segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Pensando com a própria cabeça...

Abaixo um pertinente texto de Albano Pepe, extraído do blog do Warat, que trata, acima de tudo, da capacidade de criação de uma identidade própria. Da missão de abandonar a ética copista que tudo abraça cegamente de forma acriteriosa, elegendo deuses terrenos sem a capacidade de perceber suas insuficiências. A aceitação da amizade com seus devidos filtros pode ser um meio para que cada um se torne o que é. É esse o pano de fundo de Albano!


Subo a serra, já passa da meia-noite. Lá fora a temperatura atinge zero grau conforme o painel do automóvel. A estrada está limpa como a noite, algumas luzes, algumas estrelas. Penso nas pessoas amigas, naqueles cujos vínculos já preservei e que em alguns momentos continuo a preservar. Penso em Narciso em sua busca eterna o seu idêntico enquanto projeto de seu próprio espelho. Penso na filia, na amizade pelo outro, eterna e insuperável diferença que estabelece fidelidades. Penso a dialética em um de seus movimentos: a negação da negação. Acredito firmemente nas relações fundadas na alteridade, radicadas na compreensão de um alter, na recepção amorosa deste outro que não sou. Mas, diante de tais pensamentos lembro-me do Sartre e de sua idéias sobre as circunstâncias, daquilo que fere frontalmente a pretensa liberdade de cada um, daquilo que nos joga no mundo-da-vida e que nos oferece o sem-sentido dos enunciados que aportam no mundo fático e que ao fazê-lo, produzem sentido, imobilizando a lieberdade, pura e simplesmente. Sim, porque ao pensar as amizades, tenho de fazê-lo, imerso neste mundo que se me apresenta e que se desloca muito das vezes para o imponderável. A liberdade tem como contraface a contingência, a incerteza frente ao exercício dela mesma. Será que o inferno, é realmente a representação do outro, conforme afirmava o filósofo?Penso naqueles que se conformam às circunstancias que para mim são impossíveis de serem vividas, pois submetidos aos sistemas de controle que se autodenominam mimeticamente como gestos amorosos e de cuidados. Penso naqueles que se ocultam por trás de objetos que dizem serem de sua propriedade, para assim nomearem suas áreas de domínio. E me penso: por que o meu estranhamento, se, conforme o filósofo não devemos estranhar aquilo que é do humano? Por que meu estranhamento e esta fina dor que atravessa meu corpo enquanto subo a serra voltando para a morada? Por que não consigo assimilar esta diferença manifesta nos modos de ser destes amigos? Perguntas para mim irrespondíveis, salvo que me aceite como entidade narcísica que só se apercebe do outro enquanto cópia, reprodução de um modelo que penso ser ideal!Silenciosamente, como numa prece que espera ser ouvida, penso em voz alta:Amigos, nem perdão posso vos pedir, por não aceita-los em suas misérias, em suas pequenezas, visto que o perdão é um gesto exclusivo de cada um para consigo mesmo. Mas, vos peço que pensem naquilo que os submete, naquilo que se traveste de amor, de cuidado; naquilo que se traveste de bens únicos, pessoais e eternos. Que pensem em tudo o que lhes impede de conviver com a solidão, que lhes proíbe atravessar os desertos, tais nômades em eterna peregrinação na busca de sentido para o viver transitório. O pretenso amor que aprisiona que, mantêm recluso o outro dito amoroso, não pode ser chamado nem sentido como amor, visto que é impossível pensarmos em um objeto amoroso, senão em um sujeito amoroso, um outro, livre para ...

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