Antes do início,
éramos um nada dividido ao meio.
De metades, passamos à unidade de uma célula.
Éramos então uma vida que não desejava,
um não-querer autocontente,
satisfeitos com o trançado arbitrário das moiras do acaso.
Vivíamos felizes:
sem gozo,
sem um chefe,
sem pódio,
sem cerveja gelada,
sem contas pra pagar,
sem saudade, principalmente sem saudade,
sem ausências, mesmo em solidificada solidão.
A unidade, em si mesma, bastava.
Éramos vivos sem consciência de vida,
como se a unidade fosse um sonho que lembramos no dia seguinte.
Depois do início vem a vida.
Viver é a responsabilidade
de encontrar essa unidade perdida.
E o fazemos com a música que nos chega aos ouvidos,
tocando uma punheta inspiradora,
trabalhando com algum prazer,
lendo um livro que preste.
São apenas lampejos nostálgicos do nosso nada de antes,
mais nada.
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