sexta-feira, 28 de setembro de 2012

o inferno




Descer o inferno é satisfação de uma escolha.
É praticar a metafísica avessa do arbítrio.
O ingresso é uma navegação para o outro mar,
turvo e caudaloso que flerta com a água clara e seduz as aves sem ninho.
E o prelúdio é um remo de aço em braços fracos e flácidos e petulantes.
A arrogância é o cheiro do incenso que se fuma num altar.
Depois voar pela lua nova refletida nas nuvens tempestuosas das coisas que meditamos por força do arrepio do vento e do medo.
Comer o banquete de carne de porco mal cozida e café gelado como provação.
O inferno é o parque de diversões de quem descobre que a escuridão é o primeiro sentido da luz.
Do esconderijo do útero até o último passo do fenecer, haverá agenda no inferno.
E a certeza solar da vida mais ainda será depois que ser for e voltar.
Quem volta deixa um bilhete subornado e o passa entrededos corruptos.
O assunto é um alerta para a cruzada do peregrino subterrâneo.
O inferno acaba apenas na metade para quem volta de verdade.
Está escrito assim:



Lembra que tua ida curiosa será tua volta cansada.
Lembra que o retorno é pulsão de prudência.
Lembra que não é conveniente que se recupere fôlego nas entranhas do inferno.
Lembra que o inferno não perdoa os que param


– diz o bilhete, que acaba com uma vírgula e um borrão na última parte. 

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

a livraria é um salão de beleza metafísico






Nas livrarias, é outra a lei do desejo macho. Lá as mulheres ficam ainda mais deliciosas. Mesmo com unhas encravadas, têm unhas feitas. Mesmo com furículos que se escondem na calça, ficam com a bunda arrebitada e dura, essa grande fonte de esperança. Mesmo desgrenhadas, têm o cabelo perfumado e liso como uma pele de depois do banho. Se estiverem nas prateleiras marginais, ai sim é que ficam muito gostosas. Se não estiverem ao redor dos best-sellers, estão ainda mais disponíveis, rodando com camisola de seda, sem calcinha nem sutiã. Numa livraria as ruas marginais são avenidas com putas ao contrário. E quando elas dão mais atenção ao livro que flertam do que ao nosso olhar que sustenta uma boca que baba, então são rainhas. A livraria é um salão de beleza metafísico.