domingo, 28 de novembro de 2010

O tamanho do tracinho?


Minha mãe insistiu. Sabe como são as mães, elas sempre acham os filhos bonitos, sempre acreditam neles. Seja um aleijado ou um desacreditado, lá estão elas, fiéis como nenhuma outra. Bacana esse amor de mãe.
Quando eu era guri, minha fama em casa era de que eu nunca dava continuidade às coisas. Diziam que eu começava e depois largava tudo pela metade. Do futebol de salão ao caratê, passando pelo inglês e pelo basquete. Verdade, eu largava mesmo. Mas não lembro por que. Acho que já naquela época eu não lidava bem com essa coisa de ter que escolher. Ter que escolher uma coisa é deixar de lado todas as outras coisas. Escolher é perder. Mas é ganhar também. É tanta coisa nesse mundo que a gente se confunde com o que quer de verdade. Imagino que seja porque as "todas coisas" são sempre maiores e mais sedutoras que a "uma coisa". Depois aprendi que quantidade não é qualidade, e passei a amarrar meu asno nas coisas que eu sei que gosto.


Bom, no esporte sempre fui uma negação. Não uma negação completa. Até tive uns lampejos de brilho (pouquíssimos MESMO) (na verdade nenhum, acabei de mentir), mas o que me matava era o ar. Ou melhor, a falta dele. Eu não tinha pulmão pra aguentar aquela correria do futebol, aquele salta-e-chuta-e-grita do caratê. Tenho tesão pela inércia e pelo silêncio. Nunca fui um fumante contumaz, mas desde pequeno tenho uns prenúncios de enfisema pulmonar infantil com quaisquer 15 minutos de atividade intensa. No sexo funciono igual, não gosto de fazer muita força. As mulheres ficam reclamando por igualdade (com toda razão antes que a turma do sutiã assado se manifeste), mas na hora do sexo querem que o operário-minerador-servente-de-pedreiro venha à tona e fique lançando carvão na máquina a vapor enquanto elas deitam e gozam. Verdade que nem sempre gozam, já que prazer de mulher é mais burguês, tem mais requerimentos que o de homem. A burguesia tem lá seus requerimentos para o gozo existencial, suas frescuras. Torrada de burguês precisa de peito de perú. Mortadela, nem pensar.

Não era bem disso que eu queria falar. A coisa acabou degringolando e acabou em sexo e mortadela. É sempre assim, no fim acaba em sexo. Vou começar de novo. Minha mãe insistiu. Leu algumas obscenidades que eu escrevi, achou que de repente eu podia virar escritor e resolveu enviar uns textos para um editor. Claro que além do amor da atitude ela pensou que poderia tirar uma lasca da situação se, de fato, eu fosse um escritor com alguma chance de não morrer sem ser reconhecido só pela própria mãe. E a lasca que falo é o simples deleite dela, esse orgulho puro e sublime que as mães têm quando os filhos fazem qualquer coisa idiota, como aqueles desenhos de pessoas-palito de colégio que elas mandam emoldurar achando que pode ser o prelúdio de um novo Salvador Dalí.


Ela enviou os textos. Eu já imaginava o desfecho. O tal editor, então, respondeu. Disse que eu teria que estudar muitos livros antes de poder publicar um livro. Inclusive o livro dele, que custa apenas R$ 28,00. Grande filho da mãe (não vou chamar ele de filho da puta senão ela vai brigar comigo). O senhor editor disse que os tempos dos verbos dos meus textos iam mal, que algumas frases eram desnecessárias e outras merdas sobre as merdas que eu escrevo. Como ele pode saber o que eu preciso escrever pra dizer se frases são ou não são necessárias? Esse imbecil disse até que eu não sabia a diferença entre o travessão e o tracinho pra abrir diálogos no texto. O tracinho é mais curto (-), e o travessão mais comprido (–), “seu filho deve usar o mais comprido”...e eu vou ficar cuidando a porra do tracinho agora? Quanta escravidão! Já não bastasse essa coisa do comprimento do pau que é um tormento pra quem não descende da linhagem dos homens-jumento, ainda tem que se preocupar com o tamanho do tracinho? Minha mãe disse que era para agradecer a análise que o editor havia feito. Escrevi um diálogo, com dois tracinhos grudados dizendo: “-- Caro editor, vai tomar no cú.

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