sexta-feira, 23 de abril de 2010

Érica, outros cafunés


Reencontrar Porto Alegre é um sorriso de outono. Ainda mais com esse vento sul antártico presente. E cheguei cá com um presente tão carinhoso, mas tão carinhoso, que fiquei perplexo de felicidade. Em estado de graça. Érica! Érica? a remetente. A locatária eterna do carinho meu! Sem risco de despejo. Mas não pela materialidade dos objetos, definitivamente não. O chato dos presentes é a burocracia impetuosa que os faz ser convenientes quando, quase sempre, não fazemos questão de ser. Por isso que as regras são sem graça. Os presentes regrados, também; à exceção de quando se é criança e se pode respirar com mais pureza os estados fantasiosos do ser. Como é doce o inesperado, o detalhe, o bilhete fugidio, o batom no espelho de manhã, aquele a mais que não estava no nosso script com overdose de destino.

Ainda nunca olhei nos olhos dela, e mesmo assim, nos abraçamos tanto e tanto. O presente todo foi uma moldura, uma moldura cheia de símbolos e carícias. Todos contemplativos, à moda do freguês. Fiquei a contemplar, antes, a atitude. E naveguei para além dos mares distantes da Antártica que traz esse vento geladito, a pensar no presente verdadeiro que são as atitudes. A atitude tanta que foi a dela, essa mulher e tanto, que só me surpreendeu mais um pouco. Não conhecer as pessoas nos dá de presente a capacidade de fantasiar...e do que dela medito, faço um jardim de cores e de borboletas. Eu não me surpreendo muito com as coisas do mundo, me parece tudo sempre velho demais, passado...e acabei ficando eu passado, eu e minha vidinha rabugenta. Flores a um homem? Só mulheres sem medo de ser mulher, mulher de verdade, Elviras com toda força sensível. Querida Érica, quis agradecer também aqui, pois minha felicidade não caberia em nenhuma particularidade. Não os presentes por eles mesmos, mas por ter me permitido pela primeira vez olhar teus olhos nas pétalas, sentir teu abraço nas poesias, ver tua alma doce nos riscos do papel. Mil atitudes bonitas para ti, anjo presente!


Para ti, estes versos:

Quanto mais leve tanto mais sutil
O prazer que das coisas nos provém.
Escusado é beber todo um barril
Para saber que gosto o vinho tem.

Maria Quintana.

-
Enlaçado em sutil amizade,
passeio os Quintana's a palavrar.
Bebericando gotas infindáveis,
desse vinho nosso que não há de se acabar.

Entre uma e outra quadra,
o ar geladito me detém,
de todas, bebo esta que me agrada
sem beber todo o barril, porém.

PFF

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