sábado, 6 de março de 2010

A cachaça de cada um



Os antigos? Porta da igreja.
Os modernos? Porta da farmácia.
Os modernos-cultos? Porta da livraria.
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Critico os que buscam a salvação nas prateleiras das farmácias, gostaria de ser diferente desse tipo de gente iludida que acredita em salvação comprada. Ignorância maior, salvação de fora para dentro. Mas a verdade intragável que carrego comigo em segredo e que, hoje venho aqui confessar, é , também pertenço a esse tipo de gente medíocre. Quando cruzo as portas das livrarias o faço como quem atravessa as portas de uma igreja. Estou em busca de salvação. Silenciosa caminho na direção de um milagre. O grande livro da revelação. Os grandes nomes, os grandes homens, os já vivido. É para ele que dirijo minhas orações racionais. São eles que detêm as chaves. Basta prestar atenção aos sinais. Me concentro, repasso títulos, um deles vai servir.
E ansiosa compro meu passaporte para felicidade. Dessa vez vai, tenho certeza, esse livro, estou sentindo, vai mudar a minha vida!
Devoro ávida, mais um, mais uma vez.
Mais uma vez não deu... Mais uma vez me negaram a salvação. Duas ou três frases de impacto, gotas de vida, não salvam, mas sustentam mais uma noite.
Hoje foram cinco os passaportes falsos que comprei.
Um dia eu, e todos esses ingênuos preguiçosos que ai estão, vamos entender que felicidade não se compra, que a salvação é ardúa, para dentro, sem atalhos, sem escapes. Que vem em pedaços, é construída, mora dentro e é única.
Queria muito ser diferente desses idiotas patéticos. Queria, mas não sou.
Texto do blog TPM da amiga Andrea Behregaray

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