sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

pontes




Há um antigo mito qualquer que apresenta as possibilidades do dilema humano. Ao encontrar uma fenda imensa bem no meio do caminho, que impedia a natureza do seu itinerário, o caminhador meditou as possibilidades. Poderia tentar pular a fenda, mesmo sem certeza do alcance do seu impulso. E aprendeu que a coragem, por si só, não aumentava o tamanho de suas pernas nem diminuía a extensão do buraco. Poderia tentar contornar a enorme fenda, que rasgava a terra até onde os olhos não podiam ver. E aprendeu que mesmo a resistência precisava crer. Crer que não se tratava de uma fenda sem fim, que porventura pudesse ter o tamanho do mundo inteiro, a ponto de separá-lo para sempre do seu próprio destino, que era caminhar. Poderia voltar. Dar as costas. Mas pela dor que os pés sentiam, aprendeu que voltar é trair os caminhos. Poderia, por fim, construir. Uma ponte. Ou asas. Ou uma casa com vista para a fenda. Ficou com a ponte porque todas as pontes são memória das faltas e potência de volta.

domingo, 1 de dezembro de 2013