terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

buzinando




O mundo que deveria ser, não é o mundo que é. Gosto do mundo assim pela metade, incompleto, igual a uma casa com uma goteira eterna que pinga nos lençóis da cama. 

Se o mundo fosse perfeito seria estúpido, não se teria nada pra fazer. Ficar caminhando naquela grama verde bem aparada, com aquelas camisolas de velha, mais aquela brisa que chacoalha o pano da camisola e a 9a sinfonia de música ambiente, só serve como utopia espírita: esse céu espírita deve ser um SACO. 

Por aqui o legal do mundo é que temos trabalho, já que a podridão fede e, do fedor que fede, leva todo mundo a sonhar com o mundo que deveria ser.


O Renan disse que o povo só odeia ele porque ele é nordestino, e não porque é corrupto. Só isso serve pra demonstrar que é um filho da puta completo. 

O cardeal inglês comedor de coroinhas saiu do conclave. Quem vota deve estar de acordo com as regras do jogo, caso contrário, ou se reavalia o jogo ou se culpa os votantes pela eleição de um imbecil (valem corruptos e comedores de cú de coroinha, que no fundo são corruptores de cú infanto-juvenil). 

Esse negócio do padre inglês me faz lembrar do Renan porque, pensando bem, a ilegitimidade do Renan é só parcial: foram idiotas e ignorantes corruptíveis que votaram nele. Que bom! Se todos fossem honestos estaríamos no céu espírita, tomando água sem gás e comendo grão de bico. 

Quando penso, começo a simpatizar com o Renan, o grande malandro brasileiro, ele tá na moda, é responsável por dar trabalho à mídia, por instigar o senso crítico nos movimentos estudantis, por ser o anti-herói do mundo que tenta ser perfeito desde que o mundo é mundo. O Renan, coitadinho, de carrasco virou vítima social cabeça chata. Logo vai pedir pra entrar nas quotas de alguma coisa. 

E o Berlusconi? Quer manter os ternos, aquele ar de galante que agora também tá na moda depois dos 50 tons de Cinza. Os peitos nus das italianinhas não serão páreos para o nosso referencial de Al Capone. Berlusconi devia ter poder de voto no conclave. E eleger aquela filha gostosa que o Pato comia como a primeira Papa da história. Assim ele dominaria completamente a península. 

E o padre brasileiro que comia a jovenzinha antes da missa? O advogado saiu em defesa, juridicamente, claro: "a carne é fraca", disse o ADEVOGADO. Fraca e dura né Doutor? O Freud sabia que o instinto, quando encontra um tabu, fica de pau duro. Que o proibido só serve para seduzir o instinto. Que o instinto sempre dá um jeito de se autorrealizar. Que o instinto é o maior de todos os corruptos. Mas é que isso pouco importa, e é bom, porque pelo menos temos o que fazer, temos trabalho, temos alguma coisa pra dizer pra uma platéia de plastas.  

Nós, homens legais viventes do mundo cão, somos inocentes de tudo. E só falamos na presença de nossos advogados idiotas. Não teria a mínima graça senhores, aquela graminha verde é nossa utopia e nosso engano.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Phebus




Eu até diria, escreveria, borraria o branco da tela, pra que tudo fosse jogado fora, pra que as angústias e as esperanças fizessem um par em letras fora de mim. Mas porra, que merda, ninguém mais aguenta que se lamente todas as saudades que todos sentem. A saudade é um dedo, é um braço invisível, que nos acompanha mesmo estando amputada. A saudade é a mãe dos suicidas, de todos os drogados que querem "transcender", falar com o "outro lado". A saudade cansou de pedir os holofotes. A saudade é a grande mãe desses caras com barba comprida, que são "artistas", e que fazem poesia... qualquer porcaria de poesia é uma ARTE pra esses caras. Eles querem fazer ARTE. E fazem qualquer merda em nome disso. Uma cadeira pendurada no teto é a porra da ARTE. A foto de uma bolita no cú é ARTE. Um par de peitos moles servindo como protesto contra a corrupção é "a arte contra o capitalismo". Fodam-se. Estão todos no mesmo saco. Fedendo o mesmo fedor. Eu poderia falar da menina de saia azul que dançava como ninguém: linda, coxas fortes e finas, coxas que subiam e colavam na bunda do cara no meio do forró, cabelo preso, 19 anos, sonho de um consumo impossível. Mas ela é a utopia, a falta de nexo entre o mundo real e as possibilidades do sonho. Então jogo ela nessas letras, pra dormir em paz. Eu poderia recusar o convite dos sentidos - e escrever é uma espécie de se livrar das coisas que a gente sente - e em recusando, sentir completamente. Escrever é esta espécie de vaso que, antes de se encher de merda humana, dilui os dilemas, organiza as hipóteses, racionaliza os sonhos que não lembramos. Um sonho não lembrado é uma benção à memória. Não ando interessando em entender os sonhos, porque eles me cansam. A lógica dos sonhos me cansa, como todas as outras lógicas. Poderia escrever um poema como os artistas barbudos dizendo que toda a saudade só é bonita nas músicas, ou escrever frases de efeito, essas frases curtas de efeito que vendem como IPhone novo, afinal, ninguém mais tem paciência pra ler MIL páginas sobre alguma coisa. É o mundo da impaciência meus senhores e senhoras, meninos e meninos, veados, artistas, mendigos, evangélicos, nazistas, putas, caminhoneiros drogados de rebite. Eu poderia escrever esse poema sobre a saudade, ou sobre essa gostosa que dançava sensualíssima. Mas estou cansado. E vou poupá-los. Nada é tão importante quanto dormir, dormir profundo, e não lembrar de nenhum sonho no dia seguinte.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

o dinheiro





O dinheiro. Que poder tem o dinheiro!

Tem sido o senhor de todos os corações, de todas as pulsações, o senhor de toda heresia. Senhor de todos os camelos que passaram pelo buraco da agulha.

O dinheiro já teve muitas vidas, encarnou em mulheres pálidas e em negros de pau grande. O dinheiro é a qualidade de ter sido um deus, uma verdade, um Estado, um Momento, um Nirvana.

A promessa do dinheiro é um nirvana.

É quando a frase “Sejais fiéis à terra”, do Nietzsche, ejacula na boca de uma puta paga.

O dinheiro foi um carrasco, um Don Juan que fez chorar mil mulheres, aquele que colocou a casca de banana. O dinheiro foi o padre católico que vendeu a alma ao diabo.

O dinheiro e o diabo sempre foram siameses. O dinheiro tem separado muita gente.

O dinheiro tem causado vergonhas na separação e nas repartições de suas frações.

O dinheiro foi o Calígula, foi um medieval enfiando a espada na barriga de um troglodita furioso defendendo seu Senhor! O dinheiro criou o vinho, e essa garrafa que está lá longe na cozinha.

O dinheiro, como os outros deuses, é um grande sedutor.

É a mesma bela mulher que foi a carcaça do diabo, agora em versão pornô.

É a Monalisa que virou Bruna Surfistinha. É a pegada na mão que se tornou um bacanal confuso de homens, mulheres, bichas, borboletas, unhas e cabelos que se chupam on line.

É o recado escrito que virou um mural rotatório com mil imagens, textos e egos por segundo.

O charme da dificuldade de acesso à amada que virou um site erótico com descrição de possibilidades e preços adaptáveis ao bolso.

A fidelidade que virou compreender a diferença, a fidelidade que virou relacionamento aberto. Pegar sem se apegar. Estar sempre sem estar. É a crença, que já duvida de tudo.

O dinheiro é o último dos deuses. É o Senhor Feudal de todo o planeta Terra. É o maior de todos – quem duvidará que o presente é o último patamar vivo entre os vivos?

O dinheiro criou as mulheres de 20 que não sabem amar. O dinheiro criou as mulheres de 30 que venderam o seu amor pela própria vontade de poder. O poder esta para o dinheiro, assim como Zeus está para Dionísio. O poder é a lava que escorreu pela superfície.

É o espermatozóide que bateu a cabeça na ponta da camisinha. O poder é a fundação sólida do teatro da economia. A economia é a disciplina das disciplinas, como já foram a teologia, a filosofia, o positivismo, a técnica. A técnica é a máquina de dinheiro.

O dinheiro é o resultado de uma trepada entre a máquina e o poder. O poder enfiou gostoso na máquina. E esse é o sexo mais cibernético que já houve. A máquina já tem silicone, e o poder, algumas vezes, já usou Viagra (só pra garantir a 2ª).

O dinheiro foi o rei que fechou as portas dos cofres, que fechou homens em salas escuras fedendo a merda, que amarrou o homem que via a própria mulher ser estuprada por um cara com um pau 2 vezes maior que o dele. O dinheiro embotou os corações.

O dinheiro foi o guri que atirou as pedras naqueles cachorros unidos pelo cu. Haverá sempre os acenos cruéis dos que antecipam o naufrágio de uma multidão. Boa viagem.

Antes não se podia falar do diabo, antes não se podia ver mulher pelada na Playboy. Hoje falar de dinheiro é colocar a mão dentro da cueca no meio de uma valsa de casamento feito em clube com aqueles peitos de frango com molho branco.

espelho da raça




a raça humana é um bicho preto que transita no canto de um banheiro escuro de um posto de gasolina às 2:54 da madrugada de um sábado para domingo. a raça humana é uma rato grande como um leitão que se arrepende de cruzar a rua depois de já ter começado a cruzar a rua. a raça humana é um desajuste entre os desejos e as possibilidades de suportar o contexto que estão ao redor dos desejos. é estacionar o carro numa rua deserta, chavear o carro, caminhar lento pela calçada, olhar os cadeados que asseguram as coisas de todos os lugares, e subir os degraus do prédio para enfiar a chave na fechadura, então abrir passagem para um corpo com vida que não consegue atravessar coisas simples como um vidro ou uma grade sem vida. depois enfiar de novo a chave para fechar a porta e ir até o elevador que sempre está no último andar porque os filhos da puta geralmente moram no último andar. a raça humana é um passeio sozinho nesse elevador depois de apertar o mesmo botão que leva ao mesmo andar. a raça humana é essa repetição de passos que conduz aos mesmos buracos profundos. a raça humana é dormir numa cama pequena com quem não se gostaria de dormir. a raça humana é dormir na rua e beber pinga barata até alcançar com o dedo pra suportar o inverno. a raça humana é um estatuto de preocupações ao redor do corpo. a raça humana é um desejo tenebroso de trucidar o desconhecido e todo o exército de gente que não sorri para os nossos próprios sorrisos. a raça humana é a batalha vencida de poder olhar o rosto humano. a raça humana é um maçarico incansável no pijama velho e surrado que nunca deveríamos tirar.

o carnaval é uma velha fumando na sacada vendo o samba passar




todos os espermatozoides a postos. 
todas as lubrificações de buceta esperando fluidez. 
todas as garrafas de cerveja bicadas por uma boca bêbada. 
todos as vísceras de férias. 
todos os pandeiros sendo tocados como as peles que se esfregam e roçam e se arrepiam.
todos os gemidos esperando que as palavras silenciem. 
todas as barrigas estufadas.
todas os relógios ultrajados.
todo o prosaico em transe.
o carnaval é um coito desinterrompido. 
é uma bomba relógio de subversão íntima.
é uma cascata de possibilidades pastosas. 
é um pandemônio de consciências na fila de entrada da vida, esperando o leilão dos corpos.
é a produção em série dos escorpianos que nascerão em outubro. 
o carnaval é quando as fricções fazem hora extra, 
quando os arrepios estão em pé de guerra com a morbidez do sono,
quando as ereções são potenciais pontes ao útero. 
o carnaval é este apagão de responsabilidades, de saúde, de heteronomia.
é o acerto de contas entre a culpa e a moral 
é o acordo quixotesco do desejo com o corpo. 

é uma mulher recém saída do banho, 
com a toalha enrolada no cabelo, 
de joelhos ao pé da cama,
com a bunda arrebitada,
deixando que só os espíritos do quarto espiem a beijo íntimo dos lábios íntimos, 
teclando comigo no computador, 
narrando uma nudez que não posso tocar.