terça-feira, 30 de novembro de 2010

ranho sexual




"[...] Trepamos. Depois nos separamos, cada um esperando sua vez de entrar no banheiro para limpar o ranho de nossas narinas sexuais."


Bukowski

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Assim


Sou a realidade que em mim.
Um exercício pulmonar,
até a relidade do meu fim.
No caminho nada importa,
senão tudo que eu viva.
E quando eu findar,
nada será fim além de mim.
Como será que será o meu fim?
Mas isso nem importa,
senão a dor, a dor que em mim.
E será que será triste o meu fim?
Mas isso nem importa,
senão a curiosidade do dia,
se for em dezembro ou um dia de chuva.
Melhor ainda que não chova,
velório com chuva é um saco.
Quem morre em dia de chuva
esquece que velório é um compromisso a céu aberto.
Será que será o meu fim, no fim?
Duvidando vou vivendo
até morrer dentro de mim.
E fora viverei. Sentindo. Como agora. Assim.

Imaginuras













domingo, 28 de novembro de 2010

O tamanho do tracinho?


Minha mãe insistiu. Sabe como são as mães, elas sempre acham os filhos bonitos, sempre acreditam neles. Seja um aleijado ou um desacreditado, lá estão elas, fiéis como nenhuma outra. Bacana esse amor de mãe.
Quando eu era guri, minha fama em casa era de que eu nunca dava continuidade às coisas. Diziam que eu começava e depois largava tudo pela metade. Do futebol de salão ao caratê, passando pelo inglês e pelo basquete. Verdade, eu largava mesmo. Mas não lembro por que. Acho que já naquela época eu não lidava bem com essa coisa de ter que escolher. Ter que escolher uma coisa é deixar de lado todas as outras coisas. Escolher é perder. Mas é ganhar também. É tanta coisa nesse mundo que a gente se confunde com o que quer de verdade. Imagino que seja porque as "todas coisas" são sempre maiores e mais sedutoras que a "uma coisa". Depois aprendi que quantidade não é qualidade, e passei a amarrar meu asno nas coisas que eu sei que gosto.


Bom, no esporte sempre fui uma negação. Não uma negação completa. Até tive uns lampejos de brilho (pouquíssimos MESMO) (na verdade nenhum, acabei de mentir), mas o que me matava era o ar. Ou melhor, a falta dele. Eu não tinha pulmão pra aguentar aquela correria do futebol, aquele salta-e-chuta-e-grita do caratê. Tenho tesão pela inércia e pelo silêncio. Nunca fui um fumante contumaz, mas desde pequeno tenho uns prenúncios de enfisema pulmonar infantil com quaisquer 15 minutos de atividade intensa. No sexo funciono igual, não gosto de fazer muita força. As mulheres ficam reclamando por igualdade (com toda razão antes que a turma do sutiã assado se manifeste), mas na hora do sexo querem que o operário-minerador-servente-de-pedreiro venha à tona e fique lançando carvão na máquina a vapor enquanto elas deitam e gozam. Verdade que nem sempre gozam, já que prazer de mulher é mais burguês, tem mais requerimentos que o de homem. A burguesia tem lá seus requerimentos para o gozo existencial, suas frescuras. Torrada de burguês precisa de peito de perú. Mortadela, nem pensar.

Não era bem disso que eu queria falar. A coisa acabou degringolando e acabou em sexo e mortadela. É sempre assim, no fim acaba em sexo. Vou começar de novo. Minha mãe insistiu. Leu algumas obscenidades que eu escrevi, achou que de repente eu podia virar escritor e resolveu enviar uns textos para um editor. Claro que além do amor da atitude ela pensou que poderia tirar uma lasca da situação se, de fato, eu fosse um escritor com alguma chance de não morrer sem ser reconhecido só pela própria mãe. E a lasca que falo é o simples deleite dela, esse orgulho puro e sublime que as mães têm quando os filhos fazem qualquer coisa idiota, como aqueles desenhos de pessoas-palito de colégio que elas mandam emoldurar achando que pode ser o prelúdio de um novo Salvador Dalí.


Ela enviou os textos. Eu já imaginava o desfecho. O tal editor, então, respondeu. Disse que eu teria que estudar muitos livros antes de poder publicar um livro. Inclusive o livro dele, que custa apenas R$ 28,00. Grande filho da mãe (não vou chamar ele de filho da puta senão ela vai brigar comigo). O senhor editor disse que os tempos dos verbos dos meus textos iam mal, que algumas frases eram desnecessárias e outras merdas sobre as merdas que eu escrevo. Como ele pode saber o que eu preciso escrever pra dizer se frases são ou não são necessárias? Esse imbecil disse até que eu não sabia a diferença entre o travessão e o tracinho pra abrir diálogos no texto. O tracinho é mais curto (-), e o travessão mais comprido (–), “seu filho deve usar o mais comprido”...e eu vou ficar cuidando a porra do tracinho agora? Quanta escravidão! Já não bastasse essa coisa do comprimento do pau que é um tormento pra quem não descende da linhagem dos homens-jumento, ainda tem que se preocupar com o tamanho do tracinho? Minha mãe disse que era para agradecer a análise que o editor havia feito. Escrevi um diálogo, com dois tracinhos grudados dizendo: “-- Caro editor, vai tomar no cú.

necessidades (in)diferentes




Preciso de água,
água que minha goela não sente.
Minha sede é a quantidade
das faltas do teu olhar displicente.
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-
PFF

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Divina indignidade





Como têm, como têm
essas vidas indignas,
um perfume fortíssimo de dignidade.
E aquelas outras vidas tão dignas,
perfumadas com perfumes de verdade,
sorridentes e notáveis,
como são miseráveis.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Pintos hiperconscientes conseguem chocar no frio de uma geladeira, cuidado!


A fome pegou e fui até a cozinha. Na minha casa e no meu estômago enjoado está na moda a omelete. A comida também precisa de moda pra viver. A gente come coisas por um tempo e depois acaba parando. Acho que chega um tempo em que se esgota a paciência do estômago com determinadas gororobas. Comer é fazer uma gororoba na boca e depois engolir aquilo. Muda a textura, o gosto. Mas no fim o objetivo final é o mesmo: transformar a comida em energia e depois em cocô. Eu nunca me relacionei bem com a comida. Não gosto muito dela. Não tenho paciência de ficar mastigando e mastigando e mastigando. Fazendo uma paçoca apta para percorrer meu corpo até o gran finale. Mas tem umas necessidades que não adianta lutar contra. Então eu como. Vou postergando, enganando a fome com um programa de televisão, com a internet, com um livro. Mas chega uma hora em que temos que ceder à natureza. Beber é mais fácil, é despejar o líquido e pronto. O líquido é mais limpo, é um combustível mais sincero que a comida.

Bom, minha barriga tava roncando e não tinha jeito. Apelei para o prato da vez, a omelete. Não que eu fizesse muita questão, mas é que não tinha porra nenhuma em casa pra comer. Morar sozinho é bom e ruim. A filosofia de quem mora sozinho é: “na hora eu resolvo”. Fritei uns pedaços de bacon. Fiquei pensando no bacon e conclui que ele é uma comida complicada. Metemos pedaços do corpo de um porco na frigideira. O gosto é bom, mas pensar que se trata de um porco é dose. Ainda vou ser vegetariano.

Reuni o queijo e peguei dois ovos. Eu sabia que aqueles ovos estavam a tempos na geladeira. Mas também não sabia qual o prazo de validade que os ovos tinham. Depois que eu já tinha sido envenenado pela percepção de que um bacon na verdade não é um bacon, mas um porco morto; lembrei que um ovo é a introdução de uma galinha. Puta merda, uma vida nasce daquilo que comemos. Uma vida! Comemos um feto!

Fritei o porco morto. O fogão que antes estava limpo virou aquela porcaria cheia de banha. Comer suja tudo, a cozinha e o nosso corpo. Ambos um pé no saco de limpar depois. Tudo ia respigando. Quebrei o primeiro ovo. Sepultei de vez aquele projeto de galinha. Aquela galinha em potencial que vivia na minha geladeira. O líquido transparente do ovo branqueou, o amarelo ficou ali assando, fritando, se ferrando naquele calorão da frigideira. Numa omelete tudo tem que ser muito rápido. Fazer uma omelete é um processo ansioso. Não sei bem qual a razão da pressa, acho que inconscientemente ficamos com pena do porco e da galinha em potencial e queremos acabar logo com aquilo tudo.

Apesar da sujeira tudo ia bem. Mas ai quebrei o segundo ovo. E nasceu o TERROR. Lancei um grito de PÂNICO. O ovo não era mais um ovo. Ou sei lá o que era aquele nojo. Era uma asa, uma asa preta. Sempre imaginei os pintos com aquele tom de amarelo claro, igual aos que apareciam nos desenhos da Disney. Amarelinhos e legais. Mas aquele que morava na minha geladeira era preto, assassino, maligno, esquizofrênico. Aquela coisa porca ficou fritando junto com o porco na frigideira. Depois do choque fiquei puto da cara. Ficou um cheiro de aviário na cozinha. Um nojo absoluto. Comer é um SACO. Confesso que eu tava com medo de olhar pra frigideira. Mas eu tinha que resolver aquilo, precisava enterrar aquele defunto vindo das trevas. Levei tudo até o vaso. No fim só abreviei a visita daquela porcaria ao vaso. Tudo ia acabar lá mesmo. E me poupei de engolir um porco morto e uma galinha fora da validade.

Desisti de jantar. Enganei a fome com os pedaços de queijo que tinham sobrado e tomei um vinho. Bebendo a fome passa. E como é fácil beber. É uma tranqüilidade. A bebida já vem pronta e, com sorte, já tem álcool. Facilita o sono. Dormir de barriga vazia não é um problema quando se toma bons goles de vinho antes. Deve ser por isso que o pessoal que dorme na rua vive enchendo a cara. Eu faria o mesmo.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Noite de domingo...

A filósofa defendendo sua tese
A empregabilidade no Brasil de todos os carnavais.

No Pânico na TV, o repórter perguntou para a filósofa da alteridade Susana Vieira se o namorado tinha ficado em casa limpando a merda dos cachorros. Ela respondeu, lançando o provérbio para a posteridade:"Na minha casa ninguém limpa o cocô dos cachorros, eu tenho sete empregados!". Pânico na/diante da TV. Pelo menos ela ajuda a diminuir os índices de desemprego...


No Fantástico o assunto era o vestido da menina que anda dando para o príncipe de Gales. A nova candidata a England's Rose... As dondocas correram para as lojas comprar um vestido igual para as festas de fim de ano...
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Como é que o cara não vai azedar num domingo à noite? Pedi ao meu garçom imaginário que enchesse a taça. Tenho sete empregados imaginários.

sábado, 20 de novembro de 2010

Beleza interior por Bukowski



"A conversa rolou e as meninas cascateavam sobre homens, festas, dança e sexo. Glendoline tinha uma voz estridente, excitada, e um riso nervoso. Ria a toda hora. Era uma quarentona gorda e esculachada. Além disso, era simplesmente feia, igual a mim. Glendoline deve ter falado uma hora inteira sem parar, só sobre sexo. Comecei a ficar tonto. Ela sacodia os braços no ar:

- EU SOU A MULHER SELVAGEM DAS MONTANHAS! OH, ONDE ESTÁ O HOMEM, O VERDADEIRO HOMEM CORAJOSO QUE VIRÁ ME ARREBATAR?

- Bem, aqui seguramente é que não está - pensei."




Charles, o Bukowski, o catarro da verdade.

Rastejando


Alguma dúvida de que estamos rastejando? Digo nós em referência a coletividade, claro. Não se vive das exceções, o que é lastimável. Li o manifesto do amigo Gabriel (uma exceção) falando das dificuldades que os gays encontram nesse mundo filho da puta. Fiquei com nojo da raça humana. Envergonhado de pertencer à ela. Queria ser uma minhoca pra poder rastejar legitimamente, sem culpa. Digo culpa porque ganhamos pernas e continuamos rastejando. Se alguém não entender a analogia pare pra pensar. O vaso é um bom lugar. Se persistir a dúvida desista.


As minhocas estão ganhando o jogo. De goleada. Elas rastejam como nós. Mas é que nós temos as pernas. Elas não as têm. Bicho inteligente a minhoca. Usa toda a capacidade das coisas que a existência lhe deu de presente. E elas ainda são imortais. Pelo menos as que eu cortava com a unha quando ia pescar. Eu era um guri e ficava maravilhado em ver uma minhoca virar duas. As minhocas tomam chá de Highlander. E ainda deixam a terra aerada. O bicho homem além de querer cuidar do rabo alheio, fica fodendo a natureza que a minhoca cuida. E ela nem tem um cérebro. Vamos rastejando, à la cotoco. O nosso modo humano rastejante é obsceno. Mais obsceno que enfiar pedaços humanos em outros buracos humanos, não acham?

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Bukowski pegou a vó da Amy Winehouse

Bukowski pegando a vó da Amy Winehouse.
Ficaram poucas vezes porque brigavam demais.



Passei pelo sebo e vi um Fernando Pessoa por 25 pilas. Entrei e peguei o livro na mão. Era um livrão, bem conservado, todo imponente. Se eu tivesse um pau no pensamento ficaria de pau duro com o livro. Pedi para o livreiro se não fazia por 20, mesmo sabendo que valia os 25. Talvez valesse até mais. A merda de livro é que é muito caro. Por isso gosto dos sebos, com exceção dos que vendem revistas de ponto cruz por 5 reais. É um péssimo sinal. Ainda bem que tem gente que não gosta de livros, principalmente dos bons. Se não tivesse essa gente os sebos morreriam. E ficaríamos dependendo dos livros novos que são muito novos e muito caros. Bom, não ganhei o desconto. Para resolver a questão comprei um outro livrinho de poesias do Mario de Andrade. Tava caindo aos pedaços e todo amarelado. Pelo menos comprando os dois ganhei 3 pilas de desconto. O que não muda nada. O dinheiro que existe já existe, só muda de mão. Mesmo assim é bom conservar algum no bolso. O Bukowski já me alertou, e não esqueci: o dinheiro tem dois problemas, ou quando é demais, ou quando é de menos. Grande Buk. Pedi se o livreiro tinha algum livro dele. Me disse que não. Por isso acabei levando o Mario de Andrade, tem boa fama, mas não posso confirar porque nunca li nada dele. Veremos. Comentei com o livreiro que eu tava lendo o último livro do velho Buk, uns diários de anos que antecedera a morte dele. O livreiro me disse "Gênio". Respondi, "é". Será que o Buk nos escutou?


A elite togada e... neutra?


Há, no sistema jurídico nacional, uma política entre grupos de juristas influentes para formar alianças e disputar espaço, cargos ou poder dentro da administração do sistema. Esta é a conclusão de um estudo do cientista político Frederico Normanha Ribeiro de Almeida sobre o judiciário brasileiro. O trabalho é considerado inovador porque constata um jogo político "difícil de entender em uma área em que as pessoas não são eleitas e, sim, sobem na carreira, a princípio, por mérito".

Para sua tese de doutorado A nobreza togada: as elites jurídicas e a política da Justiça no Brasil, orientada pela professora Maria Tereza Aina Sadek, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, Almeida fez entrevistas, analisou currículos e biografias e fez uma análise documental da Reforma do Judiciário, avaliando as elites institucionais, profissionais e intelectuais.

Segundo ele, as elites institucionais são compostas por juristas que ocupam cargos chave das instituições da administração da Justiça estatal, como o Supremo Tribunal Federal (STF), Superior Tribunal de Justiça, tribunais estaduais, Ministério Público, Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Já as elites profissionais são caracterizadas por lideranças corporativas dos grupos de profissionais do Direito que atuam na administração da Justiça estatal, como a Associação dos Magistrados Brasileiros, OAB e a Confederação Nacional do Ministério Público.

O último grupo, das elites intelectuais, é formado por especialistas em temas relacionados à administração da Justiça estatal. Este grupo, apesar de não possuir uma posição formal de poder, tem influência nas discussões sobre o setor e em reformas políticas, como no caso dos especialistas em direito público e em direito processual.

No estudo verificou-se que as três elites políticas identificadas têm em comum a origem social, as universidades e as trajetórias profissionais. Segundo Almeida, "todos os juristas que formam esses três grupos provêm da elite ou da classe média em ascensão e de faculdades de Direito tradicionais, como o Faculdade de Direito (FD) da USP, a Universidade Federal de Pernambuco e, em segundo plano, as Pontifícias Universidades Católicas (PUC's) e as Universidades Federais e Estaduais da década de 60".

Em relação às trajetórias profissionais dos juristas que pertencem a essa elite, Almeida aponta que a maioria já exerceu a advocacia, o que revela que a passagem por essa etapa "tende a ser mais relevante do que a magistratura". Exemplo disso é a maior parte dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), indicados pelo Presidente da República, ser ou ter exercido advocacia em algum momento de sua carreira.

O cientista político também aponta que apesar de a carreira de um jurista ser definida com base no mérito, ou seja, via concursos, há um série de elementos que influenciam os resultados desta forma de avaliação. Segundo ele, critérios como porte e oratória favorecem indivíduos provenientes da classe média e da elite socioeconômica, enquanto a militância estudantil e a presença em nichos de poder são fatores diretamente ligados às relações construídas nas faculdades.

"No caso dos Tribunais Superiores, não há concursos. É exigido como requisito de seleção `notório saber jurídico', o que, em outras palavras, significa ter cursado as mesmas faculdades tradicionais que as atuais elites políticas do Judiciário cursaram", afirma o pesquisador.

Por fim, outro fator relevante constatado no levantamento é o que Almeida chama de "dinastias jurídicas". Isto é, famílias presentes por várias gerações no cenário jurídico. "Notamos que o peso do sobrenome de famílias de juristas é outro fator que conta na escolha de um cargo-chave do STJ, por exemplo. Fatores como estes demonstram a existência de uma disputa política pelo controle da administração do sistema Judiciário brasileiro", conclui Almeida.

Com informações da Agência USP


Extraído do site
http://www.redebrasilatual.com.br

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

A cama é a Senhora


Li a passagem de um Salmo da Bíblia dizendo que eu tinha que temer o Senhor. Não entendi porque tenho que temer o Senhor. Depois de um período de ceticismo absoluto, até ando entendendo que ele possa existir (ou ter existido) e ser um cara gente fina, ele e o guri dele que carregou aquela cruz que devia ser mais pesada que vaca morta de frigorífico, mas porque ter medo do barbudo? Também não entendo esse privilégio do Senhor de burlar as regras da gramática e levar maiúscula, igualzinho aos nomes próprios como Julieta, Inglaterra, Paulo ou Petrarca (que já não anda muito na moda). Jesus Cristo ok. É como João da Silva. Mas se o João da Silva for um senhor não vou escrever um email dizendo "Caro João da Silva, receio que o Senhor...blá blá blá". Não que mude alguma coisa. Pensando bem não muda merda nenhuma. Mas se a minha professora do colégio estava certa não é caso de maiúscula. Senhor, afinal, não é um nome próprio e, agora que já ando mais convencido das minhas razões do que quando comecei a escrever essa besteira, só escrevi o último "senhor" com maiúscula porque era inicio de frase. Eu ando com medo é do calorão insuportável que se aproxima, do trânsito que tem matado gente a granel. Tenho medo de não acordar de manhã, volta e meia meu celular pega no sono e esquece de tocar. E a minha cama tem um poder de sedução infalível. E como as melhores coisas da vida a gente acaba fazendo na cama (porque não gosto de sexo na areia e nem em lugares cheios de mosquitos) vou começar a tratá-la por Cama.
-
**Entendidos de Bíblia e assuntos do Senhor, tentem me explicar por favor.


terça-feira, 16 de novembro de 2010

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Enquanto isso, no livro das sensações...






As sensações,
todas elas vestidas de arco-íris,
beijaram-me a testa.
E foram até as ínfimas partes
das mais remotas células que me fazem matéria viva.
Nos ouvidos chegaram-me,
suaves como só a suavidade é por ela mesma,
a gaita de boca. Bob Dylan.
Com ela vinham, do outro lado do apartamento,
aquelas batidas da colher na caneca.
Da cozinha é que vinham,
pelas mãos da que tinha pássaros nas mãos.
Todas as alegrias serenas vinham de mãos dadas,
saudar-me pela benção da boa vida.

Pelo nariz,
invadia-me as entranhas o cheiro morno do bolo de chocolate.
O sol que não sentou propriamente no sofá,
mandou a luminosidade, sua filha princesa,
atravessar a pele das pálpebras que vestiam meus olhos.
E o que com os olhos eu via,
se escureceu luminosamente quando os resguardei no íntimo da clausura.
Detive-me.
Encarcerado naquela vã liberdade da manhã.
No prazer de sentir o melhor da vida concentrados em um só estado de ser.
Senti os sorrisos mansos da vida na pele.
Tudo ia bem,
que era coisa melhor do que quando as coisas iam muito bem.


PFF

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Contos Imediatos XXXV

(Bukowski borracho cantanto Tim Maia: "Ora bolas, não me amole,
com esse papo de emprego, se'stá vendo não tô nessa, porque eu quero sossego...")



ESCREVER COM AR NOS PULMÕES DOS DEDOS
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O editor avaliou o material e ponderou que estavam sendo burladas, nos textos enviados pelo pretenso escritor, algumas regras atinentes à teoria do conto, que era, provavelmente, uma cadeira importante na faculdade de formação de escritores. Uma disciplina, por certo, cheia de livros esquemáticos e rotas predeterminadas para iniciantes nos assuntos da escrivinhação - palavra proibida como todas que não moram no livro batizado de dicionário.


O autor, que não queria porra nenhuma, mesmo querendo poder escrever porra nas coisas que escrevia; disse ao editor que não era do seu gênero ter um gênero literário, afinal, não entendia bulhufas de teoria literária, de seus gêneros, subgêneros e outras porras do tipo. Disse que também não habitava o gênero das suas preocupações a preocupação de se preocupar com a repetição de palavras como "gênero", "porra" ou "preocupação". Queria apenas vomitar nas folhas brancas as percepções que tinha do mundo e viver, pelo menos quando escrevesse, fora dos escaninhos sem ar que a vida lhe impunha.



PFF

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Lupina percepção




E se em algumas almas humanas, singularmente dotadas e de percepção sensível, se levanta a suspeita de sua composição múltipla, e, como ocorre aos gênios, rompem a ilusão da unidade personalística e percebem que o ser se compõe de uma pluralidade de seres como um feixe de eus, e chegam a exprimir essa ideia, então imediatamente a maioria as prende, chama a ciência em seu auxílio, diagnostica esquizofrenia e protege a humanidade para que não ouça o grito de verdade dos lábios desses infelizes.




Hermann Hesse, do livrinho de cair o queixo que vai indicado esse mês, O LOBO DA ESTEPE. É um nocaute para homens-lobo. Mas um nocaute que nos faz cair na lona da vida. Em riste. Aptos a viver.

Travesseiro da alma




...E até que tocá-los possa,
com unhas e dedos
com dentes e boca,
cá os imagino.
Em detalhes.
Aqueles só possíveis por intermédio da imaginação...
Cada uma das tuas tetas,
que são tetas pela naturalidade que são.
Porque vivem de ti e só.

Teus peitos guardiões do teu seio,
protetores do peito que carrega teu coração.
Teus peitos ou teu peito?
Poderá ser plural o peito teu?
Que uno carrega toda a fonte da vida?
Ah o teu peito,
pátio de escorregadores das tuas duas mamas,
de curvaturas uniformes como a perfeição
e com sinais de saudade,
aquelas pintas sorridentes.
Tatuagem dos deuses
que se preocupavam em fazer peitos femininos
com a perfeição que só à mão dos deuses é dada.

Teus peitos de pêlos diminutos.
Com pelinhos invisíveis a viver de arrepio.
Dois mundos pela metade;
bulas delicadas;
medicina das bocas envenenadas de excesso de saliva.
Pétalas de pele macia;
duas flores exclusivas,
das que nascem nas terras das nuvens no céu.

E os bicos, que combustíveis que são!
E ainda ficam fingindo, disfarçando,
com aqueles dois olhinhos sonolentos.
Os bicos de todos os tons de rosa
que nem às rosas é permitido.

Devolve teu peito,
travesseiro das tristezas minhas.
Devolve teu peito,
composição suave,
que por natural, selvagem.
Devolve teu peito.
Instintivo.
Incisivo.
Suculentos, os plurais peitos teus.
Sejam dois, ou sejam um mais um,
também são meus.
Imaculados.
Carne.
Flora.


PFF

domingo, 7 de novembro de 2010

O tempo em nós não tira férias...bom para nós!




Quem faz uma comparação com o si mesmo de um tempo atrás e não se autojulga, no mínimo, 50% menos imbecil, sofre de hipotemporalidade, que é a carência dos medicinais efeitos do tempo no organismo.


PFF

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

...e nem sei qual foi o mês

A prescrição artística dos sentimentos




Os artistas não têm sentimentos; têm uma forma de os honrar pela definição e até pelo abuso das suas invenções, que os tornam mais duradouros do que são.



Agustina Bessa-Luís

Contos Imediatos XXXIV



ELE VOLTOU
-
Em 2012 a profecia dos Maias não se confirmou e o mundo acabou não acabando. Mas nem por isso deixou de ser um ano especial. Isso porque Jesus voltou à Terra para terminar o trabalho de conscientização que tinha iniciado na época que inventaram os calendários, esses que ficam espiando a calma dos empresários e outras gentes importantes nas mesas dos escritórios.


O reencarne de Jesus gerou polêmica. Os espíritas passaram a dizer que a volta do filho de Deus representava a confirmação da doutrina revelada muito tempo depois do nascimento dos calendários com Allan Kardec, o francês que falava com os espíritos depois encher a cara de espumante da melhor estirpe. Houve também um problema cartorário que impediu o registro de Jesus com o nome primordial. Alegou o tabelião que já tinha muita gente com o nome de Jesus de Nazaré – o que confirmava o sucesso da primeira campanha – e que por isso era necessário eleger outro nome para evitar o desgaste burocrático causado pela epidemia dos homônimos. Resolveu-se o imbróglio substituindo-se Jesus por Josué. Além de também começar com “ J”, rimava com Nazaré. Não confundiria o eleitorado e era um prato cheio para os marketeiros da campanha, que poderiam criar um jingle divino do tipo “Josué de Nazaré, ele voltou, vai dizer que tu não qué...”

Mas Josué não cresceu muito, era baixíssimo. Não tinha aquela cara de galã europeu nem aquele cabelo de principe encantado de outrora. Também veio ao segundo tempo da existência bem mulato, quase negro. E esse quase o impediu de faturar uma das vagas na universidade reservada aos negros pelo sistema de cotas. De fato ele não era um negrão digno do rótulo com aquela cor de cuia de chimarrão misturada com cor de burro quando foge, que é uma cor que até hoje ninguém sabe a qual das três cores essências pertence.

Aos 33 anos Josué saiu pelas ruas gritando que era o caminho, a verdade e a vida. A vizinhança disse que ele tinha enlouquecido. Os amigos do bar disseram que ele sempre tinha problemas por excesso de vaidade, principalmente depois que tomava muito vinho. Acabou trancado no hospital psiquiátrico municipal. Esperneava e gritava pelos corredores que era o salvador, que sabia o caminho, que podia ensinar o que era a vida plena e que tinha a verdade dentro da algibeira. Acabou morrendo de overdose medicamentosa.

PFF

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Imaginuras





































Haja paciência




O maior chato é o chato perguntativo. Prefiro o chato discursivo ou narrativo, que se pode ouvir pensando noutra coisa...

Mario Quintana


quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Orfandade


Uma indagaçao me caiu no colo do pensamento, lembrando da rusga histórica que Saramago, o escritor luso, tinha com a Igreja Católica e com os crentes em Deus de todas as polaridades. Pois que vão morrendo os Papas, os representantes de Deus nesse plano telúrico e, ato contínuo, a Igreja inventa um substituto, já envenenado de vontade de poder, com atributos para seguir a jornada de cristianização, que, diga-se, anda toda capenga com a propagação das religiões made in China e com a descoberta de que o impulso sexual dos padres não pode ser tão controlado assim como queria o Onipresente. E a ideia da Igreja segue. Capenga, mas segue. Com outro representante, mas segue.
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Mas quando morre um alguém sem instituição como o Saramago, alguém indefinido e com uma ideologia tão personalíssima que até se poderia erguer um templo para cultivo de seus postulados humanitários, como é que funciona? Onde estão aqueles que ficaram com sua procuração (e seu dom), para seguir remando e fazendo andar a nau da percepção? Dos gênios, sobra o rastro dos seus pensamentos nos escritos, a serem interpretados pelas gentes com nobres propósitos ou apenas com vontade de ler alguma coisa nas férias. Dos gênios como o Saramago parece que fica muito pouco do que ele representou quando podia fazer da inquietação alimento para outros inquietos.
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E o pensamento fidalgo morre - ou para não ser tão drástico, desmaia - nas estantes e nas bibliotecas. E vira centro turístico de gente que vai no futuro tirar foto em Lisboa sem sequer saber de quem se trata e do que tratava o indignado defunto. Isso porque a representatividade do gênio é coisa que se acaba com seu último suspiro. E da sua religião pensante fica o mundo órfão, tanto os que das suas genialidades já se haviam percebido quanto todo o resto que ainda levaria (levará) milenios para perceber. E até que brote de algum ventre abençoado um outro Saramago com outro nome, ficamos meio assim, sem pai nem mãe. Pássaros de boca aberta no ninho à espera de outra ave-mãe, que poderá nos alimentar com um colírio análogo para os olhos pensamento.

Incompreender






É necessário ultrapassar em si mesmo o imcompreensível, que é terrível porque é incompreensível, porque parece ser destituído de leis.
Jean Chevalier, no verbete de algum símbolo sonhado docemente.
(muito a se pensar sobre o aprender a viver nos territórios sem lei...)

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Não. De bandeja.




Entregaram-me numa bandeja de metal,
a negação, mal passada, quase crua.
Mastiguei-a, macerando o que me podia fazer mal,
mas chorou o estômago, e sai vomitar pela rua.


PFF

Ser "gauche" na vida

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O ser humano?






O ser humano?
Um saco de cocô com sentimentos.

pff