quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Sonho inventado

ENTREDEDOSMURCHOS

No sonho vamos ter um banho,
de água quente, morna ou fria.
No ar as músicas de antanho,
entrededosmurchos,
até o iluminar do dia.



Mais homenagens aos ceguinhos do castelo


SONETODACONFORMAÇÃO

Moribundos pela geral anestesia,
não veem o olhar, nem sentem o cheiro.
O amor que se distrai e se esvazia,
é menos pele e mais dinheiro.

Em paz nos infernos meus,
percebo o estranhamento.
Essa gente não percebeu
que vai viver sem sofrimento?!

E a luz que em mim acender,
há de queimar alguma consciência.
Pois o óbvio quer aprender,
que já se grita o fim da decência.

É crueza de porco ora carneado.
E o devoro sem perdão.
Sadio em meus carnudos estados,
opto pela aproximação.

As cordilheiras tortuosas,
a alongar os caminhos teus,
darão flores bem viçosas
para quem inconformar como eu.

E o brilho que crês ser belo,
seguirá contigo até que jaza.
Inconsciente no teu castelo,
escravo da tua alma,
ceguinho na própria casa.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Macabéa e a simplicidade ou Manifesto contra a cegueira (III)

Sendo quase óbvio e me apropriando dos clichês, é quase impossível ler Lispector e não virar um leitor de Lispector. E um pouco mais complicado também. Acabei de ler A HORA DA ESTRELA e fiquei tocado com o tema da simplicidade que parece ser seu mote. Tudo por que essa conexão invisível entre o sentido de um conjunto de letras e o "DNA" daquilo que previamente já tínhamos pensado, sempre traz a certeza de que não somos tão unicamente esquizofrênicos nesse mundo que é to tamanho de um feijão. Já faz tempo que venho escutando do meu guia espiritual que é preciso baixar as armas, que guerra não há e que, paradoxalmente, a maior evolução encontramos nas coisas mais simples! Esse simples em nada se confunde com medíocre e mediocridades. Ser medíocre é não ser capaz de emergir desse clima de mediocridade - como bem nominou Ingenieros - e, se você não entendeu muito bem isso, é sinal de alerta!

Mas Lispector é quase uma alma coletiva. Transita entre nossas cabeças para contar tudo aquilo que havíamos cogitado e que morreu no meio da ponte que une nossa consciência e nossa linguagem. A diferença dela é ter a coragem e a destreza que não tivemos para contar as conjunturas do nosso imaginário diabólico, que era o dela também. Os aparentes absurdos que pensamos e que pensam todos (muitas vezes sem sabê-lo), são quase sempre tolhidos pelos sindicatos, associações e outras instituições da mediocridade, afinal estão sempre em maior número e por isso assustam mesmo em tempos pós-censura. Isso não pressupõe não sentir dor por ser diferente. As linhas de Lispector quase sangram com sua própria dor. A sua dor que é a dor de Macabéa, sua personagem que, de tão sua, parece ser ela própria.

Não vou enredar a história pois vale a pena tirar impressões individuais. É mais um bom livrinho pra ler no banheiro. Mas esse pequeno manifesto da simplicidade muito ensina sobre possibilidades de viver (ou de não viver) no mundo de hoje. E lembro que a própria Lispector, em uma dada altura da vida chegou a dizer que tinha perdido o jeito de ser gente, o que, de fato, pode ter sido um grande antimarketing pessoal. De qualquer forma essa é uma possibilidade das almas geniosas. Provavelmente não quisera ela se tornar um ícone da literatura, queria apenas escrever suas dores enquanto todos agem para renunciar sempre suas próprias pulsões. Deixar de lado o animal do animal racional que somos como diz sempre o querido Warat. Mas como é ser simples? A simplicidade de Macabéa era uma mistura de João Ninguém com o ceguinho do castelo com uma planta mal cuidada. À parte essa parca qualificação, tinha um grande tesouro: uma venda nos olhos. Que a fazia mais rir do que lamentar. Que fazia crer que a felicidade é mais uma daquelas coisas que mesmo sem poder enxergar, acreditamos simplesmente, exatamente como acreditamos na estrutura dos átomos sem nunca ter visto um sequer.

A Macabéa inventada por Lispector tinha a dupla pobreza que a própria autora denuncia no preâmbulo. Era pobre de dinheiro e pobre de espírito. Era dispensável no mundo e, mesmo assim, se diferenciava de quase todo mundo porque não se imaginava especial. Essa coléra que todos sempre tem de sentir que, de algum jeito, são completamente especiais e insubstituíveis. Macabéa não. Era dona de seu próprio desprezo inconsciente. Era simples e sem futuro, pois o futuro era a gravidez do presente que sequer sabia se iria vingar. Talvez ela abortasse numa diarréia seu próprio futuro. Ela acreditava em anjo e, porque acreditava, eles existiam. Nos diálogos com Olímpico, Macabéa desmaiava seus leitores: Acho que não preciso vencer na vida! E fechava seu ciclo de animal humano errante pelo mundo quando dizia: Eu vou ter tanta saudade de mim quando morrer!! Certo dia Olímpico (o namorado que Macabéa perdeu)sentenciou: Macabéa é como cabelo na sopa, não dá vontade nenhuma de comer.

A profusão de quereres diários nos aprimoram. E sofremos com a genuína distância que criamos entre nós e o sim/não. E com o medo que temos de dizer ambos em cada situação dada. E outro medo correlato pelo sempre divino julgador: o olhar alheio. Escravizamos nossa simplicidade porque ela não é bem vista. E mais uma vez sucumbimos aos agrupamentos de ceguinhos do castelo. A sinceridade também é coisa que assusta o bicho homem. Deve ser por isso que começa com o mesmo S de simplicidade. Deixar as grandes manobras pode ser uma redenção, afinal não precisamos nada mais que seguir respirando sem rinite no mundo das dores. Por isso que a anestesia foi uma grande invenção da metáfora humana. Seu equivalente para as dores da alma, ainda se há de descobrir. Enquanto isso ficamos nos goles de cachaça já que se deve desconfiar demais do Prozac e seus filhotes.

Macabéa, que teve a sorte de ser apenas um personagem inventado, não teve essas preocupações. E sua redençaõ literária foi morrer no meio do seu charco raso e pessoal, que era o raso de Clarice. Uma desencontrada que suspeitava das respostas corretas demais e que se via nos mesmos labirintos de todos. Aliás, se você não pode ver seu próprio labirinto, outro sinal de alerta! Pode estar a suceder que seja o porteiro do castelo dos ceguinhos. Pessoa, aliás, já alertava sua perdição: Perdi-me dentro de mim/Porque eu era labirinto/E hoje ,quando me sinto/É com saudades de mim.

Essas curvas interiores que não entendemos e que nos fazem não conseguir significar categoricamente a vida e a razão de estarmos transitando no mundo das dores, acabam por ensinar que a simplicidade representada pelo sim e pelo não ainda são o que de mais fidalgo e sincero (com nós mesmos) existe no lado legal de ser humano. Então termino sem terminar, completamente "nem aí" com a metódica textual. E hoje mando um abração para o mundo, cheio de clichês desarmados, de beijos despreocupados e de um pedido de perdão: Macabéa, eu também não te comeria.



domingo, 27 de setembro de 2009

Melô dos ceguinhos do castelo



Blues da Piedade (Cazuza)

Agora eu vou cantar pros miseráveis
Que vagam pelo mundo derrotados
Pra essas sementes mal plantadas
Que já nascem com cara de abortadas

Pras pessoas de alma bem pequena
Remoendo pequenos problemas
Querendo sempre aquilo que não têm

Pra quem vê a luz
Mas não ilumina suas minicertezas
Vive contando dinheiro
E não muda quando é lua cheia

Pra quem não sabe amar
Fica esperando
Alguém que caiba no seu sonho
Como varizes que vão aumentando
Como insetos em volta da lâmpada

Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Pra essa gente careta e covarde
Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Lhes dê grandeza e um pouco de coragem

Quero cantar só para as pessoas fracas
Que tão no mundo e perderam a viagem
Quero cantar o blues
Com o pastor e o bumbo na praça

Vamos pedir piedade
Pois há um incêndio sob a chuva rala
Somos iguais em desgraça
Vamos cantar o blues da piedade

Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Pra essa gente careta e covarde
Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Lhes dê grandeza e um pouco de coragem

As portas do mundo...


OUTRA AVENTURA DA IMORTALIDADE*

Mauí, o fundador das ilhas da Polinésia, nasceu metade homem e metade deus, como Gilgamesh.
Sua metade divina obrigou o sol, que andava muito apressado, a caminhar lentamente pelo céu, e com um anzol pescou as ilhas, Nova Zelândia, Havaí, Taiti, e uma atrás da outra foi içando-as do fundo do mar e as colocou onde estão.
Mas sua metade humana o condenava à morte. Mauí sabia disso, e suas façanhas não o ajudavam a esquecer.
À procura de Hine, a deusa da morte, viajou para o mundo subterrâneo. E encontrou-a: imensa, dormindo na neblina. Parecia um templo. Seus joelhos formavam um grande arco sobre a porta escondida de seu corpo. Para conquistar a imortalidade, era preciso entrar inteiro na morte, atravessa-la toda e sair pela boca.
Diante da porta, que era um grande talho entreaberto, Mauí deixou cair sua roupa e suas armas. E entrou, nu, e deslizou, pouco a pouco, ao longo do caminho de úmida e ardente escuridão que seus passos iam abrindo nas profundezas da deusa.
Mas na metade da viagem cantaram os pássaros, e ela despertou, e sentiu Mauí escavando suas entranhas. E nunca mais o deixou sair.


* Extraído do livro Espelhos de Eduardo Galeano.

sábado, 26 de setembro de 2009

Batendo um papo divino

EFEMERIDADES

Alou ! Alô? Alooooouuu?!!!
Boa tarde...bom, na verdade nem sei se ai
o tempo tem tempos como aqui,
mas enfim...eu queria falar com Deus, ele tá?
...
Hmm, ta no banho é...será que demora?
Bom, vou esperar mesmo assim...
Não querendo ser chato mas já sendo,
será que Ele demora mais que 4 minutos?
Como assim porque 4 minutos?
Olha, isso é pessoal, então queria falar diretamente com Ele.
Não, não vou explicar.
Se não sabe, então vou esperar mesmo assim...
...
...
Alô! Oi...é o Senhor?
Como assim assessor...?!
Que tipo de acidente Ele sofreu? Foi sério?
Ah mas então se só bateu a bacia não foi nada demais,
por aqui geralmente as pessoas da idade Dele
quebram a bacia quando caem no banho.
Será que ele demora?
Sim, sim, sim é só com Ele...
Olha, também não me interessa se teu cargo é de confiança...
Mas do banho pelo menos Ele já saiu né?
Se secando...
Hmmm, olha amigo, já que você é o assessor,
pede se Ele pode agilizar porque tenho pouco tempo...pode ser?
Brigado viu!
...
...
Alô! Alouuuu
Schhhhhhhhhh
Alouuu? Oi...a ligação ficou ruim de repente...schhhhh
Tem um ruído né?
O Senhor me escuta?
Bom, se não entender eu repito, ok?
É o seguinte, desculpa por ligar tão pouco,
sabe como tudo é corrido por aqui né...
Ta escutando? Schhhh...ok, vou falar com calma.
Bom, pra ser mais direto,
lembrei de ligar pro Senhor porque
estava escutando um tango argentino excelente, quase mágico.
O tango tinha 4 minutos e queria falar com o Senhor
nesse meio tempo...porque enquanto o tango entrava
doce nos meus ouvidos, olhei as fotos de uma loira, daquelas que ficam maravilhosas nas fotos,
peitos redondos e pernas longamente longas. Até a foto cheirava bem!
Acontece que nem conheço ela.
Pois é, mesmo assim, já fiz todas projeções possíveis...as melhores possíveis.
Já me vi casado e cheio de filhos com ela. Pensei até nos nomes.
Ela é linda, até se parece com a Scarlet Johansson, aquela do cinema.
O senhor já viu algum filme dela?
Alouuu? O senhor entendeu o que eu disse?
Schhhhhhh...
Não entendeu?!! Olha ou o Senhor troca esse telefone ai
ou presta mais atenção quando as pessoas falam...
Eu sei que o sinal da Vivo anda complicado,
mas agora deixa.
Não, agora não adianta repetir,
os quatro minutos do tango já passaram...
Deixa pra lá...Tchau!

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Por alheias mãos: Manifesto contra a cegueira (II)


O texto a seguir foi extraído do blog de José Saramago e compõe seu recente livro publicado no Brasil pela Companhia das Letras: O CADERNO, homônimo ao próprio blog. Ainda que todos os textos do livro se encontrem disponíveis no site, acredito que ainda não faço parte da revolucionária geração que vai trocar o papel pela luminosidade das telas. Mesmo os notebooks, por menor que sejam, tem uma série de desvantagens em relação ao velho e bom livro: não podem ser lidos confortavelmente na cama, não podem ser assinados e sublinhados a gosto e também não podem ser emprestados. Isso sem falar que não podem ser levados para o banheiro, local sempre luminoso para frutíferas leituras (os ceguinhos do castelo dirão: que horror publicizar a leitura de banheiro, completamente contra a moral e os bons costumes!!!). Aliás está ai um bom tema: as leituras de banheiro. Por razões óbvias esse texto poderia fazer parte do compêndio do Manifesto contra a cegueira e também por isso é aqui destacado.

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PURA APARÊNCIA

Suponho que no princípio dos princípios, antes de havermos inventado a fala, que é, como sabemos, a suprema criadora de incertezas, não nos atormentaria nenhuma dúvida séria sobre quem fôssemos e sobre a nossa relação pessoal e colectiva com o lugar em que nos encontrávamos. O mundo, obviamente, só podia ser o que os nossos olhos viam em cada momento, e também, como informação complementar importante, aquilo que os restantes sentidos – o ouvido, o tacto, o olfacto, o gosto – conseguissem perceber dele. Nessa hora inicial o mundo foi pura aparência e pura superfície. A matéria era simplesmente áspera ou lisa, amarga ou doce, azeda ou insípida, sonora ou silenciosa, com cheiro ou sem cheiro. Todas as coisas eram o que pareciam ser pela única razão de que não havia qualquer motivo para que parecessem doutra maneira e fossem outra coisa. Naquelas antiquíssimas épocas não nos passava pela cabeça que a matéria fosse “porosa”. Hoje, porém, embora sabedores de que, desde o último dos vírus até ao universo, não somos mais do que composições de átomos, e que no interior deles, além da massa que lhes é própria e os define, ainda sobra espaço para o vazio (o compacto absoluto não existe, tudo é penetrável), continuamos, tal como o haviam feito os nossos antepassados das cavernas, a apreender, identificar e reconhecer o mundo segundo a aparência com que de cada vez se nos apresente. Imagino que o espírito filosófico e o espírito científico deverão ter-se manifestado num dia em que alguém teve a intuição de que essa aparência, ao mesmo tempo que imagem exterior captável pela consciência e por ela utilizada como mapa de conhecimentos, podia ser, também, uma ilusão dos sentidos. Se bem que habitualmente mais referida ao mundo moral que ao mundo físico, é conhecida a expressão popular em que aquela veio a plasmar-se: “As aparências iludem”. Ou enganam, que vem a dar no mesmo. Não faltariam os exemplos se o espaço desse para tanto.
A este escrevinhador sempre o preocupou o que se esconde por trás das meras aparências, e agora não estou a falar de átomos ou de subpartículas, que, como tal, são sempre aparência de algo que se esconde. Falo, sim, de questões correntes, habituais, quotidianas, como, por exemplo, o sistema político que denominamos democracia, aquele mesmo que Churchill dizia ser o menos mau dos sistemas conhecidos. Não disse o melhor, disse o menos mau. Pelo que vamos vendo, dir-se-á que o consideramos mais que suficiente, e esse, creio, é um erro de percepção que, sem nos apercebermos, vamos pagando todos os dias. Voltarei ao assunto.


quarta-feira, 23 de setembro de 2009

From delicatessen's mind... (2)


CRIATIVAMOS

Me distorço
na promessa
do teu ninar.
Me transformo
no fulgor de
teus olhos
a me endireitar.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

From delicatessen's mind...

MESMOOURO,
OUTROSTOLOS
A crença oferece
ouro ao simbólico.
O mórbido simbólico
- que alimenta senão almas -,
mata corpos de verdade.
Mortos de fome,
crentes alimentam
o símbolo que lhes
garante comida
na incerteza da morte.

Um plágio necessário


"Permita-se.
Aposte todas as suas fichas.
Jogue alto.
...perder-se também é um caminho!"
(Clarice Lispector)


Duplamente plagiado de:
http://wunschelrute.blogspot.com/
e
http://olharamais.blogspot.com/



domingo, 20 de setembro de 2009

Quadra de um delírio


EMCABEÇAS

As palavras sempre ficam,
a rodar em imaginário carrossel.
Os olhares que ainda fitam,
perguntam fé e drama...inferno e céu.

Cafés surrealistas em Buenos Aires


No próximo dia 8 de outubro uma caravana organizada pela IMED parte para capital argentina para acompanhar os cafés filosóficos da Casa Warat. Raro momento para reencontrar a sensibilidade que ficou pelo caminho passado do mundo. Oportunidade de ouvir aqueles que fazem questão de permanecer al lado del caminho, fumando el humo de impresiones distantes mientras todo pasa. Ambiente creado para risas regaladas, espacio hecho para que nadie se aflija y para que el bello se haga magicamente...estas son todas simples intuiciones de mi destino!


Segue cronograma das atividades:


Cafés Surrealistas
Los cafés surrealistas de Buenos Aires serán divididos en dos etapas: del 9 al 10 y del 28 al 30 de Octubre

Día 9
- 18.00hs Café "Nutrientes y Tóxinas"
Anima: Grupo Mediaras – Cynthia Borgnia y Verónica Bianchi
Día 10
- 9.30hs Café "A pedagogia do novo é uma aposta na sensibilidade"
Animación colectiva.
- 11.30hs Café de Biodanza y sensibilidad.
Anima: Pires Dornelles
Lanzamiento del 4to volumen de la obra de Luis Alberto Warat "La digna voz de la majestad" de la editora "Fundação Boiteux".

Cafés Surrealistas 2da parte del 28 al 30 de Octubre: Se mantiene la programación anunciada.
Miércoles 28
10.00hs. Café "El hedonismo social" - Pensamiento de Michel Onfray
Anima: Leonel Severo Rocha
19.00hs. Café Fernando Pessoa: Un diálogo con Luis de Camoes
Animan: Joan Luis de Oliveira Roth y Albano Marcos Bastos Pêpe.
Jueves 29
10.00hs. Café "La ciudad de los sueños"
Anima: Fabio Quetglas
17.30hs. Café "Astrología y destino"
Anima: Diego Bianchi

Viernes 30
10.00hs. Café Pedra de Raio Acoso racial y otras problemáticas
Animan: Sérgio Sao Bernardo y Gabriele Batista Vieira
15.00hs. Café de la mujer: culpa y sometimiento.
Animan: Patricia Hermida y Alicia Suárez.
19.00hs. Cabaret Macunaíma sobre Kafka Filosofía y literatura teatralizada
Anima: Santiago Willis Guerra 23hs. Fiesta Aniversario del Profesor Warat

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Saudosismos de gol


Esse é um vídeo que fala por si só para quem sabe o prazer de um futebol com os amigos. Que lembra uma época em que tudo se resumia a fazer um gol (numa goleira sem redes) com um passe na medida feito pelo melhor amigo. O "maestro" nem bem comandava uma sinfonia futebolística. O "artilheiro" deveras não era tão vocacionado com os gols. Mesmo assim, se tratava de fantasia. E por isso é uma doce lembrança.
Inventávamos jogadas e bribles mágicos enrolando as gambas e tínhamos até o toque inicial da partida com "grandes" personalidades da cidade. Grande Societats!! Tinha o antes e o depois, que fazia a barriga doer de tanto rir ou de tanto abaca da praia, solidariamente distribuído. Era mesmo um bem-estar incomensurável que passou e que deixa saudade. Que a vida possa reservar grandes momentos e grandes amigos para todos. Vininha, um abraço mais que saudoso!

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Chocolate filosófico



RISCOSATUAIS

Antigamente, as barras de chocolate
tinham quatro quadrados por fileira.
Hoje, depois que todos viraram coisas,
as barras de chocolate tem
apenas três quadrados por fileira!
Provavelmente seja mais vantajoso:
quem vende fica mais rico e quem come fica menos gordo.
O rico vira uma coisa com muito dinheiro.
O ex-gordo, de tão magro, fica uma coisa de tão feio.
O magro sem coisas para comer, pode até morrer de fome.
O rico cheio de coisas, também pode ser morto pelo magro.
Quando acordaram de manhã, o mundo era um risco só:
o rico corria o risco de ser gordo e o magro já era um risco.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Manifesto contra a cegueira ( I )

A idéia de, pouco a pouco, denunciar a falta de lucidez em uma espécie de manifesto fragmentado surgiu exatamente agora. Procurando imagens e pensando nesse assunto (seja a cegueira ou falta de lucidez, e já estão dadas as opções para otimistas e pessimistas), percebi que muitos assuntos mundanos, dos botecos à academia, giram em torno deste tema que é tão velho quanto o homem: o não percebimento, o não dar-se conta.

Desde o Gênesis, em que se esfarela divinamente aquele que experimenta a árvore do conhecimento no jardim do Édem (pelo que lembro era o próprio Adão, não importa, enfim), passando por Platão, que provavelmente tenha lido esse texto preâmbular da Bíblia para escrever a sua manjada Alegoria da Caverna, chegando contemporâneamente à metáfora social de Saramago em Ensaio sobre a cegueira; é intrigante que tanta obviedade ainda seja tão pouco percebida.

E penso que o excesso de informação - que, diga-se, é bem diferente que excesso de conhecimento - quita, sobretudo, a sensibilidade e acaba drogando as consciências desse pessoal que pensa apenas que bonito é ser bonito. Até porque, verdadeiramente, o bonito dos lúcidos nunca é o mesmo bonito dos bonitos, que geralmente, de tão bonitos ficam cegos de tanto se olhar no espelho e dizer em silêncio a si mesmos: estou suficientemente bonito para andar por esse mundo...Basta observar as menininhas de pouca idade que quase perdem o passo observando se o penteado e a bunda estão bem alinhadas no reflexo das vitrines nas calçadas...É uma cena sociológica chocante! E na Índia tupiniquim as gostosas continuam com a bunda mais arrebitada do que nunca, o modelo das menininhas-fantoche. Elas se modelam ao padrão globo: salto alto para empinar a bunda, jeans para esconder a celulite, cabelos de gente morta pra encompridar o cabelo da cabecinha oca e mais um belo par de silicone hermeticamente comprimido. Ficam, deveras, atraentes! Porém não se dão conta que as Julianas da globo são personagens e elas, reais.

Mas o assunto não era exatamente esse. Na verdade um correlato. Semana passada lancei no meu msn a seguinte frase: A capital nacional da literatura é campeã nacional na novela Caminho das Índias, parabéns Passo Fundo! E para minha surpresa, a frase, por si só, deu muito ibope. Gente que contestou, gente que concordou. Deu de tudo. Porém o que não deu muito ibope foram os argumentos, de lado a lado. Não se tratava exatamente de sugerir que a novela não tinha qualidade, nem mesmo que falar da Índia não estava tão na moda assim. Eu não poderia fazer qualquer juízo porque sequer assisti um capítulo. A preocupação era mesmo contra o histórico não percebimento, com a manipulação das massinhas cinzentas com catarata, com a reprodução de sentidos e horizontes que geralmente se reproduzem na televisão.

A novela em si serve para entreter. Igualzinho a qualquer outro programa, sair para tomar uma cerveja, ver uma partida de futebol ou qualquer coisa. Trata-se de um momento relax. E sendo esse o objetivo, não há o que argumentar em contrariedade. O que combativamente defendo é a capacidade de não alienação. Se limitar a ver só novela, é sim, um problemão. E me lembro de não lembro quem que dizia: "A televisão para mim é um grande incentivo à cultura, cada vez que algúem liga ela, vou para a sala ao lado para ler um livro".

Por outro lado, fiquei a pasmar por uns instantes: minha querida Passo Fundo ganhou o título de campeã nacional de ibope em caminho das Índias, até ai ok! Mas leva desde tempos o título de capital nacional da literatura! Confesso que pensei: alguém encomendou essa pesquisa. Pelo que soube temos aqui na cidade, a estatística de que meus conterrâneos leem em média 6 livros por ano. Compensações à parte, confesso que, ou habito os lugares errados ou os leitores daqui estão armando uma revolução silenciosa contra as menininhas que olham a bunda empinar nas vitrines. Mas desconfiei um pouco mais, notadamente por dois fatos: não temos uma livraria de grande porte aqui e também não vemos ninguém lendo em espaços públicos. Quando comentei isso com meus alunos, acordamos que, de fato, ninguém sairia para ler na Gare ou pelas praças da cidade...uma total falta de hábito, inclusive minha que nunca li nada fora bulas de remédio e propagandas de sinaleira em espaços públicos. Mesmo assim é intrigante quando se vê nas grandes cidades pessoas lendo em todos lugares, praças, metrô, ônibus, calçadas; da Europa à Porto Alegre. E nós, a capital da leitura, não! Amanhã, se não chover, vou ler um livrinho curto embaixo da estátua do Teixeirinha, para autenticar meu discurso.

Também comentamos na aula que talvez seja a velha falta de incentivo ou os elevados custos dos livros. Outros rebateram falando de iniciativas como as poesias nos ônibus (que por ser nos ônibus, por si só, acabam desvalorizadas, porque quem anda em ônibus não aparece nunca como protagonista das novelas e logo não é muito um bom "modelo a ser seguido").

Penso na síndrome de Capgras: uma patologia, não sei se nos olhos ou no cérebro, em que as pessoas acometidas, mesmo com capacidade de reconhecimento visual, não conseguem disntinguir pessoas próximas como os familiares, não reconhecem seus afetos, enfim. Essa talvez seja uma boa analogia em relação à essa síndrome de preferir o produto pronto, ainda que seja defeituoso, do que as pacienciosas linhas de algum texto que nunca terminam de ser elaboraradas. E esse vício também passa pelas novelas, que incentivam as paixões efêmeras aos amores duráveis. Estimulam o extase do momento presente e o gozo, despreocupadas com a qualidade esticada dos instantes. Lançam palmas e assovios ao malandro, ao enganador e ao traidor. Tudo o mais é chacota. Mas o mundo não pode parar, afinal, é preciso seguir, é preciso viver a vida!

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Guarde essa frase para a sobriedade de amanhã: samba em bolero


para minha amiga Bruna,

SAMBAEMBOLERO


A música que sonava pela penumbra
do alaranjado dos tijolos,
do frio que atravessava as borrachas dos sapatos,
das multicores luminosas do teto ia,
junto com a ressonância dos copos em brinde,
destruindo a armadura de cada personagem,
revelando a pureza de cada um,
tirando a máscara que escondia
a nudez moral daqueles viventes.
Tornamo-nos, no eterno daquele instante,
crus como carne de bicho morto.
O álcool nos curava como nunca
e nos sentíamos um tanto mais
que aquele pouco habitual
dos que podiam também mais.
Era nossa sã anestesia,
a morfina de nossas consciências.
O alívio das nossas insatisfações.
A vodka era nossa apoteose,
transformava o soturno da música
em impulso para a dança.
Irracionais, inconscientes e condicionados
pela embriagues do momento,
entramos no fabuloso mundo
que nos permite transmudar conceitos.
O frio era a razão do abraço.
A tristeza, uma jovem sensual de seios salientes,
pernas atrativas e outros predicados de sempre.
A solidão caía vencida por nossa plural alteridade.
Já não mudava saber que lado era o oeste.
Dançávamos poeticamente.
Fazíamos do samba um bolero:
até o dia voltar, até o álcool passar
até o frio abraçar de novo nossas costelas quentes.

Mais embates solitários com o amor...


DÓCILCASMURRO

Poderemos comprar amor?
Não se oferta espaço de discurso
para as menininhas de vinte anos
que transam com velhos de sessenta,
por temerário risco de ledo engano.
Nem às putas tristes de Garcia Marques.
Nem à todos que simplesmente
se conformam com a vivência,
com o parelelismo estável das coisas,
e outras corjas de covardes
que rastejam como minhocas anelídeas
sofregamente entre o mundo
e seus belos espaços
A todos esses apavorados com o misoneísmo
- que mesmo humano deve ser vencido -
decreto falência.
Vocês faliram em seus próprios sentidos.
Faliram junto com suas respostas
eivadas de confortável parcialidade.
Como o antiqüíssimo adágio contava:
“É preciso se livrar de tudo,
para se tornar realmente livre”.
E o amor, que não podem os covardes
verdadeiramentenem comprar,
nem manter e nem hipotecar nas linhas do tempo;
segue disponível como a docilidade de selvagens domesticados,
a voar sorrindo em baixa altitude
nos espaços habitados pelos livres.
Ao alcance da mão tal qual
as maçãs nas macieiras.
Livres à procura lúcida por outros.
Mudam-se as gentes,
mas não muda o amor e seus filhos.
E os livres namoram a vida inteira com o amor,
ainda que em bruta solidão.

domingo, 13 de setembro de 2009

Ah que saudade eu tenho da Bahia !!!




Ano passado estive em Salvador, muito mais visitando amigos e amigas do intercâmbio do que a trabalho propriamente. Desde lá carrego um martelo que sonou durante esse ano e pouco na minha cabeça quando Peu me disse em bom baianês: "Oxx (será que é com x?) Paulo faça um blog! Eu fiz um e vou largando meus escritos lá". Coincidência ou não Salvador e as pessoas que conheci lá, deixam saudade. Não sei se tive sorte ou se realmente o povo de lá viaja por territórios mais profundos da alma humana e, assim, tornam-se mais humanos e mais interessantes que o habitual. Mais livres. Caetano que o diga.


Além de Peu que é uma pessoa de grandiosa alma, lá também habita Déa, talvez o espírito feminino mais completo que tive a sorte de conviver. A carícia que era sua lucidez desde aquele tempo não vi mais. Além disso e de me apresentar Geraldo, tive com ela em Santiago, um dos dois momentos hierarquicamente mais mágicos e encantados que tive na vida, que restará guardado a quantas chaves forem necessários no coração. À ti Déa, meu eterno carinho! Inesquecíveis também Pati e seu azeite de dendê natural e Japa aventura, que esteve visitando o Rio Grande e tomando uma cerveja com o "bem" em Porto Alegre. Também Cela e seu romance eterno com o "judiado" encatava com a pureza sublime que tinha no rosto. Alice que carregava uma nobreza de baixa altitude em cada passo e agora está preocupantemente muito magra, são pessoas que também serão queridas para sempre.
Concluímos eu, Déa e Peu, depois de uma jam session que "só sozinho a gente é a gente mesmo". Mesmo que a frase tenha ficado bem desenhada, paradoxalmente, lembrando de vocês penso que é na alteridade que nos tornamos mais completos, mesmo que menos autênticos.

A todos vocês meus queridos amigos, um afeto sincero do gaúcho!

Treinando a memória e se tornando juiz



Que capacidade queremos daqueles que julgam o direito das gentes?
Lembrando Dante Aligueri que proclamava a lucidez em letras ao questionar: "Quem és tu que queres julgar,com vista que só alcança um palmo, coisas que estão a mil milhas?", é que se desenvolveu esse texto-desabafo. Esperançoso de que a fagulha lançada pelo CNJ seja o início de uma transformação em relação àquilo que esperamos daqueles que julgam-as-dores!

http://unisinos.br/blog/ppgdireito/files/2009/06/texto_sobre_resolucao_cnj1-paulo-ferrareze.pdf

Filosofia da causa e consequência

EUSESEISE

Se alongo a fala...é pra encontrar mais de nós.
Se aumento a pausa...é pra te descobrir no silencio.
Se projeto sozinho...nos vejo no quarto, a sós.
Se paro de pensar...é pra amortecer a memória.
Se sinto saudade...é porque existe.
Se existo...é porque penso em vencer.
Se perco qualquer dia...acordo mais cedo.
Se paro pra olhar...é porque chamou a atenção.
Se paro e não olho...devia ser distração.
Se não noto...não era suficiente.
Se pisco em demasia... persianas multicor.
Se me nubla a visão...é fumaça.
Se me paro um instante...memória daqueles cabelos negros.
Se escuto afinado...é boa perspectiva.
Se troco de ambição...recomponho-me.
Se não vejo o sol...a janela pode estar fechada.
Se tenho preguiça...me limito.
Se eu não falo do que foi....deveria abraçar mais o silêncio.
Se fico em silêncio...escuto a mim e nenhures.
Se falta paciência...envelhecemos um pouco.
Se me sinto estranho...é hora de dormir.
Se não aceito a condição...ou aceitação ou revolução.
Se a palavra nos falta...o desejo comanda.
Se é grande o estrago...é benção depois de amanhã.
Se não encontro o chapéu...é hora das luvas.
Se não quero mais ser...é porque já não sou mais.
Se não lembro a reclamação...é vontade de novar.
Se não sou dono dos meus traumas...vitimizar outro não dá.
Se sonho de noite...acordo de dia.
Se sonho acordado...posso estar alienado.
Se sigo alienado...pode sobrar poucos doces na estante.
Se não lembro do sonho...deveras não existiu.
Se lembro...é puríssima realidade.
Se não sei o que é sonho...de mim não sei nada.
Se fiz sem querer...a pena é menor.
Se era querendo...talvez seja uma novidade.
Se a notícia não for boa...absorver é o caminho.
Se ficamos velhos...menos pior estamos.
Se me atraso...pode ter sido qualquer coisa.
Se desacredito...de verdade não era uma crença.
Se memorizo...é alguma retenção.
Se me delicio...ou inconsciência, ou embriagues, ou verdade.
Se esqueço de amar...é porque não tenho.
Se procuro a paixão...ainda não sou.
Se falamos de magia...é saudade da glória.
Se recordo o momento...foi fantasia real.
Se choro...ou dor, ou saudade, ou amor.
Se torno a chorar...é muita saudade.
Se choro uma só vez...o amor é menor que a saudade.
Se a saudade é mais...o amor é renovação.
Se somos no amor...ele é inevitável.
Se é inevitável...melhor tê-lo por perto.
Que te parece?

CHEGADAS

Entre tantas coisas que estavam a ser feitas entre tantas outras, estava a criação de um diário de memórias. Sim, aqui se duvidará da existência do presente! Por isso os escritos serão sempre memórias.

Entrehermes? A referência à Hermes e os pormenores de sua história: mito do deus grego psicopompo que conduzia almas entre o mundo das trevas e o mundo das luzes. Do ctônio escuro que alude ao inconsciente à celeste luz límpida que simboliza a consciência. Das placas tectônicas inacessíveis à vivacidade das nuvens em céu azul solar. Do inferno ao céu, do céu ao inferno talvez...Aqui estarão gravadas letras que emergem destes planos, em critérios completamente arbitrários e despegados da realidade categórica, nem bem surrealista, nem bem racional, tanto emocional, tanto poético.


Bienvenidos!