domingo, 20 de novembro de 2011

como se é em sendo nuvem




Nuvens...Existo sem que o saiba e morrerei sem que o queira. Sou o intervalo entre o que sou e o que não sou, entre o que sonho e o que a vida fez de mim, a média abstrata e carnal entre coisas que não são nada, sen eu também nada.

Nuvens...Que desassossego se sinto, que desconforto se penso, que inutilidade se quero!

Nuvens...Nada tenho feito de útil nem farei de justificável. Tenho gasto a parte da vida que não perdi em interpretar confusamente coisa nenhuma, fazendo versos em prosa às sensações intransmissíveis com que torno meu o universo incógnito. Estou farto de mim, objetiva e subjetivamente. Estou farto de tudo, e do tudo de tudo.

Nuvens...São como eu, uma passagem desfeita entre o céu e a terra, ao sabor de um impulso invisível, trovejando ou não trovejando, alegrando brancas e escurecendo negras,ficções do intervalo e do descaminho, longe do ruído da terra e sem ter o silêncio do céu.

F. Pessoa

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