segunda-feira, 8 de março de 2010

Borboletas coloridas


O milagre não é dar vida ao corpo extinto,
Ou luz ao cego, ou eloquência ao mudo...
Nem mudar água pura em vinho tinto...
Milagre é acreditarem nisso tudo!
Mario Quintana


Sempre fui meio avesso à multidão. Sempre me pareceu muito solitário estar no meio de muita gente. Não lembro de ter sido esquecido no colégio, nem em algum conglomerado quando era pequeno, então, os motivos reais devem estar recalcados no meu inconsciente! E por essas razões que a psicanálise deve explicar, nunca fui afeito a grandes shows e outros enlatados humanos. Aliás, me anda cara a vida noturna por essas mesmas razões. Não é rebeldia, apenas idiossincrasia. Porém, toda nossa lógica pessoal muda quando alguma aura mágica toma conta daquele cruzamento de latitude e longitude em que estamos. Tudo se ameniza se os instantes têm algum “q” de fantasia, misturados com uma dose de boa companhia e de borboletas coloridas navegando sem rumo pelo céu de uma cidade praticamente sem cor. Em São Paulo o show do Coldplay reuniu tudo isso, e me fez novamente reavaliar o gosto sobre o excesso de gente respirando no mesmo lugar. Lá o universo foi carinhoso. Os microreencontros foram grandes momentos históricos dentro da pequeneza de cada um. As borboletas se diluíram no céu como em cascata de cores. As bolas amarelas e os sons terminaram com a moldura da noite que foi cheia de delicadezas e de sorrisos. Eu que sofro de poesia, pude provar nesse dia a poesia em deleite. Demorou pra chegar – porque aquela cidade serve mesmo para uns dias apenas –, faltou táxi no final, mas o momento foi de cores, mágico. E por isso nada faltou. Se passamos os caminhos a buscar o êxtase na vida, e se repetidamente mais nos escapa que o colhemos, ficamos, nesse dia, eu e minha companhia, com a presença das estrelas e com tudo tangível à nossa volta. No milagre possível daquele tempo colorido. As estrelas não deixam de sorrir porque sabem que o momento de sorrisos é sempre aquele único em que estamos a nos banhar por elas. E eu... eu vago com Quintana, solúvel pelo ar, fico sonhando milagres que não cabem na vida.




3 comentários:

  1. Ah Paulinho! Que lindo o que você escreveu.
    Achei o máximo a ênfase para o caos dos táxis no final do show! haha eu fui parar na Av. Brigadeiro Faria Lima por causa de um..

    Mas enfim, o mais legal de tudo é saber que esse aglomerado de pessoas que você menciona, cada um traz um pouco de história em cada letra de música que canta!
    Acho que isso que diverge de qualquer outro amontoado de pessoas.. e talvez essa seja uma das mágicas!

    Para citar o 'nosso' Quintana, "Um bom poema é aquele que nos dá a impressão de que está lendo a gente ... e não a gente a ele!"

    Acho que com os poemas cantados acontece o mesmo, não é?!

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  2. Brigado Lili!
    O que você escreveu foi preciso: "cada um traz um pouco de história em cada letra de música que canta". Ainda que as músicas sejam as mesmas, causa em cada um um universo de sensações, caminhos, lembranças e porvires! Com os teus filmes com e sem história, fico (e tenho certeza que vc tb) com as as canções "poemadas".

    Beijão!

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  3. Eu não tava lá mas diz que nao tava la. e quem nao entendeu que nao entenda! nada nada

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