 1o libelo


- Scarlet admirando o próprio rabo em novíssima performace que vazou na rede virtual e mundial e internacional-
Scarlet é sinônimo de uma mulher que, se fosse homem, certamente poderia ser membro do PPP.

É importante que a mulher, no futuro, esteja fora do peso e com os peitos levemente caídos, exatamente como vai acontecer com a Scarlet. Essa gordurinha do futuro dela é encantadora.


 Provável que esta seja uma manifestação histórica. Nunca antes na história desse país uma ideologia política poderia arrebanhar tantas identidades. Aviso de antemão que em breve (ou nunca) me candidatarei a algum cargo político. Quero experimentar a política para sofrer ameaças de morte no segundo dia de mandato. Quero cutucar a onça com o dedo minguinho, que é o mais curto depois do mata-piolho. Não lembro do nome de cada um dos cinco dedos (pai de todos, furabolo, matapiolho etc.), então, se alguém lembrar, peço gentilmente que me comunique. Minha promessa será prometer que não vou melhorar a vida de ninguém. É que sou um homem honesto, que gosta de cumprir com as promessas que faz.

O partido, porque ainda não existe, terá que ser criado. Isso porque o partido necessário para a minha candidatura ainda não tem equivalentes entre os existentes. Deve ser fácil abrir um partido político. Preciso ver os trâmites e a papelada toda. Vou chamá-lo de PPP – partido do pinto poético. Explico: o pinto da maioria dos homens é poético. Poético é um jeito de dizer que os paus de quase toda a gente são paus equilibrados, sem exageros de estilo, sem carnes em excesso. As pesquisas comprovam que os paus que mais existem, são os paus comuns. Fique feliz amigo! Você tem muitos companheiros silenciosos de jornada. O problema todo é que estamos na era do desempenho olímpico de tudo. Temos que ganhar grana demais, temos que foder como uns exterminadores do futuro que salvam o presente, temos que comer apenas grão de bico, temos que ter beleza pra se comer no café no almoço e na sobremesa. Temos, por silogismo, que ter paus astrológicos: grandes, duros e longínquos como os planetas.

Nesse sentido, sou ainda um moderno e um nazista. Como moderno acredito na viabilidade e na força das maiorias, como moderno quero que as exceções se fodam. Como nazista, acho que todos os caras com paus de tamanho japonês e todos os caras com paus planetários, deviam morrer. Todos com guilhotina que é pra que as cabeças fiquem bem separadas. Nós, elite majoritária de paus comuns e, portanto, poéticos, tomaremos o poder. Somos o Cérebro da dupla Pink e Cérebro. Temos a cabeça do pau inchada de poesia para as tristezas femininas, e, por outro lado, um inchaço sanguineo satisfatório para as saúdes do prazer-mulher. 

Faremos propaganda demonstrando os benefícios terapêuticos de um pau comum. O pau comum é o futuro da terapia e da medicina holística. Não machuca na entrada e é discreto na saída. O pau comum é um gentlemann. É garçom de restaurante caro. O pau comum pode ser um bêbado quando a mulher quiser beber e um lorde quando a mulher quiser lordear.

Os pintos de japonês, sem comentários. Acredito que as legislações orientais deveriam considerar como legítima defesa a conduta das mulheres que pedem divórcio no oriente. Os pintos grandes também merecem desprezo, convenhamos. Minha anima intuitivamente afirma que paus grandes ou são pobres, ou são canalhas que não sabem mentir, ou tem complexo de édipo inflacionado...

Às mulheres, cabe escollher. De qualquer forma, já existem dados suficientes pra se concluir que, em geral, os pintos poéticos vencem. E vencem sem nenhuma arrogância de jeito, mas porque os pintos comuns sabem dormir quando é hora de dormir e sabem que não se deve ligar muito, que é para presentear com dúvida. As mulheres não tem tesão por pau grande, mas pelas grandes dúvidas, que até podem ser, excepcionalmente, em relação próprio tamanho do pau...mas só excepcionalmente. A maioria das mulheres têm dúvidas maiores - este também é um dado científico-empírico-político-filosófico-espírita-mitológico. 

Eu até tinha pensado em batizar o partido de PPC – Partido dos Pintos Comuns, mas aí pensei que ficaria muito parecido como o PCC da bandidagem e que seria uma estratégia de marketing equivocada, já que bandidagem não combina com política no partido que pretendo propor ludicamente se a preguiça for tanta a ponto de me escravizar às palavras que não acontecem. As palavras, quando bem ditas, cedo ou tarde acabam acontecendo. Voltando à badindagem, é possível que a bandidagem da espécie política seja um câncer que pode ser exterminado com uma quimioterapia poética.

Por essas razões simples, o mais adequado acabou sendo chamar de PPP – partido dos pintos poéticos. A repetição de “p’s” é uma boa jogada de marketing, tal qual as rimas das poesias ruins dos poetas medíocres. Tem poesia medíocre que acontece por aí que dá tristeza na alma.

Fique tranquila leitora, homens com pau poético sabem fazer gozar. Os integrantes do nosso partido são médiuns do prazer. Sabem que é preciso ser um espírito que assopra nos ouvidos alguma mentira que deixa de ser mentira porque é a verdade do presente. Os homens de pau médio sabem dos múltiplos toques e dos territórios que existem além do território das carnes. São cartófrafos do prazer espiritual, porteiros da realidade honesta.

A equivalente feminina do homem de pau comum ou médio ou poético, são as mulheres equilibradas entre a gostosura da mais in-crível fantasia e a pior tormenta que pode aparecer diante dos olhos. Claro que o caráter exterior é imprescindível. De qualquer forma, às feias, peço que se tranquilizem. Sempre tem um japonês ou uma anaconda à sua espera. Os paus médios são presentes de Deus às mulheres que serão gordinhas com 45, e vice-versa. Aristóteles estava certo quando falou que ser equilibrado era o melhor caminho pra viver bem. Oxalá Ari! Tu que, por certo, nunca esteve aqui.

Os homens do PPP não têm as maiores ereções, é verdade, mas são os únicos que têm as ereções poéticas mais inchadas e roxas como beringelas de fios quentes de sangue fresco. O partido conta com os dados do IBGE...dados do IBGE? Ai eu pergunto: como é que as pesquisas comprovam que o tamanho médio do pau dos brasileiros é de 15 centímetros? Eu nunca participei e não conheço ninguém que tenha participado de uma pesquisa desse tipo. Imagine uma equipe de pesquisadores na praça Sé em São Paulo pedindo que os transeuntes tivessem ereções relâmpago para que se pudesse medir o tamanho da bigorna do brasileiro.

A mídia também será combatida nesse partido, mas esse assunto ficará para o próximo libelo.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

PINHEIRINHOS NÃO NATAL

As mulheres, por questão de natureza, são como os pinheirinhos de natal. A diferença é que pra quase todas elas, o natal acontece o ano todo. É como se elas pudessem usar permanentemente as bugigangas que carregam usando a mesma desculpa esfarrapada dos filhos que não querem comprar presente aos pais no dia dos pais, sob o pretexto de que todo dia deve ser celebrado como dia dos pais... É assim que elas se mantêm natalinas e festivas nos doze meses do ano. Cheiros e ornamentos são masculinos na linguagem, mas femininos na essência. Fatalmente, algumas mulheres são como os pinheiros de natal, cheias de bolinhas espelhadas e coloridas, adjetivos, fumaças de cores, penduricalhos, decorações. Apelidei a minha mulher de pinheirinho porque ela é como um, com uma bunda mais gostosa, porém.

Eu bebia meu vinho e minha santa paz. Ela começou a indicar com sinais e cheiros e olhares que era hora de treparmos. Não me opus. É difícil que um homem negue uma trepada que esteja à disposição sem que se tenha que fazer esforço. Ela começou a tirar pacienciosamente os penduricalhos, as correntes, os anéis de todos tipos, as pedras correspondentes ao signo dela, os brincos do brechó, outras correntes menores com pingentes e dentes da sorte. A pobrezinha corria risco de morrer enforcada se alguma corrente daquelas engatasse sem querer numa quina qualquer da casa. Foi desabotoando os panos, frouxando as alças. Arreando as segundas e terceiras peles. A calcinha ficava embaixo de tudo, como um santo graal que guarda o cálice santo da eternidade cheio de baba de buceta.

Era a mesma cena de 6 de janeiro, quando as crianças e as mães desarmam o pinheirinho de natal enquanto os papais enchem a cara de cerveja e comem as amantes em motéis de 30 reais. Em outros países, onde o Natal é menos  Coca Cola, as crianças recebem os presentes no dia 6 de janeiro pelas mãos míticas dos três reis magos e seus camelos sedentos. Não é à toa que as crianças deixam 3 vasos de leite e 3 copos de água na noite de 5 de janeiro: querem contraprestar os presentes trazidos pelos reis e pelos camelos. Nós que pertencemos à cultura natalesca Roberto Carlos/Coca-Cola, acabamos recebendo os presentes no dia 24 de dezembro, o dia que eu propositalmente nasci, enviado pelo destino. Lembro que uma vez um tio religioso pediu a palavra e começou a palestrar que o dia 24 de dezembro era importantíssimo, já que era a data de nascimento de um menino muito diferenciado, especial etc. Estufei o peito achando que era eu mas na verdade ela falava de Jesus. Pode ter sido por isso que passei a travar uma briguinha pueril com as religiões, afinal, Jesus tirou meu lugar no dia 24 de dezembro. Sempre comi o bolo de aniversário com Jesus.  

O monta-e-desmonta de pinheirinho pega bem só na propaganda da Coca. Na vida real, montar o pinheirinho é um pé no saco. Tirar aquela caixa de papelão imensa de algum canto empoeirado da casa. Pegar as caixas com aquelas bolas que vêm da China, luminosas, sempre desparceiradas, vagabundas. Na China parece que os chineses trabalhadores se fodem pra fazer essas bolas de natal, trabalham nos feriados e ganham 1 centavo por cada tonelada de bolas produzidas. Uma merda completa pra eles que são os responsáveis por iluminar os nossos pinheirinhos de natal minados de presentes burocráticos.

Os presentes de natal são o maior embuste das famílias que, no fundo, se odeiam. Mesmo se odiando, por vontade de redenção e desejo de paraíso, fingem amor. Todo ano é a mesma porcaria: depois de passarmos o ano todo criticando os apêndices da família e mesmo os familiares que não nos são tão familiares assim, desejamos falaciosamente que todos eles tenham saúde e prosperidade. Uma hipocrisia filha da puta. Todos os natais são os momentos rituais e solenes das pessoas que se gostam pela metade. Natal é hipocrisia materializada pela mão do hábito que virou cultura, é sorriso forçado pelo estado de necessidade e pertencimento, é a foto que se repetirá só no próximo natal, com cabelos mais brancos, rugas mais fundas e gentes mais mentirosas ainda.

Dividindo espaço com os presentes burocráticos, está o presépio e as ovelhas que só não cagam no pátio do pinheirinho porque são de gesso. Tem também aquelas plumas de papel celofane cafona que se coloca ao redor do pinheirinho. Os ricos não gostam de usar bolas, mas cajados vermelho e branco ou caixinhas de presente feitas por algum hippie fodido que adora Raul Seixas. No fim, os penduricos são iguais porque todos servem pra nada. Isso sem falar nos galhos do inferno. 120 galhos soltos que devem ser encaixados num buraco encoberto e invisível no tronco-mor do pinheirinho.

O Natal deste ano ainda virá, mas aqui no meu mundo era 6 de janeiro em um agosto qualquer. Era a hora do meu pinheirinho se desfazer. Subverti as datas porque em mim o calendário é menos totalitário, como quase tudo. Meu pinheirinho é menos hipócrita que o pinheirinho cristão porque posso trepar com o meu. Dadas as circunstâncias, prefiro ver a nudez do meu pinheirinho quente do que esperar pelos presentes gelados de natal. Ela se desfez na minha frente e foi pra cama. De lá gritou pra mim dizendo que estava com frio. Agora os deixo, aqui é 6 de janeiro de um agosto qualquer e preciso desmontar meu pinheirinho com uma ejaculação precoce. 

terça-feira, 6 de setembro de 2011

TORRA TORRA DE ILEGITIMIDADES


Foto da amiga e fotógrafa Nina Paludo, o novo olhar revelado, legitimado, encaminhado, remoçado.



Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho:
O valor está ali, nos meus versos.
Tudo isso é absolutamente independente da minha vontade.

Alberto Caeiro




Só os gênios podem
vencer a falácia
da humildade para poder declarar:
“eu sou um gênio”.
A vontade é de poder,
simplesmente.
Querer poder não é odiar competidores,
mas saber que amar os outros é um tema de casa.
Querer poder não é encharcar-se de soberba,
mas enobrecer cada cena da existência.
Querer poder não é desejar o trono,
mas distribuir saídas para quem não as têm.
Querer poder não é menosprezar o amor,
mas aprender a ter menos medo da eternidade.
Querer poder não é prever o porvir,
mas ajudar a tirar as pedras do futuro.
Querer poder é querer saber-se.
E há quem se saiba sendo isto,
aquilo ou nenhum e nenh’outro.
(essas aspinhas no meio da palavra é pra dar um charme,
como se as aspas fossem os paetês de um belo vestido).
Mas, voltando ao antes,
qual é o pecado de querer saber-se e, afinal, se der certo, saber-se?
Encontre seu poder,
vá até a sua banca de poder mais próxima.
Aproveite a promoção do fim do mundo:
TORRA TORRA DE ILEGITIMIDADES.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O MEL É O CIO DA TERRA







Andei pensando muito na poesia.
A poesia, lhes conto,
é um gnomo que nos convoca pra uma floresta colorida e encantada,
dessas que aparecem nos desenhos animados mas com o acréscimo de estar
cheia de virgens e gostosas com calcinhas pequenas e bundas firmes.
Ah, e claro, loucas pra dar e fingir que amam a mãe da gente.
A poesia é uma gostosa querendo dar pra gente.
Nesse sentido,
minhas mulheres têm a vantagem de ser trocadas por poesia e não por outra vagabunda.
(Para a mulher da gente, todas as outras mulheres - à exceção da mãe da gente,
da irmã da gente e da própria mulher da gente - são vagabundas.)
Melhor, então, que eu as traia com poesia.
Melhor que eu as traia com poesia?
Não, descobri que as mulheres têm ciúme também da poesia.
Se for caso de poesia, deve ter hora marcada e comunicação prévia,
que é pra evitar que ela faça as unhas sem necessidade.

(Agora um parênteses...minha perna, que se deita desta cadeira donde estou pra cadeira da frente donde não estou, treme estranhamente. Não sei se é a fome, a bebida ou um espírito que sentou no colo da minha perna – eu já não ando duvidando de mais nada, melhor considerar tudo como possibilidade que é para as possibilidades que vivem em nós aumentarem. Considero tudo verdade verdadeira provável ou improvável, afinal, todas as coisas são mesmo verdadeiras, provável ou improvavelmente).

Mas, voltando ao antes, lhes digo:
Essa é a minha habilidade -
viver entre a vida e a poesia.
Sei que do lado de cá, apodreço.
Sei que do lado de lá, enlouqueço.
Sou flungiston, sou o crepúsculo e a aurora,
nunca o dia ou a nunca noite.
Sou o imberbe com alguma barba.
Sou sem partido.
Sou sem paixão.
Sou sem sonho de revista.
Assassino das minhas próprias faltas.
Cometedor de minhas poesias.
Estuprador das minhas culpas.
Pastor das dúvidas que tenho.
Controlo minhas poesias como um peão que segura os bois com cavalo e berrante.
E, se acaso alguma me escape do rebanho,
a anistio de imediato,
com toda delícia e premonição bendita de que encontre melhor caminho.
Sonho é como filme:
se for bom, prefiro lembrar.
Sobre sonhar, sigo sonhando (e rezando) que os sonhos sejam a realidade...
Enquanto minha prece ainda é coisa do futuro,
me viro com poesia.
E volta e meia, ao meu bel prazer,
cometo cometas no céu dos meus versos higienizantes.
É que me comovi com uma moça que dizia que a poesia era o contrário do tumor.
Imagine só, a poesia ganhando espaço na prateleira da farmácia.
Oficinas de poesia nas farmácias, ensinando enfermo e enfermidade a poetar.
A poesia nas farmácias é um capítulo do futuro.
É definitivo: além de anestésico da alma,
a poesia é o mel do pensamento.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

ESCREVER É UMA PUTA QUE CHUPA O PAU DA GENTE



Esse era pra ser o comentário dessa poesia verdadeira ai de baixo. Mas se não quiser saber, peça a Deus pra ele evitar dissabores na da sua vida. Todas as religiões e as gnoses espirituais dizem que funciona. Bom, a ideia é a seguinte, aproveitando que escrever pra uma revista tem que servir pra alguma coisa, pensei que essa revista deve querer ser megalomaníaca (é que vou escrever numa revista ai que pelo que sei é livre e plural, então ótimo!).

Acho que podemos dominar o mundo com essa revista, mas parando pra tomar um vinho, respeitando a preguiça, a impaciência e a TPM (caso você seja uma mulher). Se não servir pra mais nada, vai servir pra ajudar a alma de quem escreve nessa revista, num jornaleco qualquer, num blog visto por meia duzia de afixionodos ou num papel de pão pra listar as compras do mercado. 

Digo isso porque escrever é uma como uma dose de morfina que a gente precisa sempre que a dor de existir começa a carcomer os filetes de carne da nossa alma. Claro que se você não tiver nenhuma dor, pode inventar alguma, que é pra vida ter um pouco de graça. Suavidade, fora da poesia, é coisa de nuvem. As nuvens são a coisa mais “morocochô” que existe no céu, parecem aqueles bicho preguiça insuportáveis de zoológico.

A vida das nuvens deve ser sem graça, convenhamos. Ficar lá, perambulando pra lá e pra cá, que nem um idiota. Deve dar ânsia de vômito como também dão as escunas. Escuna é sinônimo de vômito. As escunas só prestam nos folders de agência de turismo.

Mas mesmo não sendo nuvem, imagino que a mensagem das nuvens deva chegar ao máximo de gente possível. Por exemplo, agora mesmo acabou de apitar o forno anunciando que a pizza congelada que eu quebrei pela metade pra fazer está pronta, linda, queijosa.

Só que não sinto fome. Aí a pizza acaba ficando parada dentro do forno até amanhã, endurecida, plastificada, pálida, em estado vegetativo. Dá preguiça de ir até a cozinha buscar a pizza. Escrever é melhor que comer e pensar melhor que escrever. De qualquer jeito, quando dá vontade de trepar, não tem jeito. A escritura é uma puta cara e gostosa que fica chupando o pau da gente.

Uma saída boa é beber. Beber alimenta e evita que você tenha que ficar levantando pra pegar os talheres e todo aquele equipamento de produzir cocô: garfo, faca, prato, guardanapo (se é que você não prefere limpar na blusa como eu), taça vagabunda, o vinho mais vagabundo ainda. Como são saborosos os vinhos vagabundos. E o são porque eles não têm nenhuma regra, já nascem mortos pelo destino, como os pobres e os penitentes.

A única regra de um vinho ruim é que ele é um vinho ruim. Não se pode contestar a uva, nem a safra, nem porra nenhuma, ele é apenas um vinho ruim. E, por isso, é um vinho de fácil trato, simpático a todos.  Bom, se você estava ou está esperando um final feliz, foda-se daqui.

MÍNIMAS - 2



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O vinho é o sangue da terra. Quem toma vinho é carnívoro.

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Ser solitário é ter a benesse da confiança das mulheres. As mulheres sabem por intuição, não precisam se foder de tanto estudar como nós. E quando algum homem é sabidamente um ser solitário, acaba comendo todas as mulheres que sabem que não é de interesse de um solitário espalhar por aí que comeu fulana ou ciclana. 

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Alguém disse: “namorar é legal quando a gente é correspondido, né”.
O outro disse: “eu não correspondo...acho que meu mal é não corresponder”.
O Alguém redisse: “nossa, como você é frio”.
O outro redisse também: “não sou frio, apenas não tenho temperatura”.

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O mais importante a ser ensinado é que o mais importante é tomar muitas taças.

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Dionísio o é por ser inoperante, bêbado, livre e indiferente.

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A filosofia é a loucura da razão

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Trabalhar é uma merda. Mas se você tiver enchido a cara até tarde da noite, no outro dia, trabalhar é uma caganeira completa. Aí, no primeiro abrir das pálpebras, você pensa: “mas que merda”.

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Nós somos todos escravos dos cronópios. Eles ordenam e nós obedecemos. Inclusive me mandaram escrever esta frase. E sim, estou louco. Mas louco de mentira, que é pra não parecer que sou louco de verdade... porque, na verdade, não ex-tou.

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Lobão sabe que o quê Freud quis dizer é que todas as mães são putas. Acho o Freud muito mais doente mental do que o Lobão.

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Roubo qualificado é quando alguém assalta a própria intimidade de alguém que quer permanecer na sua própria intimidade.

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Sobre intimidade, deve-se dizer que pensar é mais íntimo que cagar. Eu sinto uma vergonha danada de pensar de porta aberta.

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Até os dias de hoje, não há notícia ou registro de um casamento que tenha tido o amor como justificativa.

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Encontrei todas as soluções, não resolvi nada.