quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Consciência feminina do cerrado


No coração do Brasil descobri uma grandiosa alma feminina, ou melhor, uma alma. Quando se percebe a riqueza das quebras dicotômicas é que se encontra um olhar divino, pleno de luz consciente. Elis é uma psicóloga que realiza um trabalho esplendoroso com jovens vítimas de sua própria história, aqueles a quem os juristas e mundo chamam de delinquentes. Elis, escondida no meio do cerrado brasileiro, cumpre, diariamente, importante papel na vida desses meninos. O olhar fraterno e solidário dela, revelam suas intenções logo no primeiro contato. Tentando fugir do carnaval das tristezas coloridas - como diz Quintana - encontrei essa linda alma. E nos poucos dias que tivemos, pude absorver alguns poucos passos de sua extensa caminhada pelas interioridades da psique humana. Elis me enviou este seu texto-devaneio que é lindíssimo! Assina um heterônomo seu, Esther Lino! Nada mais justo para alguém que carrega a alma do mundo no coração. Compartilho com vocês!


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PANTANAL DA ALMA

Pensei: em que estação me encontro?
Na alma é tempo das águas
uma inundação de idéias surgem.
Um desabafo ou talvez uma inspiração
Indefinições que mesmo definidas não levariam a LUGAR algum,
ainda é preciso permanecer nesse que é tão justo...
menor do que a terra natal...
menor do que o colo maternal...
Constato: sou eu que estou me gestando!
SOU O MEU FETO INQUIETO!
A placenta invisível oferece o suficiente,
Mas só o suficiente parece tão pouco!
Insatisfeito, porém inacabado!
Quer nascer prematuro!
É um grande risco para criatura tão viva
tantas vezes renasceu vulneravelmente.
E ainda é inverno!
Aqui me confundo com as estações, não sintonizo com essa natureza!
Não sei em que estação estamos.
A agitação permanente me confunde!
Em que estação me encontro?
Por entre os poros as sementes já esvaem em ciclos desrítmicos...
Um coração pulsante na esperança
Sente vertigem com tanto desejo,
traz na alma a decepção da fuga, do abandono...
Queria eu estar na Primavera!
Na estação dos campos, dos encontros, dos pássaros e pessoas, do perfume e do contato.
Queria eu acelerar este inverno!
De perdas e frio,
das folhas ao chão do vento varrendo dia a dia
o que já é passado,
da ausência que me calou!!!
E na presença pulgente da aurora,
VOU RENASCENDO NESSA TRANSITORIEDADE POSSÍVEL.
PORQUE ESSA É A MINHA NATUREZA!


Esther Lino

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