quinta-feira, 15 de abril de 2010

Mas, mãe, por quê?


Na explicação do que é Ciência, Pedro Demo (in Pesquisa e Construção de Conhecimento) propõe a diferenciação do senso comum, do bom senso, da sabedoria e da ideologia.
Pois bem, atento-me ao senso comum. Ao ler que o "senso comum não é científico porque aceita sem discutir, ou melhor, porque não aplica ao conhecimento nele implicado suficiente sistematicidade questionadora. Nisto está a ingenuidade, que pode ir até a credulidade" (p. 17).
Em tal ponto, adiantei-me e me perguntei: "mas que raios fazemos com nossas crianças?"
Barramos o conhecer delas de forma abrupta, respondendo-lhe porque não e não percebemos que a cada momento que um corte ríspido de sua curiosidade goteja e ecoa em sua mente, estamos esterilizando a sua criatividade, os seus passos ao desconhecido, até mesmo a sua coragem de enfrentar mudanças – por isso, muitas, fatidicamente, comporão a manada programada que não consegue agir diante do acaso e, desse modo, entra em colapso.
Bem, mas isso pode ser daqui a alguns anos. E o que se vê atualmente?
O senso comum impera tanto na aprendizagem das crianças quanto nos bancos acadêmicos. Apesar de o autor referido defender que "o senso comum não representa algo desprezível, pois, na prática, é a maneira mais usual de ver a realidade", que "não podemos imaginar viável organizar a nossa vida sobre a base de questionamento sistemático de tudo", declarando-o, dessa forma, imprescindível à convivência humana, assevero que o senso comum, hoje, está arraigado de uma forma tão integrada na sociedade que a impede de questionar o mínimo para que possa agir com bom senso, que é a percepção adequada da realidade.
Não creio, portanto, que tanto senso comum é necessário, nem útil, muito menos saudável.
Considerando que a realidade descrita depende do observador e que os membros da sociedade, não questionando, apenas reproduzem o que veem como uma atitude aceita pelos que creem serem autoridades em um dado setor (político, jurídico, social, econômico, tendencial-midiático), é extremamente fácil a manipulação dessa massa pela realidade do observador que tenha interesse nesse comodismo – mais fácil que tirar doce de criança.
Comodismo ou ingenuidade? A mediocridade é digna de raiva ou de compaixão?

Seguindo o raciocínio aqui exposto, fragilmente se conclui pela ingenuidade e pela compaixão: muitos não passam de crianças que, há tempos, ouviram tantos "porque sim, moleque! e cale a boca", "porque não, guria, já te disse", que tiveram bloqueados seus ímpetos criativos e pensantes. Eternizaram-se por segurança e por aceitação dos "mais velhos", das autoridades. Sua alma acolhida pelo senso comum nem ousa questionar o que está "certo", o que está "decidido".

Por conseguinte, não vislumbram a possibilidade de mudanças em suas vidas além daquelas já programadas pela sociedade ocidental: brincar quando criança, curtir quando jovem, ter uma boa profissão e ganhar bastante dinheiro, casar, ter um casal de filhos e garantir uma boa aposentadoria. Não, nem pensam em morrer. Aliás, não conseguem enfrentar a ideia morte – dá medo, como o escuro, o bicho-papão ou o homem do saco (aquele do Chaves).
Não querem questionar porque a conclusão poderá acarretar mudanças. E mudanças dão medo, geram insegurança; além de poderem ser contrárias ao que se tem já estabelecido, por hábito, por costume, por tradição.

Mas, em alguns casos, verificam-se claramente os que, por comodismo, pretendem manter a vida como está. Afinal, em time que está ganhando não se mexe.
Mas, é melhor mesmo não mexer em time que está ganhando?
E o time está mesmo ganhando?
E (pqp!) quem disse que há um time?
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Texto da Grasi no blog Cultura do Controle.
Impressionante costureira das palavras com creme!

Um comentário:

  1. Sobre senso comum, João Paulo Emílio Coelho Barreto, com o pseudônimo de João do Rio, escreve com exatidão. A quem interessar possa: "O Homem da Cabeça de Papelão"

    http://www.youtube.com/watch?v=qQCJ6E_1EIw

    http://www.youtube.com/watch?v=AwG3yiVSLYM&feature=related

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