sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Menos verdades


ENTREHORIZONTES

Devo fazer sangrar minhas certezas,
essas irremediáveis certezas
que duram mais de um dia.
Devo tirar o ar das minhas certezas,
essas certezas que me arrancam da terra sólida
e me atiram em dúvidas movediças.
Devo contrariar a natureza humana,
antimisoneísta, que refrata, caótica, a incerteza.
Devo toda essa necessidade à mim,
que me atrevi a ter certezas.
Devo atualizar meus nervos idiotas.
Devo ser mais inteligente diante da minha burrice.
Devo ser menos árido com minha insensibilidade.
Minhas obrigações, porém, não partem dos neurônios.
E meus pontos de partida tendem
a ser mais meus que de deuses terrenos.
(Ainda que à eles deva devida devoção)
O que me devo é um pensar.
E penso com o que sinto.
Minha razão não faz sinapses, pulsa.
Minha responsabilidade não é lógica,
é intuição de ruídos internos.
Com o que penso, me descompromisso.
Diante de minha burrice pensante,
ainda assim me ouço.
E que todos se ouvindo possam.
Achar alguma verdadezinha,
por diminuta e flagelada que seja.
Se de renascimentos vivemos,
então esqueçam seus nortes terrenos,
e façam sangrar suas certezas.
Reinventem o horizonte à sua frente.
Assim talvez essa verdadezinha acene,
tímida e toda verdadeira,
para acarinhar as angústias da noite.
Assim, só apenas assim,
é possível ver que o horizonte é um embuste,
e que diante do que podemos ver,
existe a mesma água do horizonte do mar,
aquele cansado mais do mesmo mar.
E que fazer da proa o norte de regresso,
é privilégio da maré do dia.
Quando acordou, já não estava.
Não estava mais.
No dia seguinte,
ninguém lacrimejou.
Apenas o horizonte é que
choramingou baixinho e fugidio.
Viver é um plano que se move ao futuro.
Gozar a vida é poder tocar
essas minusculinhas verdadezinhas
tão, tão, tão pequenininhas.
PFF

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