Perplexo. É esse meu estado diante de algumas relações entre os indivíduos. Podemos escolher o calendário cristão, o chinês ou qualquer outro; o fato é que há muito tempo o homo sapiens habita a Terra. Aproximadamente três mil anos. E desde lá viemos guerreando, nos exterminando, enfiando a ponta da faca nos olhos do adversário, escalpelando o índio da outra tribo, ignorando a voz e o olhar alheios sempre que não encontram correspondência com nossas idiossincrasias. E o desenvolvimento que vem da diferença sofre por não encontrar amparo e tolerância. Temos que nos setorizar. Escolher um partido e uma seita. Pertencer a algum grupo. Ser isto ou aquilo. E, acima de tudo, combater com armas de fogo, peleias verbais ou indiferença maquiada, os “bárbaros” que vivem nas cercanias.
Os embates religiosos são exemplo privilegiado disso: no afã de querer impor crenças de um grupo a outro, muito sangue hidratou o triste chão da Terra. Esse sangue que hidrata a Terra não faz nada dela brotar. Nunca fez, desde as Cruzadas até as torres mortas de Nova York. Também a política – que não deixa de ser uma crença ideológica como a religião – sofre dessa insuficiência de tolerância. Lembremos da Palestina, das guerras civis na África, das crianças da Bósnia. Vítimas todas da mais pura intolerância, da incapacidade de relevar.
O microcosmo relacional repete a mecânica maior e comete os mesmos equívocos. Algum filósofo moderno disse que poderia não concordar com nada do que seu debatedor falasse, mas morreria defendendo o direito de dizê-lo. Transformando em cólera qualquer divergência conceitual, continuamos guerreando, esquecendo do feminino atributo da complacência, do perdão e do afeto. É mais fácil aceitar quem tem a mesma cor de pele, quem transa com o mesmo sexo, quem tem o mesmo tom nos ouvidos e os mesmos personagens conceituais na cabeça. E continuamos perdendo para o eterno desafio de respeitar a diferença. O feminino, de fato, ainda está doente na nossa cultura. Continuamos agindo como répteis masculinizados, mesmo sendo mamíferos: ou brigamos ou fugimos. Por que escutar o outro se os preconceitos já o definiram dentro do meu imaginário? As pessoas são para nós o raso daquilo que nós pensamos delas.
Como curar a intolerância sendo ela imanente ao ser humano? Adaptando-se. Pronto. Afinal, não se deve falar tudo que se pensa como dizem nossos avós. Daqui a um tempo se incorporará em todos os currículos acadêmicos as artes cênicas. Deverão ser estudadas durante todo o curso, seja lá qual for. Assim, todos serão dotados de alta capacidade de representação. Poderão maquiar sua individualidade, ser e pensar outra coisa sempre que um outro intolerante aparecer com garras afiadas na sua frente. Também se incorporará ao Código Civil e ao Penal a insuficiência cênica: sem dolo, o transgressor incorrerá em multa mais pagamento de perdas e danos; com dolo o transgressor será julgado, excluído da convivência com a família e amigos, recluso em algum lugar fechado ou sanatório, tal qual fizeram com Sade que revelava seus sórdidos desejos sexuais aos quatro ventos com seu tinteiro e sua pena...Sade não sabia que era preciso ser ator e se adaptar ao meio para não morrer num quarto de hospício. Me incluo nos comentários e me alio às fraquezas humanas, mas sigo perplexo, completamente perplexo! Tanto tem os cachorros e as cadelas a nos ensinar...
Os embates religiosos são exemplo privilegiado disso: no afã de querer impor crenças de um grupo a outro, muito sangue hidratou o triste chão da Terra. Esse sangue que hidrata a Terra não faz nada dela brotar. Nunca fez, desde as Cruzadas até as torres mortas de Nova York. Também a política – que não deixa de ser uma crença ideológica como a religião – sofre dessa insuficiência de tolerância. Lembremos da Palestina, das guerras civis na África, das crianças da Bósnia. Vítimas todas da mais pura intolerância, da incapacidade de relevar.
O microcosmo relacional repete a mecânica maior e comete os mesmos equívocos. Algum filósofo moderno disse que poderia não concordar com nada do que seu debatedor falasse, mas morreria defendendo o direito de dizê-lo. Transformando em cólera qualquer divergência conceitual, continuamos guerreando, esquecendo do feminino atributo da complacência, do perdão e do afeto. É mais fácil aceitar quem tem a mesma cor de pele, quem transa com o mesmo sexo, quem tem o mesmo tom nos ouvidos e os mesmos personagens conceituais na cabeça. E continuamos perdendo para o eterno desafio de respeitar a diferença. O feminino, de fato, ainda está doente na nossa cultura. Continuamos agindo como répteis masculinizados, mesmo sendo mamíferos: ou brigamos ou fugimos. Por que escutar o outro se os preconceitos já o definiram dentro do meu imaginário? As pessoas são para nós o raso daquilo que nós pensamos delas.
Como curar a intolerância sendo ela imanente ao ser humano? Adaptando-se. Pronto. Afinal, não se deve falar tudo que se pensa como dizem nossos avós. Daqui a um tempo se incorporará em todos os currículos acadêmicos as artes cênicas. Deverão ser estudadas durante todo o curso, seja lá qual for. Assim, todos serão dotados de alta capacidade de representação. Poderão maquiar sua individualidade, ser e pensar outra coisa sempre que um outro intolerante aparecer com garras afiadas na sua frente. Também se incorporará ao Código Civil e ao Penal a insuficiência cênica: sem dolo, o transgressor incorrerá em multa mais pagamento de perdas e danos; com dolo o transgressor será julgado, excluído da convivência com a família e amigos, recluso em algum lugar fechado ou sanatório, tal qual fizeram com Sade que revelava seus sórdidos desejos sexuais aos quatro ventos com seu tinteiro e sua pena...Sade não sabia que era preciso ser ator e se adaptar ao meio para não morrer num quarto de hospício. Me incluo nos comentários e me alio às fraquezas humanas, mas sigo perplexo, completamente perplexo! Tanto tem os cachorros e as cadelas a nos ensinar...
"quanto mais eu conheço os homens, mais eu gosto dos meus cachorros", uma frase que não paro de repetir.
ResponderExcluirAu au prá vc! rs
bjos