quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Treze vezes anteontem




Quando faço toda a força, e minha veia do pescoço engrossa, e sinto a dor humana de fazer uma força insuportável, percebo que que os pilares, fincados até o centro da Terra, só deixam a indiferença ou para me desejar uma pena, ou para denunciar a minha arrogância de tentar mover, com força humana, um cimento mórbido feito pelo copia-e-cola da história de milhares de fracos. A história do cotidiano pertence aos fracos. A virtude do cotidiano pertence aos fracos. Se não lhes cabe o pódio do porvir, a própria vida, enquanto acontece, é seu coroamento. Eles não estão nos livros, mas sempre controlaram todas as fronteiras do instinto maniqueísta, sempre controlaram os sorrisos dos que deveriam sorrir, sempre ajustaram as vidas alheias nos processos judiciais, sempre tiveram o poder de constituir os fatos no momento em que os fatos acontecem. É com espanto que percebo que são eles, os que verdadeiramente afirmam a vida. A soma de todos os medos dos fracos não forma uma centelha de coragem sequer, mas constrói uma Torre de Babel miserável e imensa, um Leviatã transgênico e horroroso, feito de carne artificial, de olhos míopes e perfume francês. Então a fadiga e o fastio me abatem: é quando me visita o demônio do conformismo, que chupa todo meu sangue, me faz letárgico, fraco, medroso de um medo fluido que não se petrifica. O demônio me diz: não perca tempo Paulo, é em vão. Atendo ao demônio, porque atendo todos que me visitam. Perco o interesse em dizer, porque não há eco. Perco o interesse em fazer força, porque toda a força é em vão. Perco o interesse em silenciar, porque mesmo o silêncio não significa coisa nenhuma a pilares que, por desumanos, não têm ouvidos. O Estado é uma máquina caótica, torturante, enguiçada e controlada por fantasmas. Não tenho as ferramentas pra consertar o enguiço.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

a cara do cara do bem




A cara de homem de bem do Alckimin é irritante. O José Simão acertou na mosca quando percebeu ele como uma espécie de arquétipo do "homem de princípios". A encarnação do eixo. Aquela cara que não enruga a testa diz, toda vez que diz qualquer porcaria: eu não peido, eu não furto, eu me alimento 5 x por dia, eu não como o cú da minha esposa, eu vou à missa, eu nunca repito a cueca dois dias seguidos, eu só dou doce para as crianças no final de semana, eu só bebo no final da refeição, eu só durmo com os lençóis esticados, meu deadline pra dormir é à meia-noite, eu nunca escondo com o nó da gravata o botão aberto da camisa. Ele nasceu pra ser OK. Ele tem, já na terra, as fitinhas pra ala vip no céu. É uma máquina nascida pra gerar culpa na subversão, que não sente culpa, mas náusea. E isso não é uma crítica política...

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

não vim ser feliz, vim ser humano






Onde estão os espaços por onde caminharei?
Onde estão os esgotos pra escoar, junto com o mijo urbano, também as minhas chuvas?
O quê veem os olhos do mundo, que são também meus?
O quê tem passado no filme dos sonhos daqueles que são capazes de dormir?
Por qual mão se atreve a textura da pele e do pelo mínimo da pele que não está mais?
Por qual pinça de dedos se arrepiam os mamilinhos das gurias de 18 anos,
das ovelhas que moram nas chácaras e
das cadelas domésticas das velhas aposentadas que ninguém mais quer comer nem sequer no escuro?
Onde está o peito que amanhã receberá a bala mortal e o coice da paixão?
Onde reinará o amor daqueles que são incapazes de amar?
Quantos mendigos haverão nas ruas dos meus 83 anos de tristeza de um sorriso sem dentes?

E quantas senhorinhas, enfim, chorarão meu peso morto de defunto,
descendo irônico pela vala que nunca me terá,
porque terei subvertido, na hora da vala, também à própria vala?

Percebo que não há em mim nada mais do que um antes e um depois,
um depois que é frágil igual a um espermatozoide que se debate como um peixe louco numa camisinha.

Sou um gatilho engatilhado em direção ao escuro.
Sou um galho torto que voltou a se enterrar só pela nostalgia da raiz.
E cogitando o flerte regresso do que foi, e mesmo a esperança,
contemplo a espera rememorando os murmúrios.
É um modo de dedilhar um gozo melancólico, ora precoce, ora letárgico.
É uma espécie de poder silencioso, robusto e vil,
que não serve para as coisas vivas do mundo.
O presente não me interessa.
O presente é uma gozada robótica que se dá antes de dormir.
Não posso deixar de detectar que o presente é a miséria dos felizes.
Assim como são miseráveis todas as coisas feitas de fragmentos.
Pretender pedaços é instinto dos bichos de zoológico alimentados por um pai idiota.
É tanta gente feliz, que eu me entristeço pra cooperar: 
fico triste pela função social de equilibrar o mundo.


segunda-feira, 12 de agosto de 2013

mínimas coisas que se pode dizer sobre os novos relacionamentos






E quando fui ver, eu já era outro.

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Pra quem acha que o contrário de amor é ruim, se engana, porque o lugar é bem agradável, e a comida boa.

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Quanto mais dura é a realidade, menos duro eu fico.

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  Primeiro mandamento: diga o que precisa ser dito aos idiotas, custe o quê custar.

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A bunda é a futilidade do homem.

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Deus me fez econômico, mas o Diabo inventou os livros, os vinhos, os rodízios de churrasco e as massagistas.

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Os amantes servem justamente para quando os namorados estão trabalhando demais.

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Haverá maior subversão que o suicídio?

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

luto







Em cada dito

há um luto.

Mas os ditos não são benditos.

Pois lhes falta o defunto.