domingo, 7 de fevereiro de 2010

Contos Imediatos V


PADECER

Na mesa ao lado, silêncio.
Absorto, ele contempla a rua,
enrola a alface,
encara o copo de cerveja quente.
Ela medita a lasanha.
Desde há muito que as mulheres
preferem carboidratos à orgasmos diários.
Mergulham, ambos, em suas particularidades.
Se se pensam, não se pode notar.
No olhar não há ódio.
Tampouco existe carinho na cena.
Também de teatro não se trata,
pois ninguém mais representa nada.
Tudo se resume a uma grande solidão a dois.
Um resignação alimentar.
Olhares de buraco negro.
A música é do tilintar dos talheres.
A lasanha está tão gelada quanto os corações.
O queijo esfria, fica borrachudo, emburrado.
O jovem garçom observa a cena à distância e pensa:

- O amor padece quando não há mais caminho a seguir.
- O sentimento estaciona se acaba a magia do mistério.
- Esses dois viraram um encontro desafinado de cada um,
já descortinaram completamente o universo um do outro.
- Alguma coisa de mistério é o que perfuma o amor.
- Um pouco de calor é o que perfuma as lasanhas de queijo.


PFF

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