sábado, 18 de dezembro de 2010

WARAT e o luto colorido do meu coração



É passagem conhecida das fábulas heróicas a figura do mestre. O grande guru que indica ao herói os caminhos em direção ao centro da existência. O caminho de luz personalíssimo que só podemos alcançar quando tocamos o mais selvagem sítio de nossas interioridades. Diferentemente do imaginado, os heróis não são apenas os que povoam o imaginário infantil, mas todos que encaram longos caminhos em busca de grandes objetivos. E qual missão poderá ser maior que enfrentar a vida? Diante desse grande desafio que é a vida e as tortuosidades de seu caminho, nos tornamos heróis pela simples condição de ser. Para Joseph Campbell, todos somos heróis pelo simples fato (ou não tão simples assim...) de vencermos aquela avalanche competitiva de espermatozóides que nadam freneticamente em direção ao abraço quente do útero.
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Para a fábula e para a psicologia, o mestre não pode ser representado pela figura do pai que, pelos rótulos de responsabilidade, salvaguarda e amor, pode confundir a proteção instintiva com a desnecessidade de lançar os filhotes no abismo cru(el) da vida. Nossos mestres, assim, aparecem ao longo de nosso caminho e, no mais das vezes, chegamos até eles escutando apenas o eco rouco de nossos corações. Só o coração pode conduzir ao mestre. E quando podemos encontrá-los, é como ter nas mãos a chave de um grande baú de tesouros que ainda se esconde em nossos próprios jardins. Os mestres brilham como estrelas, apontando o dedo para o pote de ouro que se esconde no final de nosso próprio arco-íris. E porque brilham em demasia, se transformam em energia pura, incompreensíveis aos sentidos, impossíveis aos olhos comuns que brotam da mãe terra.

Meu mestre morreu, mas sem ter morrido. Tenho um otimismo em relação à morte, um otimismo que me falta em relação à vida. Prefiro pensar que o mestre deixou-me. Já me havia deixado a um bom tempo. Minha relação com o mestre Warat se deu como uma ejaculação precoce. Atingi o clímax e logo ele se afastou. Acompanhei o processo de abandono do plano terreno do Warat de longe, enviando energias curativas coloridas com o verde renovador da vida. Bebi tudo que dele podia, e logo ele partiu. Efetivamente não temos tempo a desperdiçar quando encontramos o mestre. É preciso sentir sua mensagem e seguir em frente, sabendo perceber o múltiplo olhar que o mestre lançaria em cada situação da vida.

Warat morreu sem ter me ensinado absolutamente nada. Os grandes mestres não ensinam, simplesmente caminham seguindo a luz que brota de seus próprios corações. Àqueles que intuitivamente sentem-se chamados pelo caminho que se descortina, cabe seguir. Os mestres ensinam de costas , em silêncio. Seguir trilhas onde nenhum pé ainda esteve, não é ter apenas coragem, mas confiança nos ecos sublimes do coração.

O mestre Warat foi das poucas almas que pude admirar em totalidade. Seduziu-me dos pés à cabeça. E agora se foi. Foi-se sabe se lá pra onde. Colorir sabe-se lá que parte da existência. Ele era um pintor de quadros invisíveis. Foi-se. Queridíssimo Warat. Que oco no peito me causa a partida dele. Como disse Quintana, quando um dos grandes vai embora, parece que o coração do mundo sofre uma parada cardíaca. Foi-se, assim simplesmente. Quando a morte chega, só existe o lamento e alguns pingos de esperança.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Conselho



Aconselhar?
Aconselhar é uma forma amistosa de enganação.
Perda de tempo, ladainha!
Perdão amigos fiéis,
conselheiros financeiros,
terapêutas estudados,
perdão espíritas de plantão.
Conselhos são pura ladainha!
A vida minha,
só eu sei ela todinha.
Mas... e se a vida minha não for só minha?
Agora fiquei em dúvida...
alguém tem algum bom conselho?



quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Personalidade à la carte


As conhecidas noções de introversão e extroversão foram criadas por Jung. As vinculações entre sensação-intuição e pensamento-sentimento, também são dele. Com o longo estudo empírico, os desenvolvimentos junguianos definiram 16 tipos básicos de personalidade. Se é improvável a possibilidade de precisão absoluta dos enquadramentos nas categorias propostas, provável, por outro lado, que muito digam sobre nós e nossos diversos modos de ser.
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Se minha intuição não está me traindo, para entender Jung, é preciso intuição apurada. Talvez dai a resistência na recepção de muitas das propostas junguianas que saltam sobre a rigidez fragmentada daquilo que apenas os olhos podem nos contar.
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A autoavaliação que segue, é bom meio de constatar possíveis erros e acertos na teoria. Se existem tipos de personalidade que podem ser resumidos em grupos, vale a pena matar a curiosidade e descobrir qual é o seu:


http://sites.mpc.com.br/negreiros/quiz.html


O meu teste teve um índice altíssimo de precisão. Loucura, nice to meet you!

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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

às todas maneiras




Aos extremos quero viver
e chegar perto das beiras.
Para quando eu lembrar, não esquecer
o divino de ser todas as maneiras.

abismos





Opa!
A prefeitura não coloca nenhuma placa
indicando aonde estão os abismos.
Vamos andando pela rua,
com a sensação de que tudo vai bem,
superficialmente bem, mas bem,
e uma queda sem fim nos espera.
O abismo é uma hiena da estepe
que espera um antílope distraído.
É da natureza dos abismos não ter fim.
São buracos negros da existência que sugam toda nossa energia.
E quando, sem querer, caímos em algum dos grandes,
como demora pra voltar à superfície.

domingo, 12 de dezembro de 2010

ovo choco, cabeça rachada



Ou o dia nos ganha ou ganhamos o dia. Ganhei um dos dias da semana que passou. Desde já vou avisando que provavelmente você se decepcione com a razão pela qual ganhei o dia. Os nossos motivos nunca interessam tanto aos outros quanto a nós mesmos. É por isso que os psicólogos têm um futuro promissor. Fazem de conta que se interessam pelas nossas picuinhas e, com paciência, a coisa acaba dando certo, que é quando percebemos, depois de gastar uma dinheirama, que é o “certo” o grande vilão filho da puta da história. O faz de conta dos psicólogos funciona: a ficção, quando é tanta, vira realidade. Acredito no poder dos psicólogos. Acredito que acreditar ajuda a anestesiar as dores da vida, mesmo que eu acredite em pouquíssimas coisas. Acreditar em alguma coisa, qualquer coisa: é isso que nos salva. Tenho acreditado nas sensações, elas estão se tornando os deuses da minha pseudoreligião politeísta. A religião das sensações busca o simples estar bem, um estado “oqueizão”, numa boa, nem feliz nem triste. Sinto minha crença na pele, mas, como meus ventos ventam para todos os lados, logo devo mudar de crença. Viver sem acreditar é coisa de macho. É preciso ter três testículos pra viver bem sem acreditar em porra nenhuma.

Balelas sobre psicologia e religião à parte, voltemos ao mundo real. No mundo real existem os estupradores da linguagem. Sim, da linguagem, não do idioma. São coisas diferentes. Estuprar o idioma não é tão feio assim quando se tem consciência do estupro. Os poetas sabem que estupram o idioma e as regras de sintaxe. Por outro lado, estuprar o idioma sem consciência, é sinal de falta de estudo, simplesmente. Em geral, a culpa, se é que alguém tem alguma, pode ser do vagabundo que não gosta de estudar ou do sistema de merda que não dá condições para as pessoas, que não são tão vagabundas, estudar como deveriam. Já estuprar a linguagem é fazer mal uso da possibilidade de expressão. Foi um estupro de linguagem que presenciei.

Eu tava sentado na sala da OAB, praticando aquelas burocracias “burrocráticas”. Meu grau de paciência é baixo com coisas burocráticas. Por isso que minha paciência é pouca com o mundo e seus trâmites insuportáveis. Hoje em dia, pedir uma pizza pelo telefone se tornou um tormento. Esses dias - excessos por minha conta - a coisa foi mais ou menos assim:

- Pizzaria, boa noite
- Boa noite, eu quero uma pizza de 4 queijos
- O senhor quer tamanho brotinho maroto, brotinho, pequena, média, grande, família ou cavalar?
- Brotinho maroto?...
- Sim, é uma novidade que estamos lançando para pessoas com anorexia, para quem come muito pouco.
- Pode ser essa então, respondi.
- O senhor quer com borda recheada?
- Sim
- Recheada com catupiry, cheddar, requeijão do cabrito do Himalaia ou o raio que o parta?

A essas alturas desisti da pizza e fui tomar um vinho. Mas voltando à sala da OAB. Sentou um doutor do meu lado, todo engravatado, todo advogado-sou-importante-porque-passei-na-porra-do-exame-da-oab. Esses caras apertam bem o nó da gravata pra justificar o nariz empinado. Deixam a barba crescida pra transparecer que são mais velhos e mais experientes do que realmente são. Forjam-se para o mundo e suas necessidades descabidas. Ele me cumprimentou engrossando a voz:

- Bom dia doutor – quando o cara engrossa a voz e chama qualquer um de doutor, é um sinal que precisa de um outro “doutor” como resposta. Massageei o ego dele e respondi repetindo: “bom dia doutor”. Esses caras, se não forem ladrões, nem fedem, nem cheiram, nem servem pra nada além de esperar o final de semana e trepar metodicamente com a mulher. Uma vida previsivelmente desgraçada. Ainda bem que eles não sabem. Educadamente, o tal doutor perguntou para a funcionária da OAB se podia usar o computador. Sentou a bunda burguesa na cadeira e questionou a menina:

- Querida, para imprimir, preciso de papel?
- Não, o senhor pode desabotoar a camisa e colocar na impressora no lugar das folhas, pensei.

Anos e anos sentando o cú numa carteira de colégio. Mais 5 anos esquentando a cadeira da faculdade e o cara faz uma pergunta imbecil dessas. E há quem se orgulhe de ser advogado!

Voltei pra casa pra tirar o terno. Fiquei envergonhado de usar um. Ele também não me seria mais útil no dia. É uma fantasia desconfortável de se usar. Encontrei a síndica do meu edifício na garagem. Pensei “lá vem essa mala encher o meu saco”. Os síndicos têm sempre o mesmo perfil: ou são aposentados ou são estelionatários. Ou os dois. Ela é aposentada e já ouvi reclamações sobre os altos custos das reformas que ela faz no edifício. Os aposentados vivem numa boa, não têm horário pra nada. A merda é que acham que todo o mundo está aposentado.

- Oi Paulo, deixei o recado da nossa reunião de condomínio embaixo da porta do teu apartamento. Chegaste a ver?
- Sim
- Vai ser na segunda, já que nos outros dias você disse que tem compromisso.
- Pois é dona Vera, justamente nessa segunda vou recuperar uma aula e não vou poder participar (eu usava sempre a mesma mentira pra ver se ela notava que eu DE FATO não queria participar de nada. Mas não adiantava, ela sempre pregava uma lição de moral em mim)
- Acho importante que você participe, afinal, vamos definir sobre as infiltrações na garagem, sobre os horários dos porteiros, sobre o uso do fundo de reserva e outras pendências...
- Pois é dona Vera, infelizmente ando sem tempo. E ainda aparecem essas aulas imprevistas. Na próxima vou fazer de tudo pra comparecer (mentira).
- É importante você comparecer, é bom termos mentes jovens participando, com a cabeça mais arejada (fiquei imaginando aquela velharada discutindo picuinhas, aquele caos sem propósito). Além de tudo você é um advogado (culpa da gravata) que pode nos ajudar a resolver as pendências com os inadimplentes.
- O pessoal é complicado né dona Vera, não pagam as contas.
- Sim, e blá blá blá...

Ela ficou me alugando por um tempo, depois consegui me safar. Coisa mais chata. Sempre acontece a mesma coisa. Ela marca as reuniões de condomínio (devem ser umas 2 por mês, nunca vi tanta reunião de condomínio), eu não apareço, e quando nos encontramos é esse o papo de sempre. Ela cobrando gentilmente minha presença e eu inventando uma lorota qualquer. Ela não percebeu ainda que eu NÃO VOU participar de reunião nenhuma. Não bastasse isso ser um saco, a velha marca as reuniões às 8:00 do sábado. Puta merda! Ela deve ficar sozinha no salão de festas nos sábados de manhã, falando com as paredes. Ninguém fora os aposentados é louco de participar disso num sábado de manhã.

Voltei ao trabalho e lá fiquei até o final da tarde. Quando sai, a chuva chovia que só ela. Chovia sinceramente. Em algumas ocasiões a chuva cai sincera. A chuva é sincera quando não é garoa nem temporal. Ela cai num ritmo de chuva, uma chuva de intensidade média. Fiz umas quadras a pé, sem correr. Deixei os pingos tomarem conta dos meus passos. Medo de se molhar? Devo ter, porque sempre que tenho que enfrentar a chuva, corro para me refugiar nas marquises. Dessa vez não corri. Tudo bem que sou sedentário e sempre que dá pra evitar o desgaste, eu evito, mas, dessa vez, não deixei de correr por preguiça, mas porque queria saborear a chuva molhando a roupa, a pele, o cabelo. Andamos com medo até da água! Fiquei sentindo a chuva me lamber, sensação agradável.

Pensei em caminhar pelado na praia sentindo a chuva. Seria uma boa maneira de sentir a liberdade. Mas como eu ia ser preso achei melhor desistir. Pensei em ir de sunga. Também desisti. Eu vestindo uma sunga era uma cena de filme de terror que ninguém mereceria ser obrigado a ver. Além disso eu tinha mais trabalho pela frente, tinha que dar a última aula do ano. Falei com a turma, discutimos, falamos mal do direito, falamos mal do mundo. Falamos bem do mundo. Falamos merdas. Rimos. As aulas eram agradáveis. No final, um dos alunos me disse:

- Eu decidi: vou abandonar o direito. A culpa é tua
- Ótimo

Meu dia tinha sido útil. Se sentir útil para os outros é muito bom. Gratificante. Perceber o que pertence ou não a nós mesmos é encontrar tesouros.

sábado, 11 de dezembro de 2010

amanhã talvez





Onde estão as ondas do rádio?
Estarão além das montanhas?
Como chegam até o carro que percorre os vales?
Como atingimos as coisas invisíveis?
Onde foram parar os pêlos de barba que não nasceram?
Será que ficarão em um quase?
Será que os pêlos vão mesmo desaparecer com o tempo?
E o apêndice? E o "minguinho"?
Onde está meu apetite?
Fome, cadê você?
Cadê o botão “alimentar-se” nos seres humanos?
Onde ficou o desejo de virar jogador de futebol?
Será que realmente eu nunca joguei porra nenhuma?
Onde esqueci aquela camiseta cinza?
Terá sido na minha velha casa?
Onde está a solidariedade?
Ninguém mais se importa com um desgraçado passando fome na rua?
Onde está a capacidade de habitar o estar alheio?
Ficou no prelo dos tempos que vivemos?
Ou o ser humano é filho da puta desde sempre?
Onde ficaram aqueles projetos de vida?
Os meus, os teus, os nossos?
Onde foi que perdi o tesão por todas aquelas festas e bebedeiras?
Terei broxado para as energias extravagantes e externas?
Como mudamos tanto?
Por que eu não sou mais a cada segundo do relógio?
Por que um segundo passa tão rápido?
Por que um segundo passa tão devagar quando o vaso está longe e estamos apertados?
Onde está a vontade de torrar a pele na praia?
Será uma desculpa de alguém que nunca poderá se bronzear?
Por que os grãos de areia são tão miúdos?
Por que a areia não é uma pasta homogênea e uniforme?
Onde está a vontade de comer coisas saudáveis?
Ainda vou conseguir parar de comer a morte das carnes?
Onde ficou meu desejo de ganhar na mega-sena?
Será mesmo que dinheiro não traz felicidade?
E se trouxer, como conseguir a felicidade?
Se eu virar um vagabundo, será que posso ser feliz?
Existe algum ócio que não seja criativo?
Criar é externar ou é pensar apenas?
Criar apenas pra não morrer?
Eu quero ser feliz?
O que eu quero sentir é mesmo a felicidade?
Ou tem outro nome?
O nome do que sentimos importa pra quê?
Perguntar é um mal dos ansiosos?
Onde estão os aparelhos de cd?
E os cd’s por que ainda são tão caros?
Por que tudo tem um preço?
Por que as pessoas não conseguem pagar os preços?
Como se sentem os que podem pagar e não pagam?
E os que podem e pagam e matam de sede outro tipo da mesma raça?
Somos mesmo todos da mesma raça?
O que é uma raça?
Qual a minha?
E a ratio, vai mesmo ir pro beleléu?
Existe só a emoção e a razão?
E o resto?
E as parcelas fragmentadas?
Somos feitos só de cabeça e só de coração?
E os pulmões?
É importante o ar em nossas vidas?
Onde deixei a vontade de ter um BMW?
Posso viver sem ar dentro de um BMW?
E sem amor?
O universo é mais profundo em uma pessoa do que em mil?
E as pererecas, são mesmo profundas?
Será que elas têm dentes malignos que nos esperam vampirescamente?
O cara que sonhou com a perereca dentada era virgem?
Onde encontrei a verdade sobre o amor?
Encontrei?
O que é a verdade?
Onde vi aquela paisagem que não sai da minha cabeça?
Eram ondas de poesia ou um tsunami?
Onde estão os guarda-chuvas todos?
No reino das piadas sobre os guarda-chuvas?
Os lixões hospedam os guarda-chuvas?
Onde está o inconsciente coletivo?
Onde está o inconsciente?
Coletividade é flertar com o umbigo alheio?
Onde ficam guardadas as cartas que não são enviadas?
Será que com o computador acabaram-se as gavetas de cartas?
E as cartas de Tarot, dizem o que não podemos ver realmente?
Por que o ser humano fica viciado em cartas?
Por que fica viciado em qualquer coisa?
Será que dá pra viver sem nenhuma necessidade?
Será que dá pra morrer sem nenhuma necessidade?

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

postagem corrupta



Será que a corrupção é maior no Brasil do que em outros lugares? Dizem que a corrupção é um respeito à liberdade...será? Dizem que a corrupção quer obter uma vantagem...será mesmo? Dizem outras coisas. Tudo por conta do resultado de uma pesquisa sobre a corrupção. Mas, como uma pesquisa sobre corrupção pode ser confiável? Quem garante que as respostas e as perguntas não sejam corruptas?

É corrupto avisar com sinal de luz os carros que vêm na direção contrária, quando a policia está fazendo uma blitz surpresa?
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Lula lê Bukowski


O Lula é leitor de Bukowski. Tenho quase certeza. Não, não tenho muita certeza. Enfim. O entrevistador perguntou pra ele sobre a quantidade de petróleo depois da camada do pré-sal. Ele respondeu:

- Olha Gabriel (o Lula é um cara esperto, grava o nome de todo mundo), aqui é o seguinte: você está sendo pago pra dizer que existe pouco petróleo além do pré-sal, e eu estou sendo pago pra dizer que existe muito petróleo além do pré-sal...
Ele lê Bukowski. Tenho quase certeza. Não, não tenho.



(fui fazer, pela primeira vez na história do Google, a pesquisa: LULA - BUKOWSKI)

Carlos Alberto (SAI)demberg na Globo News



...os dados, as percentagens, o quadro econômico do ano, os juros, o ano que vem das incertezas (todo ano que vem é uma incerteza!), o PIB, a inflação que é inflamável como o antigo álcool que se comprava no mercado e que pegava fogo de verdade, o juro real (será que existe o juro irreal?), as médias e as especulações, o país volta a crescer se..., e essa inflação (ela de novo) correndo em 5% (Jesus Cristo!), como reduzir a taxa real de juros? Claro, a culpa de tudo isso, no fim das contas (que é a hora de acertar a conta), é da dívida pública. Entenderam! A dívida pública não é mole não! Ai sim meu amigo, ai sim é que eu quero ver...

beber o vinho




As taças de cristal são as ideiais para tomar vinho, dizem. Não concordo. Melhor que sejam de vidro. Assim, é possível tomar sem a preocupação de quebrar o copo, ou melhor, a taça. Pressuposto seja um momento para se tomar um vinho sem a menor preocupação.

Duvida de alguém que mora sozinho






Por que, no dia em que a moça limpa o apartamento, as bocas do fogão não funcionam a contento? Por que será meu deus?



virgular



Ontem, quando a chuva choveu no fim da tarde, pensei em ti. E enquanto eu pensava, muitas coisas aconteceram, ainda que eu só pensasse em ti. A sensação foi tão próxima da maior delícia que já brotou na terra, que me senti com a obrigação coletiva de escrevê-la e fazê-la nota digna de toda a humanidade. Escrevi sem querer escrever uma poesia, senão um relato. De qualquer modo, como de tão sublime sentir se tratou, foi inevitável usar a metáfora. O título é VIRGULAR:

“A poesia é a água, que escorre pelos dedos do poeta, da chuva das sensações que encharcou a contemplação.”

Pensando hoje, o dia de ontem tinha sido um bom dia. Algo para se pensar todos os dias.

A flor mais grande do mundo - Saramago

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Poesia acamada





Oh verde das matas virgens,
Oh vermelho das bochechas enamoradas,
Oh amarelo do crepúsculo de fim de tarde,
Oh branco das espumas do mar...
Oh arco íris de cores naturais,
das cores limpas de toda lúdica poesia comportada.

Mas onde estará a poesia desgraçada?
Ei-la posta ao pé do chão,
no vão da calçada!
Salivada poesia de cores, moribunda,
espatifada, mal educada.
Oh verde do muco gripal,
Oh vermelho do sangue tubercoloso,
Oh amarelão de toda infecção nasal,
Oh branco do transparente cuspe cavernoso.

Oh arco íris de cores naturais,
das cores sujas de toda poesia do mundo.
A poesia adoentada, mesmo coitada,
sabe doer sua dor, convalesce,
e levanta renovada.

Oh arco íris de cores naturais,
de todas as cores sujas
de toda a poesia
de todo mundo.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Liçoes de moral (idiotas) para o Natal...



Que possamos reaprender, ainda nessa vida, a tratar o "eu te amo", esse que engasga na goela, da mesma forma que um peido que se dá em solidão: naturalmente. Soltemos ambos com naturalidade, nossa saúde agradecerá. E se o natal servir só pra isso, já estará justificado. E se conseguirmos peidar e amar naturalemente depois que passar a bebedeira da ceia, melhor ainda. Temas de casa pra se cumprir ainda nessa vida hein companheiros!




Paradoxos entre o amor e o pau





O amor é poderoso, faz o pau ficar maior do que é.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

O rascunho da poesia





Eu tanto queria saber,
se os poetas usam rascunho...
Ou se, a antever,
passam tudo direto da cabeça ao punho.


PFF

domingo, 5 de dezembro de 2010

Eu cuspiria


Fomos almoçar num restaurante bacana. Pedimos o prato e duas canecas de chopp. A comida estava boa mas o atendimento muito ruim. Não que estivesse ruim propriamente, estava ruim porque estava muito bom. Queriam nos atender com muita perfeição e aquilo não era nada humano. Os garçons eram treinados para atuar como máquinas. Se o cliente fosse estúpido, estariam ali com um sorriso congelado no rosto. Se o cliente os mandasse tomar no cú, continuariam sorrindo e pediriam desculpa por ter tirado o cliente do sério. Nunca gostei dessas coisas que não são de verdade.


A comida era boa mas essa babação de ovo não descia pela minha goela. Esses restaurantes caros vendem a ilusão do homem como máquina. Ou os garçons não podem acordar putos da vida e mandar o cliente se ferrar? Servilismo demais é um escárnio. Ficaram ali babando nossos ovos sem nenhuma necessidade. Fomos mal atendidos de tanta atenção que queriam nos dar. Fizeram mil perguntas mas quando a garçonete passou e levou minha caneca de chopp, não perguntou antes se podia. Você pode estar pensando que o chopp tinha acabado, mas não. Ainda tinha um gole quente misturado com restos de saliva. Fiquei puto da cara que ela levou o copo sem saber se eu queria tomar o último gole. Tinha feito mil perguntas irrelevantes e quando devia fazer uma importante esqueceu. Talvez fosse essa a parte humana que estivesse faltando. Pelo menos eu ia poder quebrar aquele ritual predestinado de troca de sorrisos entre os garçons e o cliente mimado. Chamei-a e perguntei:

– A caneca que você levou ainda tinha um gole de chopp moça...
– É que o chopp já tava quente senhor. (o senhor era pra eu me sentir importante...) Constestei:
– Mas como você pode saber se eu gosto ou não de chopp quente pra levar o meu copo assim sem mais?
– Quer que eu traga de volta o que sobrou?
– Sim.

Ela voltou com a caneca na bandeja. Era surpreendente como tinha sobrado muito pouco chopp. Eu era um babaca que só queria complicar as coisas. Mas a essas alturas já estava feito. Na verdade eu tinha arrumado aquela confusão só pra criar uma confusão. Não queria tomar aquele gole de chopp quente e cheio de saliva, queria apenas uma reação fora do script. Não bastasse que minha própria baba tivesse acumulada na caneca, ninguém podia garantir que, com a raiva, a garçonete não tivesse cuspido dentro da caneca. Tomei aquele líquido imaginando que ela não tinha cuspido, era conveniente pensar assim, ainda que o gosto me fizesse pensar o contrário. Conclui que a garçonete estava certa: o chopp estava quente e salivado. Por mim e, provavelmente, por ela. Ainda acho que aquela cadela cuspiu dentro. Vagabunda.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Belezas encasteladas





O RISCO DE

Uma beleza reverenciada
É tornar-se autorreferencial.
Saborear a reverência, encastelada,
É esquecer – da beleza – seu anseio subliminal.

Até que a beleza não mais,
Que é um pé no formigueiro.
E o ardor que nasce verdadeiro,
É o que, da beleza, se escondia atrás.

O belo dos olhos escorrega pela correnteza
Eis que a beleza, senhores,
Não se basta posta à mesa,
É mágica da língua, na usina dos sabores.

Mas se os finos traços se forem, simplesmente,
E o rio dos anos levar-te a juventude
Deixe-se ir a beleza dos olhos, naturalmente,
E deguste a dos sentidos, o belo em plenitude.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

terça-feira, 30 de novembro de 2010

ranho sexual




"[...] Trepamos. Depois nos separamos, cada um esperando sua vez de entrar no banheiro para limpar o ranho de nossas narinas sexuais."


Bukowski

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Assim


Sou a realidade que em mim.
Um exercício pulmonar,
até a relidade do meu fim.
No caminho nada importa,
senão tudo que eu viva.
E quando eu findar,
nada será fim além de mim.
Como será que será o meu fim?
Mas isso nem importa,
senão a dor, a dor que em mim.
E será que será triste o meu fim?
Mas isso nem importa,
senão a curiosidade do dia,
se for em dezembro ou um dia de chuva.
Melhor ainda que não chova,
velório com chuva é um saco.
Quem morre em dia de chuva
esquece que velório é um compromisso a céu aberto.
Será que será o meu fim, no fim?
Duvidando vou vivendo
até morrer dentro de mim.
E fora viverei. Sentindo. Como agora. Assim.

Imaginuras













domingo, 28 de novembro de 2010

O tamanho do tracinho?


Minha mãe insistiu. Sabe como são as mães, elas sempre acham os filhos bonitos, sempre acreditam neles. Seja um aleijado ou um desacreditado, lá estão elas, fiéis como nenhuma outra. Bacana esse amor de mãe.
Quando eu era guri, minha fama em casa era de que eu nunca dava continuidade às coisas. Diziam que eu começava e depois largava tudo pela metade. Do futebol de salão ao caratê, passando pelo inglês e pelo basquete. Verdade, eu largava mesmo. Mas não lembro por que. Acho que já naquela época eu não lidava bem com essa coisa de ter que escolher. Ter que escolher uma coisa é deixar de lado todas as outras coisas. Escolher é perder. Mas é ganhar também. É tanta coisa nesse mundo que a gente se confunde com o que quer de verdade. Imagino que seja porque as "todas coisas" são sempre maiores e mais sedutoras que a "uma coisa". Depois aprendi que quantidade não é qualidade, e passei a amarrar meu asno nas coisas que eu sei que gosto.


Bom, no esporte sempre fui uma negação. Não uma negação completa. Até tive uns lampejos de brilho (pouquíssimos MESMO) (na verdade nenhum, acabei de mentir), mas o que me matava era o ar. Ou melhor, a falta dele. Eu não tinha pulmão pra aguentar aquela correria do futebol, aquele salta-e-chuta-e-grita do caratê. Tenho tesão pela inércia e pelo silêncio. Nunca fui um fumante contumaz, mas desde pequeno tenho uns prenúncios de enfisema pulmonar infantil com quaisquer 15 minutos de atividade intensa. No sexo funciono igual, não gosto de fazer muita força. As mulheres ficam reclamando por igualdade (com toda razão antes que a turma do sutiã assado se manifeste), mas na hora do sexo querem que o operário-minerador-servente-de-pedreiro venha à tona e fique lançando carvão na máquina a vapor enquanto elas deitam e gozam. Verdade que nem sempre gozam, já que prazer de mulher é mais burguês, tem mais requerimentos que o de homem. A burguesia tem lá seus requerimentos para o gozo existencial, suas frescuras. Torrada de burguês precisa de peito de perú. Mortadela, nem pensar.

Não era bem disso que eu queria falar. A coisa acabou degringolando e acabou em sexo e mortadela. É sempre assim, no fim acaba em sexo. Vou começar de novo. Minha mãe insistiu. Leu algumas obscenidades que eu escrevi, achou que de repente eu podia virar escritor e resolveu enviar uns textos para um editor. Claro que além do amor da atitude ela pensou que poderia tirar uma lasca da situação se, de fato, eu fosse um escritor com alguma chance de não morrer sem ser reconhecido só pela própria mãe. E a lasca que falo é o simples deleite dela, esse orgulho puro e sublime que as mães têm quando os filhos fazem qualquer coisa idiota, como aqueles desenhos de pessoas-palito de colégio que elas mandam emoldurar achando que pode ser o prelúdio de um novo Salvador Dalí.


Ela enviou os textos. Eu já imaginava o desfecho. O tal editor, então, respondeu. Disse que eu teria que estudar muitos livros antes de poder publicar um livro. Inclusive o livro dele, que custa apenas R$ 28,00. Grande filho da mãe (não vou chamar ele de filho da puta senão ela vai brigar comigo). O senhor editor disse que os tempos dos verbos dos meus textos iam mal, que algumas frases eram desnecessárias e outras merdas sobre as merdas que eu escrevo. Como ele pode saber o que eu preciso escrever pra dizer se frases são ou não são necessárias? Esse imbecil disse até que eu não sabia a diferença entre o travessão e o tracinho pra abrir diálogos no texto. O tracinho é mais curto (-), e o travessão mais comprido (–), “seu filho deve usar o mais comprido”...e eu vou ficar cuidando a porra do tracinho agora? Quanta escravidão! Já não bastasse essa coisa do comprimento do pau que é um tormento pra quem não descende da linhagem dos homens-jumento, ainda tem que se preocupar com o tamanho do tracinho? Minha mãe disse que era para agradecer a análise que o editor havia feito. Escrevi um diálogo, com dois tracinhos grudados dizendo: “-- Caro editor, vai tomar no cú.

necessidades (in)diferentes




Preciso de água,
água que minha goela não sente.
Minha sede é a quantidade
das faltas do teu olhar displicente.
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PFF

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Divina indignidade





Como têm, como têm
essas vidas indignas,
um perfume fortíssimo de dignidade.
E aquelas outras vidas tão dignas,
perfumadas com perfumes de verdade,
sorridentes e notáveis,
como são miseráveis.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Pintos hiperconscientes conseguem chocar no frio de uma geladeira, cuidado!


A fome pegou e fui até a cozinha. Na minha casa e no meu estômago enjoado está na moda a omelete. A comida também precisa de moda pra viver. A gente come coisas por um tempo e depois acaba parando. Acho que chega um tempo em que se esgota a paciência do estômago com determinadas gororobas. Comer é fazer uma gororoba na boca e depois engolir aquilo. Muda a textura, o gosto. Mas no fim o objetivo final é o mesmo: transformar a comida em energia e depois em cocô. Eu nunca me relacionei bem com a comida. Não gosto muito dela. Não tenho paciência de ficar mastigando e mastigando e mastigando. Fazendo uma paçoca apta para percorrer meu corpo até o gran finale. Mas tem umas necessidades que não adianta lutar contra. Então eu como. Vou postergando, enganando a fome com um programa de televisão, com a internet, com um livro. Mas chega uma hora em que temos que ceder à natureza. Beber é mais fácil, é despejar o líquido e pronto. O líquido é mais limpo, é um combustível mais sincero que a comida.

Bom, minha barriga tava roncando e não tinha jeito. Apelei para o prato da vez, a omelete. Não que eu fizesse muita questão, mas é que não tinha porra nenhuma em casa pra comer. Morar sozinho é bom e ruim. A filosofia de quem mora sozinho é: “na hora eu resolvo”. Fritei uns pedaços de bacon. Fiquei pensando no bacon e conclui que ele é uma comida complicada. Metemos pedaços do corpo de um porco na frigideira. O gosto é bom, mas pensar que se trata de um porco é dose. Ainda vou ser vegetariano.

Reuni o queijo e peguei dois ovos. Eu sabia que aqueles ovos estavam a tempos na geladeira. Mas também não sabia qual o prazo de validade que os ovos tinham. Depois que eu já tinha sido envenenado pela percepção de que um bacon na verdade não é um bacon, mas um porco morto; lembrei que um ovo é a introdução de uma galinha. Puta merda, uma vida nasce daquilo que comemos. Uma vida! Comemos um feto!

Fritei o porco morto. O fogão que antes estava limpo virou aquela porcaria cheia de banha. Comer suja tudo, a cozinha e o nosso corpo. Ambos um pé no saco de limpar depois. Tudo ia respigando. Quebrei o primeiro ovo. Sepultei de vez aquele projeto de galinha. Aquela galinha em potencial que vivia na minha geladeira. O líquido transparente do ovo branqueou, o amarelo ficou ali assando, fritando, se ferrando naquele calorão da frigideira. Numa omelete tudo tem que ser muito rápido. Fazer uma omelete é um processo ansioso. Não sei bem qual a razão da pressa, acho que inconscientemente ficamos com pena do porco e da galinha em potencial e queremos acabar logo com aquilo tudo.

Apesar da sujeira tudo ia bem. Mas ai quebrei o segundo ovo. E nasceu o TERROR. Lancei um grito de PÂNICO. O ovo não era mais um ovo. Ou sei lá o que era aquele nojo. Era uma asa, uma asa preta. Sempre imaginei os pintos com aquele tom de amarelo claro, igual aos que apareciam nos desenhos da Disney. Amarelinhos e legais. Mas aquele que morava na minha geladeira era preto, assassino, maligno, esquizofrênico. Aquela coisa porca ficou fritando junto com o porco na frigideira. Depois do choque fiquei puto da cara. Ficou um cheiro de aviário na cozinha. Um nojo absoluto. Comer é um SACO. Confesso que eu tava com medo de olhar pra frigideira. Mas eu tinha que resolver aquilo, precisava enterrar aquele defunto vindo das trevas. Levei tudo até o vaso. No fim só abreviei a visita daquela porcaria ao vaso. Tudo ia acabar lá mesmo. E me poupei de engolir um porco morto e uma galinha fora da validade.

Desisti de jantar. Enganei a fome com os pedaços de queijo que tinham sobrado e tomei um vinho. Bebendo a fome passa. E como é fácil beber. É uma tranqüilidade. A bebida já vem pronta e, com sorte, já tem álcool. Facilita o sono. Dormir de barriga vazia não é um problema quando se toma bons goles de vinho antes. Deve ser por isso que o pessoal que dorme na rua vive enchendo a cara. Eu faria o mesmo.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Noite de domingo...

A filósofa defendendo sua tese
A empregabilidade no Brasil de todos os carnavais.

No Pânico na TV, o repórter perguntou para a filósofa da alteridade Susana Vieira se o namorado tinha ficado em casa limpando a merda dos cachorros. Ela respondeu, lançando o provérbio para a posteridade:"Na minha casa ninguém limpa o cocô dos cachorros, eu tenho sete empregados!". Pânico na/diante da TV. Pelo menos ela ajuda a diminuir os índices de desemprego...


No Fantástico o assunto era o vestido da menina que anda dando para o príncipe de Gales. A nova candidata a England's Rose... As dondocas correram para as lojas comprar um vestido igual para as festas de fim de ano...
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Como é que o cara não vai azedar num domingo à noite? Pedi ao meu garçom imaginário que enchesse a taça. Tenho sete empregados imaginários.

sábado, 20 de novembro de 2010

Beleza interior por Bukowski



"A conversa rolou e as meninas cascateavam sobre homens, festas, dança e sexo. Glendoline tinha uma voz estridente, excitada, e um riso nervoso. Ria a toda hora. Era uma quarentona gorda e esculachada. Além disso, era simplesmente feia, igual a mim. Glendoline deve ter falado uma hora inteira sem parar, só sobre sexo. Comecei a ficar tonto. Ela sacodia os braços no ar:

- EU SOU A MULHER SELVAGEM DAS MONTANHAS! OH, ONDE ESTÁ O HOMEM, O VERDADEIRO HOMEM CORAJOSO QUE VIRÁ ME ARREBATAR?

- Bem, aqui seguramente é que não está - pensei."




Charles, o Bukowski, o catarro da verdade.

Rastejando


Alguma dúvida de que estamos rastejando? Digo nós em referência a coletividade, claro. Não se vive das exceções, o que é lastimável. Li o manifesto do amigo Gabriel (uma exceção) falando das dificuldades que os gays encontram nesse mundo filho da puta. Fiquei com nojo da raça humana. Envergonhado de pertencer à ela. Queria ser uma minhoca pra poder rastejar legitimamente, sem culpa. Digo culpa porque ganhamos pernas e continuamos rastejando. Se alguém não entender a analogia pare pra pensar. O vaso é um bom lugar. Se persistir a dúvida desista.


As minhocas estão ganhando o jogo. De goleada. Elas rastejam como nós. Mas é que nós temos as pernas. Elas não as têm. Bicho inteligente a minhoca. Usa toda a capacidade das coisas que a existência lhe deu de presente. E elas ainda são imortais. Pelo menos as que eu cortava com a unha quando ia pescar. Eu era um guri e ficava maravilhado em ver uma minhoca virar duas. As minhocas tomam chá de Highlander. E ainda deixam a terra aerada. O bicho homem além de querer cuidar do rabo alheio, fica fodendo a natureza que a minhoca cuida. E ela nem tem um cérebro. Vamos rastejando, à la cotoco. O nosso modo humano rastejante é obsceno. Mais obsceno que enfiar pedaços humanos em outros buracos humanos, não acham?

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Bukowski pegou a vó da Amy Winehouse

Bukowski pegando a vó da Amy Winehouse.
Ficaram poucas vezes porque brigavam demais.



Passei pelo sebo e vi um Fernando Pessoa por 25 pilas. Entrei e peguei o livro na mão. Era um livrão, bem conservado, todo imponente. Se eu tivesse um pau no pensamento ficaria de pau duro com o livro. Pedi para o livreiro se não fazia por 20, mesmo sabendo que valia os 25. Talvez valesse até mais. A merda de livro é que é muito caro. Por isso gosto dos sebos, com exceção dos que vendem revistas de ponto cruz por 5 reais. É um péssimo sinal. Ainda bem que tem gente que não gosta de livros, principalmente dos bons. Se não tivesse essa gente os sebos morreriam. E ficaríamos dependendo dos livros novos que são muito novos e muito caros. Bom, não ganhei o desconto. Para resolver a questão comprei um outro livrinho de poesias do Mario de Andrade. Tava caindo aos pedaços e todo amarelado. Pelo menos comprando os dois ganhei 3 pilas de desconto. O que não muda nada. O dinheiro que existe já existe, só muda de mão. Mesmo assim é bom conservar algum no bolso. O Bukowski já me alertou, e não esqueci: o dinheiro tem dois problemas, ou quando é demais, ou quando é de menos. Grande Buk. Pedi se o livreiro tinha algum livro dele. Me disse que não. Por isso acabei levando o Mario de Andrade, tem boa fama, mas não posso confirar porque nunca li nada dele. Veremos. Comentei com o livreiro que eu tava lendo o último livro do velho Buk, uns diários de anos que antecedera a morte dele. O livreiro me disse "Gênio". Respondi, "é". Será que o Buk nos escutou?


A elite togada e... neutra?


Há, no sistema jurídico nacional, uma política entre grupos de juristas influentes para formar alianças e disputar espaço, cargos ou poder dentro da administração do sistema. Esta é a conclusão de um estudo do cientista político Frederico Normanha Ribeiro de Almeida sobre o judiciário brasileiro. O trabalho é considerado inovador porque constata um jogo político "difícil de entender em uma área em que as pessoas não são eleitas e, sim, sobem na carreira, a princípio, por mérito".

Para sua tese de doutorado A nobreza togada: as elites jurídicas e a política da Justiça no Brasil, orientada pela professora Maria Tereza Aina Sadek, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, Almeida fez entrevistas, analisou currículos e biografias e fez uma análise documental da Reforma do Judiciário, avaliando as elites institucionais, profissionais e intelectuais.

Segundo ele, as elites institucionais são compostas por juristas que ocupam cargos chave das instituições da administração da Justiça estatal, como o Supremo Tribunal Federal (STF), Superior Tribunal de Justiça, tribunais estaduais, Ministério Público, Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Já as elites profissionais são caracterizadas por lideranças corporativas dos grupos de profissionais do Direito que atuam na administração da Justiça estatal, como a Associação dos Magistrados Brasileiros, OAB e a Confederação Nacional do Ministério Público.

O último grupo, das elites intelectuais, é formado por especialistas em temas relacionados à administração da Justiça estatal. Este grupo, apesar de não possuir uma posição formal de poder, tem influência nas discussões sobre o setor e em reformas políticas, como no caso dos especialistas em direito público e em direito processual.

No estudo verificou-se que as três elites políticas identificadas têm em comum a origem social, as universidades e as trajetórias profissionais. Segundo Almeida, "todos os juristas que formam esses três grupos provêm da elite ou da classe média em ascensão e de faculdades de Direito tradicionais, como o Faculdade de Direito (FD) da USP, a Universidade Federal de Pernambuco e, em segundo plano, as Pontifícias Universidades Católicas (PUC's) e as Universidades Federais e Estaduais da década de 60".

Em relação às trajetórias profissionais dos juristas que pertencem a essa elite, Almeida aponta que a maioria já exerceu a advocacia, o que revela que a passagem por essa etapa "tende a ser mais relevante do que a magistratura". Exemplo disso é a maior parte dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), indicados pelo Presidente da República, ser ou ter exercido advocacia em algum momento de sua carreira.

O cientista político também aponta que apesar de a carreira de um jurista ser definida com base no mérito, ou seja, via concursos, há um série de elementos que influenciam os resultados desta forma de avaliação. Segundo ele, critérios como porte e oratória favorecem indivíduos provenientes da classe média e da elite socioeconômica, enquanto a militância estudantil e a presença em nichos de poder são fatores diretamente ligados às relações construídas nas faculdades.

"No caso dos Tribunais Superiores, não há concursos. É exigido como requisito de seleção `notório saber jurídico', o que, em outras palavras, significa ter cursado as mesmas faculdades tradicionais que as atuais elites políticas do Judiciário cursaram", afirma o pesquisador.

Por fim, outro fator relevante constatado no levantamento é o que Almeida chama de "dinastias jurídicas". Isto é, famílias presentes por várias gerações no cenário jurídico. "Notamos que o peso do sobrenome de famílias de juristas é outro fator que conta na escolha de um cargo-chave do STJ, por exemplo. Fatores como estes demonstram a existência de uma disputa política pelo controle da administração do sistema Judiciário brasileiro", conclui Almeida.

Com informações da Agência USP


Extraído do site
http://www.redebrasilatual.com.br

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

A cama é a Senhora


Li a passagem de um Salmo da Bíblia dizendo que eu tinha que temer o Senhor. Não entendi porque tenho que temer o Senhor. Depois de um período de ceticismo absoluto, até ando entendendo que ele possa existir (ou ter existido) e ser um cara gente fina, ele e o guri dele que carregou aquela cruz que devia ser mais pesada que vaca morta de frigorífico, mas porque ter medo do barbudo? Também não entendo esse privilégio do Senhor de burlar as regras da gramática e levar maiúscula, igualzinho aos nomes próprios como Julieta, Inglaterra, Paulo ou Petrarca (que já não anda muito na moda). Jesus Cristo ok. É como João da Silva. Mas se o João da Silva for um senhor não vou escrever um email dizendo "Caro João da Silva, receio que o Senhor...blá blá blá". Não que mude alguma coisa. Pensando bem não muda merda nenhuma. Mas se a minha professora do colégio estava certa não é caso de maiúscula. Senhor, afinal, não é um nome próprio e, agora que já ando mais convencido das minhas razões do que quando comecei a escrever essa besteira, só escrevi o último "senhor" com maiúscula porque era inicio de frase. Eu ando com medo é do calorão insuportável que se aproxima, do trânsito que tem matado gente a granel. Tenho medo de não acordar de manhã, volta e meia meu celular pega no sono e esquece de tocar. E a minha cama tem um poder de sedução infalível. E como as melhores coisas da vida a gente acaba fazendo na cama (porque não gosto de sexo na areia e nem em lugares cheios de mosquitos) vou começar a tratá-la por Cama.
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**Entendidos de Bíblia e assuntos do Senhor, tentem me explicar por favor.


terça-feira, 16 de novembro de 2010

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Enquanto isso, no livro das sensações...






As sensações,
todas elas vestidas de arco-íris,
beijaram-me a testa.
E foram até as ínfimas partes
das mais remotas células que me fazem matéria viva.
Nos ouvidos chegaram-me,
suaves como só a suavidade é por ela mesma,
a gaita de boca. Bob Dylan.
Com ela vinham, do outro lado do apartamento,
aquelas batidas da colher na caneca.
Da cozinha é que vinham,
pelas mãos da que tinha pássaros nas mãos.
Todas as alegrias serenas vinham de mãos dadas,
saudar-me pela benção da boa vida.

Pelo nariz,
invadia-me as entranhas o cheiro morno do bolo de chocolate.
O sol que não sentou propriamente no sofá,
mandou a luminosidade, sua filha princesa,
atravessar a pele das pálpebras que vestiam meus olhos.
E o que com os olhos eu via,
se escureceu luminosamente quando os resguardei no íntimo da clausura.
Detive-me.
Encarcerado naquela vã liberdade da manhã.
No prazer de sentir o melhor da vida concentrados em um só estado de ser.
Senti os sorrisos mansos da vida na pele.
Tudo ia bem,
que era coisa melhor do que quando as coisas iam muito bem.


PFF

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Contos Imediatos XXXV

(Bukowski borracho cantanto Tim Maia: "Ora bolas, não me amole,
com esse papo de emprego, se'stá vendo não tô nessa, porque eu quero sossego...")



ESCREVER COM AR NOS PULMÕES DOS DEDOS
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O editor avaliou o material e ponderou que estavam sendo burladas, nos textos enviados pelo pretenso escritor, algumas regras atinentes à teoria do conto, que era, provavelmente, uma cadeira importante na faculdade de formação de escritores. Uma disciplina, por certo, cheia de livros esquemáticos e rotas predeterminadas para iniciantes nos assuntos da escrivinhação - palavra proibida como todas que não moram no livro batizado de dicionário.


O autor, que não queria porra nenhuma, mesmo querendo poder escrever porra nas coisas que escrevia; disse ao editor que não era do seu gênero ter um gênero literário, afinal, não entendia bulhufas de teoria literária, de seus gêneros, subgêneros e outras porras do tipo. Disse que também não habitava o gênero das suas preocupações a preocupação de se preocupar com a repetição de palavras como "gênero", "porra" ou "preocupação". Queria apenas vomitar nas folhas brancas as percepções que tinha do mundo e viver, pelo menos quando escrevesse, fora dos escaninhos sem ar que a vida lhe impunha.



PFF

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Lupina percepção




E se em algumas almas humanas, singularmente dotadas e de percepção sensível, se levanta a suspeita de sua composição múltipla, e, como ocorre aos gênios, rompem a ilusão da unidade personalística e percebem que o ser se compõe de uma pluralidade de seres como um feixe de eus, e chegam a exprimir essa ideia, então imediatamente a maioria as prende, chama a ciência em seu auxílio, diagnostica esquizofrenia e protege a humanidade para que não ouça o grito de verdade dos lábios desses infelizes.




Hermann Hesse, do livrinho de cair o queixo que vai indicado esse mês, O LOBO DA ESTEPE. É um nocaute para homens-lobo. Mas um nocaute que nos faz cair na lona da vida. Em riste. Aptos a viver.

Travesseiro da alma




...E até que tocá-los possa,
com unhas e dedos
com dentes e boca,
cá os imagino.
Em detalhes.
Aqueles só possíveis por intermédio da imaginação...
Cada uma das tuas tetas,
que são tetas pela naturalidade que são.
Porque vivem de ti e só.

Teus peitos guardiões do teu seio,
protetores do peito que carrega teu coração.
Teus peitos ou teu peito?
Poderá ser plural o peito teu?
Que uno carrega toda a fonte da vida?
Ah o teu peito,
pátio de escorregadores das tuas duas mamas,
de curvaturas uniformes como a perfeição
e com sinais de saudade,
aquelas pintas sorridentes.
Tatuagem dos deuses
que se preocupavam em fazer peitos femininos
com a perfeição que só à mão dos deuses é dada.

Teus peitos de pêlos diminutos.
Com pelinhos invisíveis a viver de arrepio.
Dois mundos pela metade;
bulas delicadas;
medicina das bocas envenenadas de excesso de saliva.
Pétalas de pele macia;
duas flores exclusivas,
das que nascem nas terras das nuvens no céu.

E os bicos, que combustíveis que são!
E ainda ficam fingindo, disfarçando,
com aqueles dois olhinhos sonolentos.
Os bicos de todos os tons de rosa
que nem às rosas é permitido.

Devolve teu peito,
travesseiro das tristezas minhas.
Devolve teu peito,
composição suave,
que por natural, selvagem.
Devolve teu peito.
Instintivo.
Incisivo.
Suculentos, os plurais peitos teus.
Sejam dois, ou sejam um mais um,
também são meus.
Imaculados.
Carne.
Flora.


PFF

domingo, 7 de novembro de 2010

O tempo em nós não tira férias...bom para nós!




Quem faz uma comparação com o si mesmo de um tempo atrás e não se autojulga, no mínimo, 50% menos imbecil, sofre de hipotemporalidade, que é a carência dos medicinais efeitos do tempo no organismo.


PFF

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

...e nem sei qual foi o mês

A prescrição artística dos sentimentos




Os artistas não têm sentimentos; têm uma forma de os honrar pela definição e até pelo abuso das suas invenções, que os tornam mais duradouros do que são.



Agustina Bessa-Luís

Contos Imediatos XXXIV



ELE VOLTOU
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Em 2012 a profecia dos Maias não se confirmou e o mundo acabou não acabando. Mas nem por isso deixou de ser um ano especial. Isso porque Jesus voltou à Terra para terminar o trabalho de conscientização que tinha iniciado na época que inventaram os calendários, esses que ficam espiando a calma dos empresários e outras gentes importantes nas mesas dos escritórios.


O reencarne de Jesus gerou polêmica. Os espíritas passaram a dizer que a volta do filho de Deus representava a confirmação da doutrina revelada muito tempo depois do nascimento dos calendários com Allan Kardec, o francês que falava com os espíritos depois encher a cara de espumante da melhor estirpe. Houve também um problema cartorário que impediu o registro de Jesus com o nome primordial. Alegou o tabelião que já tinha muita gente com o nome de Jesus de Nazaré – o que confirmava o sucesso da primeira campanha – e que por isso era necessário eleger outro nome para evitar o desgaste burocrático causado pela epidemia dos homônimos. Resolveu-se o imbróglio substituindo-se Jesus por Josué. Além de também começar com “ J”, rimava com Nazaré. Não confundiria o eleitorado e era um prato cheio para os marketeiros da campanha, que poderiam criar um jingle divino do tipo “Josué de Nazaré, ele voltou, vai dizer que tu não qué...”

Mas Josué não cresceu muito, era baixíssimo. Não tinha aquela cara de galã europeu nem aquele cabelo de principe encantado de outrora. Também veio ao segundo tempo da existência bem mulato, quase negro. E esse quase o impediu de faturar uma das vagas na universidade reservada aos negros pelo sistema de cotas. De fato ele não era um negrão digno do rótulo com aquela cor de cuia de chimarrão misturada com cor de burro quando foge, que é uma cor que até hoje ninguém sabe a qual das três cores essências pertence.

Aos 33 anos Josué saiu pelas ruas gritando que era o caminho, a verdade e a vida. A vizinhança disse que ele tinha enlouquecido. Os amigos do bar disseram que ele sempre tinha problemas por excesso de vaidade, principalmente depois que tomava muito vinho. Acabou trancado no hospital psiquiátrico municipal. Esperneava e gritava pelos corredores que era o salvador, que sabia o caminho, que podia ensinar o que era a vida plena e que tinha a verdade dentro da algibeira. Acabou morrendo de overdose medicamentosa.

PFF

quinta-feira, 4 de novembro de 2010