domingo, 8 de novembro de 2009

As cores das paisagens distantes


ENTREMONTANHAS

Estás certa, como não haveria de estar! Em alguns tempos é preciso estar afeita ao cinema, ao teatro e à literatura das terras de lá e de longe. É necessária alguma loucura, algum pedaço de fruta sem nome e um olhar além da fronteira. Estás certa! Sim, estás certa, como não haveria de estar. Tens mesmo é que sentir os cheiros novos, ver se o arrepio dos pêlos, o frio e as nuvens são iguais aos que já conhecias. Provar o gosto da longitude. Enxergar os olhares tristes dos animais que aí sofrem, sabendo que antes é preciso olhar para as gentes. Alternar tua alteridade. Enxergar-se e mudar-se. Nesses tempos é preciso olhar o que nem a luz pode iluminar. É preciso se encontrar sozinha no vão do escuro. Ver o claro que existe quando se acendem as interioridades. Tens que saber ser sensível e também amortecer a consciência. Podes até queimar, desde que aguardes o tempo rei a fazer cura do ardor. Tens que viver dos poetas. Do lirismo. Dos versos. Do sereno bucólico das flores. Tens que não esquecer que é preciso desprender-se dos deveres e casar com teus quereres. Por isso tudo estás certa, como não haveria de estar! E depois, com o aplauso ensurdecedor de duas mãos em contato, terás que me contar que cores têm os arco-íris que teus olhos doces enxergam entre essas montanhas.

* Pintura de Amedeo Modigliani (1884-1920)

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