segunda-feira, 26 de novembro de 2012

mitologemas




De um sopro que a Ciência não explica e que Deus não lembra, nasceram a Distância e o Tempo. Como nessa época remota não tinha luz elétrica, internet e nem canal evangélico na madrugada, resolveram trepar. 

O Tempo teve ejaculação precoce, mas apesar da brevidade da relação, tiveram que esperar nove meses até que nascesse a Saudade. A Saudade nasceu toda torta, feia, com um olho vesgo e outro normal, o que é muito pior que uma vesguice completa. 

Quando a Saudade madurou, não deu outra: não conseguia dar pra ninguém. Por horrenda que era, nenhum outro semi-deus do colégio queria comer a Saudade. Traumatizada, se tornou uma estupradora. Na calada da noite amordaçava as vítimas, amarrava suas mãos, e depois fodia o cú de todos os que a tinham rejeitado. 

Porque os semi-deuses são imortais, continua fodendo o cú de um por um, sem cuspe nem consentimento.

sábado, 24 de novembro de 2012

mínimas coisas que se pode dizer antes do fim do mundo




As paisagens só mudam para me dar certeza de que, apesar delas, eu continuo.

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Amizade é escrever "lindaaaaaaaaa" na foto da sua amiga que é parecida com um trânsito engarrafado.

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Toda sexta-feira é santa.

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A originalidade é um cara fodido de sede no deserto. Hoje, pra ser original, é preciso morrer e ir pra praia tomar banho de sol com sunga estampada, e bronzear todo o corpo espiritual. É a última moda no além.

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A única igualdade de condições é ter um corpo - uma sentença que seria reprovada por Marx...

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A mentira deslavada é uma verdade cheia de poeira (ou) A mentira deslavada é uma verdade no cesta de roupa suja.


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O Direito é um platonismo de gente engravatada pra gente de havaianas.

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Todo casamento é por interesse: pizza congelada depois das dez da noite me faz acreditar em casamentos gastronômicos.

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Há esta eterna rejeição que atravessa o amor. O não é este querer infinito e tuberculoso. O não é o desejo escamoteado para um boeiro que leva à um esgoto. O não é o olho que flerta e a língua que lambe a própria boca. É de muito não que se faz um amor eterno.

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Numa discussão acalorada sobre o caráter natural ou artificial de um conceito, os debatedores esqueceram a possibilidade da polpa.

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O excesso de gente neste mundo, por si só, demonstra o apego dos homens à matéria, que funciona como eixo de sentido da "grande" vida dos medíocres. Permanecem peritos em gerar filhos e inábeis na geração de ideias, tanto as suas quanto as que poderiam suceder às gerações que se espalham a partir do seu sêmen aguado e sem sal... Fodem demais e pensam de menos simplesmente porque ainda rastejam - é sua condição, seu degrau da escada. Na grande avenida da vida ainda desfilam carcaças que usam máscaras emprestadas. Um carnaval fora de época, sem nudez, sem espírito.

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Não receber do outro, mas encontrar o outro: é este nosso tema de casa enquanto vemos a paisagem que passa neste vagão que, em curva, não nos permite ver o destino.

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Um tempo em que mais estamos do que somos, e que, quando somos alguma coisa, deixamos de ser todo o resto...

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Mais e mais vejo a abundância e o quanto quem a tem, tanto a merece. Abundância é a caridade discreta que a vida faz a todos os tipos de miseráveis indiscretos.

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Longe, toda mulher é fria.

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Maturidade é jogar no próprio time.

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As mulheres não gostam de homem que conta vantagem, só gostam da vantagem.

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Há uma obviedade que se esconde no mover (ou no não mover) das peças que não aparenta a intenção de quem as move. É a representação que se representa ocultando a vontade.

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Jogar um jogo é o ânimo de jogar um jogo - uma obviedade escondida da sedução.

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As maiorias são feitas de fracos. as minorias são feitas de fortes. E há esta eterna equivalência, este empate sem gols num jogo jogado pra cumprir tabela.

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Um cálculo eterno é insuportável até para as calculadoras. anda a nuvem e volta e faz sombra em outro canto. a medição do jeito que antevê a reação do rosto, que prediz a palavra, que sabe onde tremerá o músculo involuntário... - sobretudo de arrependimento se alimenta essa gente casada com o óbvio.

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A vida seria menos pesada se trocássemos exclamações por risos e orgasmos.

a ciência não é feliz



então, no meio de todos os outros, um dia qualquer, como um coringa que aparece num jogo de cartas, ou um feriado municipal que tínhamos esquecido, ou uma nota de 100 que ficou na bermuda do verão passado; resolve nos dar um abraço: somos felizes sendo o que já somos, fazendo o que já vinha sendo feito e tendo o mesmo de sempre. é quando Deus nos manda um sinal de fumaça que caminha de cima pra baixo. e a física não consegue explicar como pode ter a fumaça invertido sua trajetória natural. e talvez ser feliz seja uma inversão de valores de estar vivo, um eclipse, uma coisa que só aparece quando não olhamos, uma Medusa que deve ser vista por  um escudo de bronze, assim meio indomável a não ser que se caminhe pelo ar.

os pesos da imanência





somos os jesuses e a academia é a cruz.
começo a fazer aquela força toda,
como se fosse mexer o globo terrestre sem a ajuda de nenhum amigo.
no 1-2-3 você ainda pensa que pode...
depois do 4-5-6 você já começa a perder a esperança.
então uma bunda passa, dura como um osso, gostosa, florida, fluida,
mas ela será dos trogloditas, 
que tem braços maiores que a minha coxa. 
O Obama reeleito, 
o primeiro negro e
ncabeçando o STF, 


os gols da rodada...


tudo acontece nas notícias da televisão enquanto você é uma formiga operária erguendo um peso de merda.
7-8-9...
a coisa começa a fritar, foder, TRUCIDAR, ESTILHAÇAR o pobre músculo,
como se enfiassem uma lâmina crua na sua carne mais crua ainda.
você sabe que as mesas de bar estão cheias de gente feliz entornando o caneco, 


chopp, jack daniels com duas de gelo, caipirinhas à beira-mar.
nos motéis os caras estão metendo e olhando a bunda das namoradas no espelho do teto.
as famílias brincam com suas crianças no tapete da sala.
e você ali, com aquele PROGRAMA DE EXERCÍCIOS,
3 séries de 10, 12, 15 repetições


um verdadeiro cardápio de autotortura consentida, 


feito por um computador filho da puta que NÃO te conhece, 


que NÃO sabe o tamanho tua preguiça, 


ou do quanto você acha LENTO aquele processo, 


do quanto você sabe que está sendo SABOTADO pela obrigação da "saúde" ou da "boa forma" 


(boa forma de trepar com as bunda-osso)
no 10-11-12, inevitavelmente se comete uma espécie de suicídio.
é um último suspiro antes da morte, 


uma dor de parto, 


um esmagador de dedo de bruxas na idade média.
a hipoglicemia e a fraqueza reclamam.


um rosto PÁLIDO no espelho que é o meu.
os livros estão todos lá, esperando por olhos.

o exercício do abstrato é dolorido, mas é como uma função já exercida.
em vidas pregressas nunca fiz academia, é alguma coisa que não sei.

então eu resolvo a questão com simplicidade: 


mando aquele peso todo pro INFERNO.
o natal está aí, o fim de ano.


vou encher o rabo de carne de porco, lentilha,


fios de ovos, aquela cereja sem vida da decoração, 


peru e e arroz à grega,


cervejas em comemoração ao papai noel.


e em janeiro, se o mundo não acabar, eu resolvo esse coma com a imanência.

domingo, 4 de novembro de 2012

vistas grossas ao que pulsa






A chamada antes de ouvir a voz dela era sempre precedida pela trindade do TÚ-TÚ-TÚ. Geralmente três TÚS previsíveis. Um sempre TÚ soa meio ansioso, adolescente. Dois TÚS parece corriqueiro e oficial. Dois TÚS é coisa de repartição pública e ligações de horário comercial. Então três TÚS era o que de menos óbvio haveria antes do início da indiferença, mesmo que falseada. Quando se conhecem às vezes as pessoas falseiam indiferenças,  é o blefe do amor que é perdoado por São qualquer coisa no dia do Juízo Final. Três TÚS é sinal de sinal de 
amor correspondido. Então ela falava um "alô" todo doce, e sempre parecia que antes de atender se masturbava. Um doce quase ofegante. 

A voz era a música de uma paz que vinha de uma viúva negra e quente e peluda. Mesmo em direção a uma morte presciente, firme eu ia em direção ao suicídio. Todos esses suaves suicídios que nem a vida, nem os homens, nem todos os seus códigos estúpidos poderia criminalizar... Além do instituído e das prescrições sociais esta a lacuna da vida, acontecendo em forma de dança, de preguiça e de sonho, incontrolável e fluida. Esse ir-se morrendo em direção ao amor vai nos deixando biruta até que a gente pare de respirar.

Então foi um "alô" e "alô". Conectados mesmo antes da conexão.