terça-feira, 26 de abril de 2011

O que só existe como saudade não existe fora dela! O que só se vê de olhos fechados pertence aos túmulos e às mãos do poeta...e só...e é preciso a benção dessa percepção.




É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento
das horas ponha um frêmito em teus cabelos...
É preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, no ar, a trevo machucado,
as folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo...
Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade para eu sentir
como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida...
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato...
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te.



Mario Quintana, ensinando a sorver o deveras doce ar das mortes.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

segunda-feira, 18 de abril de 2011

FABULÁRIO DE UMA FAXINA


Fedor insuportável e sensação de que se vive num hospício são sentimentos constantes pra quem mora sozinho. Minha faxineira sumiu e a coisa começou a degringolar. Ela me enganou. Elas dizem que vem, e acabam não vindo. Vagabunas de merda. Vai ver ficam com preguiça e, se for por isso, tudo bem. Quando alguém vai inventar um site de faxineiras? Ta aí uma boa ideia! Se alguém quiser roubar a ideia fique à vontade porque eu não tenho saco para os negócios. Deixo isso pros sapientíssimos administradores de empresa e outros porcarias burocráticos do tipo.

Da última limpeza até o dia D passaram-se uns 20 dias. Sim, 20 dias. E não mexi um dedo pra arrumar nada durante os 20 dias. Falta de tempo, preguiça e esperança de que uma faxineira chegasse por teletransporte foram deixando a coisa se aproximar do caos. A casa tinha virado o chiqueiro de um porco-mor que era eu. Também funcionava como um teste pra um cara que tinha sido criado com o modelo de que as coisas tinham uma ordem. Ficar em paz no meio do caos é um bom exercício pra aquisição do atributo da psicoliberdade, conceito cardinal de um projeto em andamento que será comentado aqui. Ou não será comentado aqui.
Tinha uns tuchos de cabelo espalhados pelo chão que pareciam ácaros aumentados no zoom 100x. Quem já viu uma foto aumentada de um ácaro sabe que estou falando de um verdadeiro pandemônio microscópico que causa um tsunami no nariz de um alérgico como eu. Às vezes penso que o meu nariz, que já é um cotovelo, nasceu APENAS pra aporrinhar a minha vida. Funga, coça e produz cravos que devem ser bem parecidos com merda de ácaro. Queria um nariz destacável, que pudesse ficar coçando fora de mim.

Um farináceo de sujeira composto por farelo multi-origem, pó, areia, pêlos também multi-origem, restos de comida e restos de pele morta que servem de alimento pros ácaros pandemônios; ficavam grudados na palma do pé enquanto eu caminhava descalço pela casa.

Uma borda seca de pizza tava há 5 dias no mesmo lugar da sala, pensei até em dar um nome pra ela mas achei MUITO imbecil a ideia 2 segundos depois que a ideia nasceu. Os sapatos inconjuntos espalhados pela casa com meias fedendo muito depois que o molhado do suor secava. Não tinha mais uma puta cueca limpa. E aí é claro que a gente começa a repetir, sempre selecionando as que estão menos piores. Todo homem já fez isso alguma vez na vida. E pensamos sempre: “bom, hoje não vou comer ninguém mesmo”. Se por acaso pintar um sexo surpresa o negócio é tirar a cueca junto com a calça sem aquele ritual católico de ir devagarinho, no estilo padre filho da puta que quer comer o coroinha e começa oferecendo um pirulito pra depois tentar enfiar o pirulito no guri em nome do nosso senhor jesus que veio à terra pra ensinar coisas boas e técnicas retóricas pra comer o cú dos coroinhas.

Quando as cuecas confortáveis já estão podres, a saída é pegar as cuecas desconfortáveis, aquelas que já deviam ter sido doadas pra que o filho da faxineira sofra com os problemas dela porque ele é um cara que não teve a sorte de ser um espermatozóide com potencialidade burguesa... Algumas cuecas são batizadas pelo diabo que deve lançar alguma magia negra que faz a cueca ficar apertando o saco ou entrando na bunda ou com alguma etiqueta que fica pinicando a pele o dia todo.

Copo limpo também não tinha mais. Passei a beber tudo no bico e percebi que além de ser mais prático, mantinha os copos intactos. A técnica de beber no bico torna os copos dispensáveis. O lençol, já dá pra se imaginar! Tava com uma camada natural de uma banha também natural. Só não tava pior que um lençol que usei no intercâmbio por 6 meses a fio. É impressionante como somos um saco de merda. Pra ajudar esqueci uma caneta marcatexto (será que agora marca texto é marca-texto, marcatexto ou marcattexto com essa porcaria de reforma ortográfica? Ah que se foda essa reforma) aberta na cama que deixou uma enorme mancha verde-limão no lençol. Numa noite dessas acordei no meio da madrugada pra mijar e achei que o fantasma de uma mulher marciana menstruada tava dormindo comigo. Fiquei apavorado até lembrar que a mancha era da caneta.

Nas duas últimas noites antes do dia D, que foi o dia em que me obriguei a limpar a casa porque percebi que a casa estava tirando minha saúde, eu tinha dormido pouco. Com o sono atrasado, viajei pra estudar conscienciologia que é uma revolução que outra hora eu conto com mais calma. Era sábado, 22h, podre de sono e com o cansaço pesando nos ombros. No domingo teria que levantar às 6 pra ir de novo pra merda do curso, que é interessante mas é uma merda porque começa num horário fodido de domingo. Em outras épocas eu ia me sentir mal por estar sozinho em casa num sábado de noite, ainda mais limpando a casa. Hoje em dia já sei que a salvação não é se enfiar num lugar quente, sem lugar pra sentar e cheio de gente imbecil que frita a cabeça e a minha paciência. Só com muita cerveja pra suportar esse martírio.

Não tinha choro, o negócio era meter a mão na imundície. Coloquei meu calção que já tem 13 anos de vida (com um cheiro de saco since 1998) e incorporei o caça-imundície. Primeiro coloquei a roupa na máquina que ia ficar trabalhando por mim. Eu sabia onde deveria colocar o sabão e o amaciante, o problema foi o quadro de mil opções de lavagem, pré-lavagem, centrífuga delicada e não sei mais o quê. Pra quê serve uma PRÉ-lavagem? Pra roupa ficar pré-limpa? Se alguém souber peço uma breve explicação. As conexões possíveis daquelas tabelas de máquina de lavar roupa são mais complicadas que acertar na mega-sena. São MIL possibilidades e combinações. Só com faculdade pra entender. Como achei tudo muito normal, selecionei o “NORMAL” em todos os botões. Claro, separei as coisas coloridas das brancas como minha mãe ensinou. Não deu certo porque ainda somos todos platônicos demais e aristotélicos de menos. A regra a priori não funcionou porque não previu que uma caneta podia manchar as roupas. Manchei todas as roupas brancas de verde limão porque a merda da tinta do lençol se desprendeu e manchou todo o resto.

Fui pra cozinha. Quando comecei a mexer nos pratos vi que a coisa tava pior do que eu imaginava. Tinha risco de alguma coisa ter criado vida embaixo dos pratos, por isso mantive o RAID por perto. É uma marca muito boa. Meti a mão na massa e lembrei do dito: “se mexer a merda fede” – pura verdade. FEDIA MUITO. Pelo menos as formigas filhas da mãe estavam todas mortas dentro dos copos. Elas acabaram se ferrando porque pensaram que sabiam nadar nos restos de suco. Ou então foi uma overdose de açúcar (será que as formigas morrem afogadas ou de overdose?) Senti a lombar e tive que descansar no sofá tomando uma cerveja. Pelo menos ainda tinha umas cervejas pra salvar a pátria.

Sentado no sofá meditei: “já que to limpando essa merda, vou limpar TODA essa merda”. O chão me olhou e eu olhei pra ele. Os imbecis tentando pegar as meninas na festa pensando que os problemas iam acabar. As imbecis exibindo os silicones e o cabelo escorrido e bebendo pra criar coragem pra trepar. No final os múltiplos casais de imbecis iam trepar sem consciência e comentar com os amigos e amigas no dia seguinte, repetindo o ciclo no final de semana seguinte até o dia em que cansam e inventam um amor só pra não ter que voltar praquele inferno quente e sem cadeira. Pequenos imbecis seriam gerados. As pessoas não sabem ficar sozinhas e a estabilidade mental depende muito disso. Enquanto tudo isso acontecia eu arredava os móveis e talvez o desgraçado fosse eu sem sequer perceber que era um.

Os tuchos se mexeram no chão, sentiram que a mamata tinha acabado. Levantei os tapetes. Os ácaros entraram agrupados em 200 alas de 10.000 cada em direção às minhas narinas que deviam ser dois buracos negros pra eles. Muitos espirros se seguiram. Terminei a louça já completamente sem paciência. Depois que terminam as coisas grandes têm os talheres, fatigante, muito fatigante limpar talheres. Vou começar a usar os de plástico.

A vassoura é feita pra pessoas de 1 metro e 30 ou pra gente que gosta de varrer ajoelhado. As formigas fizeram uma conferência extraordinária na sala pelo estado de emergência que tinha se instalado na casa que, àquelas alturas, era mais delas do que minha. As coitadas não tavam entendendo nada dos meus movimentos pró-limpeza. Enchi o balde e fiz uma poção mágica com os produtos que tinham no armário da limpeza. Comecei a passar o pano. Eu nunca tinha lavado um chão antes. Talvez as faxineiras recebam pouco pelo que fazem. Dizem que só os grandes mestres budistas ganham a possibilidade de limpar o chão. Que só ganham o prêmio de limpar o chão depois que aprendem a comandar a própria mente. Eu não comandava nem a mente nem as costas que estavam cada vez mais felizes e tinha que limpar o chão. E percebi que durante quase 30 anos eu nunca tinha limpado o chão que eu pisava. É preciso estar nos lugares pra entender. Por isso quanto mais lugares melhor. Quanto menos, muito pior. As costas estavam bem felizes mas ainda preferem a cama.
PS: Esse programa da RedeTv é a única coisa que presta na televisão no tempo em que eu sento a bunda pra ficar como uma anta vidrada na frente de uma televisão. Pelo menos presta pra rir e tem bundas ótimamente artificiais, como os peitos de galinha que a gente come no almoço.


domingo, 17 de abril de 2011

Paradoxos Pensênicos



Por enquanto, isto: pensene = pensamento, sentimento e energia. Se ficou interessado procure no google alguma coisa a respeito. Se não ficou interessado, foda-se. O quê a palavra pensene tem a ver com o vídeo? Quase nada.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Enquanto os gatos trepam num sábado à noite



(psicose, nice to meet you)

Quando acordei ela já tinha saído da cama. Senti que ela estava sem estar quando escutei os pingos do chuveiro que escorriam pela pele dela que era uma pele deliciosa. Dormi de novo. Depois acordei de novo e ela já não estava mais no banho e nem do meu lado. Chamei por ela “Fulanaaaa, ô Fulana” (claro que fica complicado escrever o nome da Fulana aqui, posso tomar no cú valendo com uma ação de danos morais). A Fulana veio me enchendo de chamegos.

Deitou comigo na cama e senti a pele lisa, o cabelo molhado e perfumado do shampoo do banho recente. Ficamos abraçados por um tempo na cama. Ela tinha um cheiro tão feminino, tão adocicado, tão mulher, tão sobremesa, tão carnívoro, tão edípico talvez, tão salvador. SIM, um cheiro que me enchia de uma esperança de morte. Esperança de que ela pudesse matar minha parte que sentia com o abraço mortal da perereca, da perereca que conduz ao útero, o túmulo dos túmulos. Esperança de voltar ao útero e ficar lá, tranquilão, fazendo porra nenhuma senão ficar boiando nos líquidos amnióticos e ficar chupando comida pelo umbigo, como se o umbigo no útero fosse um chimarrão de comida que se toma pela barriga.

Eu tava com um bafo absolutamente podre. Como se tivesse mastigado um rato e esquecido de tirar os pedaços de carne de rato da boca antes de dormir. O bafo é o porém do sexo matinal. Só com muita intimidade se pode trepar com bafo, o que pressupõe obviamente uma trepada sem beijo e sem trocas de baforadas na cara caso a posição eleita seja o ortodoxo “pai e mãe” (papai-mamãe é meio pedófilo não acham, temos que amadurecer e começar a fazer a posição pai-mãe). A opção “de ladinho” acaba sendo uma boa pedida pra transar de manhã. O que não dá pra entender é quando umas mulheres querem beijos de cinema às 9 da manhã de um domingo. Não há pau que levante. Sentindo aqueles cheiros frescos e matutinos dela, fiquei de pau duro. Na verdade, antes mesmo de ela chegar na cama meu pau já tava duro. Aquele conhecido paudurismo da manhã. Nas manhãs, ganha-se um cheiro de rato morto na boca, mas pelo menos o pau fica sempre altivo.

Ela estava com um vestidinho branco colado no corpo, desses de malha surrada de ficar em casa, um tesão. As mulheres não entendem que tesão de homem é natural. Tendemos a gostar da naturalidade. Aquelas roupas cheias de panos nobres de festa, aquelas purpurinas idiotas e aqueles rebocos na cara não deixam ninguém excitado. Isso é alimento só pro imaginário de conto de fadas. Na fábula da libido real o desejo não usa maquiagem. Sem contar que aquele pó (a BASE, vejam só que base do mundo feminino eu tenho) que as mulheres passam na cara tem um fedor insuportável. Então melhor que apareçam as espinhas e os buracos na cara já que no final sempre se acaba trepando na penumbra que é uma anestesia para as imperfeições do corpo.

O vestidinho dela, além de excitantemente surrado, era curtíssimo. Revelava os gomos de baixo da bunda que ficam melhores ainda quando ficam na dinâmica do aparece-desaparece com o sobe e desce do vestido. Ela se enrolava na cama e o vestido subia (Nosso Senhor do Tico Duro, Dai-me Forças). Depois alinhava de novo o vestido enquanto eu ficava embriagado no planeta do tesão (Mais Forças Senhor). A verdade é que uma perereca tem o poder de levar um homem tanto ao céu quanto ao inferno. E isto é tudo que se pode dizer.

Percebi que ela tava sem calcinha. Era uma mania que ela tinha, vivia sem calcinha. Fazia pra me provocar. Acho que queria me deixar constantemente de pau duro. A estratégia funcionava muito bem. Além do mais, tinha uma perereca incrível, sem nenhum pêlo, ajustada, controlada, danada de boa. Um corpo gostoso que era um alimento. Um corpo com curvas no exato lugar em que as curvas devem estar. Coloquei a mão e ela já estava molhada, úmida como uma chuva fina que experimentamos com a mão pra fora da janela do carro. Incrivelmente molhada. Me achei dispensável, afinal, sempre escutei (não sei onde) toda aquela história de que as preliminares é que preparam o terreno e blá-blá-blá, que querer enfiar logo de cara não é muito romântico e blé-blé-blé. Teorias da Revista Nova à parte, aproveitei a situação quando ela disse:

- Pode enfiar. (pelo que lembro a Vani falou uma dessas pro Rui no seriado OS NORMAIS)
- Sério?
- Aham.

Como eu não era o Rui, achei ótimo. Nós homens somos ANIMAIS que tentam disfarçar que não são. Convites pra jantar, telefonemas carinhosos e até flores são só disfarces do animal que escondemos. Perdoem minha sinceridade, mas já é hora de começarmos um mundo mais honesto. Digo isso até das mulheres que amamos porque quando ficamos sem sexo, todo o romantismo escorre pelo ralo. Mas não se enganem porque ESSE é o nosso amar. Mulheres fontes de vida, entendam, nos amamos ASSIM. E teremos que nos entender pra que não se fale mais em “guerra dos sexos” em todas essas revistas idiotas de salão de beleza. Amamos MESMO. Temos coração, sensibilidade e até vontade de casar com a perereca que amamos.

Enfiei o pau como ela tinha determinado. E lá fiquei até o final. Verdade que não demorou muito, mas tudo bem, era sábado e teríamos o dia todo pela frente. Talvez novas chances de um sexo sem esforço no decorrer de um loooongo sábado libidinal. Ela não gozou. Eu sempre ficava preocupado quando ela não gozava. Homem materializa o amor com sexo e pensa estupidamente que a mulher faz o mesmo. Como somos estúpidos. Não que elas não precisem de sexo de qualidade com orgasmos alucinantes, mas é que simplesmente não dão a dimensão que nós homens damos pra essa coisa. (E não me venham mulheres metidas a revolucionárias, que ainda estão guerreando com o objetivo de dizer que mulher também tem prazer e goza porque isso todo mundo já sabe e é só um resquício de que algumas mulheres, em 2011, estão com a cabeça nos anos 70). Tire a magia do sexo e, para as mulheres, não há mais sexo. Nós conseguimos trepar sem magia nenhuma. E isso não é uma VANTAGEM, só uma característica, capiche!

Pelo menos é mais ou menos isso que tenho escutado por aí, nas traduções que faço. Pode ser que falem pra me agradar ou mintam. Em qualquer um dos casos, tudo bem. Como não tem como saber precisamente o que se passa na cabeça delas, o negócio é seguir na missão de ler as mensagens subliminares e continuar gozando sempre e sem problemas de frigidez. Melhor assim. Melhor pra quem goza fácil.

Fiquei preocupado, afinal, eu gostava dela e queria saber se ela não tinha gozado porque simplesmente não tinha gozado ou se não tinha gozado porque eu tinha gozado antes do tempo hábil para que ela gozasse. Ela se limpou e fomos para a sala. Ela não gostava de ter discussões sobre sexo e nem sobre porra nenhuma. Não queria briga. E agora me dou conta desse grande atributo dela: é uma pessoa pacífica! Eu às vezes me sentia a mulher da relação, querendo fazer terapia de casal. Eu sempre gostei de conversar e descobrir os porquês dos porquês dos porquês, sempre achava que conversando podíamos nos entender. Eu era um rato metido a psicólogo que achava que entendia das coisas, mas não entendia que algumas coisas dispensavam o entendimento. E as vezes esquecia que não sabia era merda nenhuma.

Às vezes não adianta falar. As pessoas em geral não são sábias o bastante pra simplesmente observar que o fogo queima e não ir colocar a mão nele. Só aprendem quando queimam a própria pele. O ser humano ainda é uma criança.

Tentei argumentar, mas ela estava ríspida demais. Disse que discutir sobre sexo era broxante e que falar só piorava as coisas. Falamos um pouco e depois paramos, aquilo não levaria a lugar nenhum. Ela trouxe um bolo que tinha feito para nosso café da manhã. Depois que comemos o bolo, trocamos uns beijos e tudo já estava certo. Ela não gostava de discutir e não era rancorosa. As rusgas dela se iam embora com o vento e isso era bom pra ela e pra mim. Depois sentou e foi estudar. Limpei a sacada que estava toda suja de areia, nunca suportei areia dentro de casa. Areia é infernal porque ela pode se esconder num canto da casa eternamente. Além do mais, acabava indo parar na cama e ai é aquela porcaria coçando as costas da gente a noite toda. Quando eu ficar velho vou ser insuportável de tão chato.

Limpei tudo e voltei a sentar na mesa com ela. Na verdade sentamos nas cadeiras que estavam ao redor da mesa e não na mesa propriamente. Ela me ofereceu um café batido que sempre ficava muito bom. Tomei. Uma pomba começou a grunhir na sacada e ela me perguntou:

- Já viu algum gato trepando?
- Não.
- Eu vi uns gatos fodendo nos arredores da casa da minha vó, eles fazem um barulho estranho. Ai ela imitou os gatos transando com uns sons absolutamente estranhos de gatos transando (tudo muito estranho).

Acabamos não trepando mais no sábado. Os gatos deviam estar metendo nas gatas, gemendo de prazer, era sábado, o dia em que o sexo se burocratiza. Minha quota tinha acabado. Mas sempre depois de um dia vem outro dia e sempre pode ser que a gente tenha outra possibilidade de dar uma. Se for com quem a gente gosta, muito melhor. A parte libidinal do sábado tinha acabado logo cedo. E eu teria que me contentar com algum filme, sabe com é relacionamento depois de um tempo, muito filme e pouco sexo. Acho que prefiro transar depois da janta.

terça-feira, 12 de abril de 2011

O que mais vale nas mulheres é ter um BOM coração



Povo representante da masculinidade,
as mulheres se alimentam de carinho, de emoção,
é preciso resgatar a nossa sensibilidade
e nelas tocar apenas o coração.

Fiquei todo amoroso com a foto, sensibilizado.
Viva, viva, viva emocionalidade alternativa (Raul aprovando a paródia lá dos céus de Anarquilópolis).



- contribuição do amigo e poeta Leo Subtil -


domingo, 10 de abril de 2011

trânsito




Me adoenço.
Me curo.
Me adoenço.
Me curo.
Me adoenço.
Me curo.
(ad eternum)

Permaneço assim.
Nos hospitais de mim deixo meu corpo fétido equanto silvo pelo jardim das delícias.
Se é minha paz que se adoenta, fortaleço minha beleza para ser o pilar que sustenta a fraqueza do espírito.

Não é bom estar doente.
Não é ruim estar doente.
Não é bom estar curado.
Não é ruim estar curado.

A tolice pensará isto como um atributo,
como ser maleável ou felxível ou camaleão.
Estarão enganados.
Frequentemente estão e por isso me afasto.
Até quando?
Talvez até onde eu deva ir...mas onde está este onde?

Um postulado de fuga e permanência:
Se está doente.
Se está saudável, simplesmente.

Quem ainda não sabe que a palavra “é” é a mais poderosa e também a mais fajuta?
Disso se trata.
O “é” macula o pensamento que se escreve.
O “é” não existe.
E quando existe funciona para tornar possível um acesso. Mas qual?
Só o gerúndio é possível porque tudo o mais padece.
Tudo já foi e se não quisermos a cólera da sensação de orfandade
temos que nos proteger no útero de estar.
Estamos!
Deixemos afixado o postulado de que ESTAMOS.
Nossa consciência vive no estar, estando acordado ou estando a sonhar.

Estou doente até a hora que venha a cura. Transito.
E porque transito, não sinto dor nem delícia. Não sinto.


sexta-feira, 8 de abril de 2011

Reverberações midiáticas sobre Realengo ou Notas sobre o destino



Welington tinha uma boa relação com a família. Os pais adotivos morreram a 1 ano... (?!?)


Welington se dava muito bem com o canário belga que convivia com ele. A polícia encontrou o pássaro morto dentro da gaiola na casa do canalha atirador de criancinhas. Fala-se em morte por falta de alpiste...

***


O APRESENTADOR DO JORNAL: Como entender uma mente assim? E aí eu pergunto: o que têm pra entender?

OUTRO APRESENTADOR DE OUTRO JORNAL: Como explicar uma insanidade dessas? E aí eu pergunto de novo: que diferença faz explicar? Será que dá pra comparar o Welington com o Chapeleiro Maluco que era também um insano? Será que esta última pergunta não é idiota? O Chapeleiro Maluco matava criancinhas? Estuprava as cabras do Mundo das Maravilhas? Alguém pode explicar o chá do Chapeleiro? Ou sentir? Nem que seja asco? Será que o sentir por ser mais imediato é o único que pode explicar as coisas que não se pode explicar? E o banho de sangue do Welington - o mais novo astro da meninada que quer aparecer na TV e não vai conseguir ser igual ao Justin Bieber, o pau dourado de toda menininha de 12 anos - dá pra sentir sem entender? E por falar em pau, será que a esposa de um cara com um pau de 25 centimetros consegue entender ou sentir seu marido? E amanhã, você ainda vai estar sentindo um Realengo pelo corpo? Ou já hoje vai tomar um porre e trepar com sua esposa sem sal em nome das criancinhas do Realengo? E depois de amanhã? E depois de depois de depois de depois de depois de amanhã? O que haverá, então? É pecado não ficar chocado com o Welington? É pecado matar os outros aos poucos? Nós que matamos tanto os outros aos poucos? Se eu resolver matar alguém amanhã tentarão explicar essas perguntas que foram minhas...


***


Entrevista com um psiquiatra:

JORNALISTA: O que o senhor indica para pessoas que venham a sentir vontade de matar crianças?

PSIQUIATRA: Que fiquem calmas...

JORNALISTA: Há como evitar atos desastrosos como os que ocorreram em Realengo?

PSIQUIATRA: Sim, com muita maconha.

(parece que a entrevista não passou na sessão de edição)


***

Mortes em Realengo (alô alô Realengo...) confirmam que o Brasil é um gigante que desperta para o banquete dos grandes no cenário mundial. Enfim estamos deixando de ser pobres. Chacinas em escolas envolvem problemas psicológicos. E como psicólogo é coisa de aristocrata, estamos deixando de ser plebeus. ARRÃ, NÓS(X) TAMBÉM PODEMOS(X) MERMÃO (versão carioca de YES, WE CAN).


***


Da série “OH MEU DEUS, OS PONTOS DE VISTA...”

Conversa de ontem a noite numa mesa de boteco em Realengo:

BÊBADO 1: Sabe Zé, com aquela matança toda feita por aquele maluco, eu me aliviei, afinal, as contas que não consigo pagar, o corno que levei daquela puta da minha mulher e a brochada que eu dei no final de semana, ficaram fichinha perto do que aquelas famílias tão passando. Pô, perder os filhos deve ser dose. Foi que a morte da criançada serviu pra me deixar melhor...

BÊBADO 2: Comigo aconteceu o contrário. Fiquei super grilado. Além de todos os meus problemas, mais esses agora. E a televisão não para de falar e falar e falar.

BÊBADO 3: Cada um com os seus problemas. E por falar em problemas, os únicos que ficaram sem nenhum foram as crianças que morreram e o José de Alencar...esses sim tão numa boa.

BÊBADO 4: Olha eu sou um sortudo, uma sobrinha minha estava na escola e sobreviveu. Saiu sem nenhum arranhão, graças a Deus. Mas as 12 crianacinhas se foram...graças a...graças a quem será? A Deus? Não, isso só pode ser coisa do Diabo









quarta-feira, 6 de abril de 2011

Quando Bukowski ataca Nietzsche (de leve)


"Nada de julgamentos; se bem que, por necessidade, a gente acaba ficando seletivo. Pairar acima do bem e do mal fica bem na teoria, mas pra seguir vivendo é preciso selecionar: algumas são mais ternas que as outras; talvez estejam apenas mais interessadas por você. Às vezes, as belas por fora e frias por dentro são úteis, só pruma boa sacanagem, que nem os filmes de sacanagem. As mais carinhosas trepam melhor na verdade, e depois de um tempo ficam lindas, só por estarem ali."

Bukowski

segunda-feira, 4 de abril de 2011

O espírito livre





Ser independente é uma conquista que diz respeito a uma pequena minoria, é um privilégio dos fortes. Quem a tanto se determina, sem ser obrigado a isso, prova não apenas que é forte, mas possuidor de uma enorme audácia. Aventura-se em um labirinto multiplica ao infinito os perigos inerentes à vida. Está sozinho e exposto ao minotauro oculto na caverna de sua consciência (e ele é uma fera controlável). Supondo que tal homem pereça (melhor que tenha sido só uma suposição), o fato estaria tão distante do entendimento dos homens que eles não sentiriam nada, nem compreenderiam (a percepção de Nietzsche, mesmo que em fragmentos, da mentalssoma meu caro Mago). Ele já não pode regressar. Não pode sequer lograr a compaixão dos seres humanos (3a dessoma Mago?)

Nietzsche