As mulheres, por questão de natureza, são como os pinheirinhos de natal. A diferença é que pra quase todas elas, o natal acontece o ano todo. É como se elas pudessem usar permanentemente as bugigangas que carregam usando a mesma desculpa esfarrapada dos filhos que não querem comprar presente aos pais no dia dos pais, sob o pretexto de que todo dia deve ser celebrado como dia dos pais... É assim que elas se mantêm natalinas e festivas nos doze meses do ano. Cheiros e ornamentos são masculinos na linguagem, mas femininos na essência. Fatalmente, algumas mulheres são como os pinheiros de natal, cheias de bolinhas espelhadas e coloridas, adjetivos, fumaças de cores, penduricalhos, decorações. Apelidei a minha mulher de pinheirinho porque ela é como um, com uma bunda mais gostosa, porém.
Eu bebia meu vinho e minha santa paz. Ela começou a indicar com sinais e cheiros e olhares que era hora de treparmos. Não me opus. É difícil que um homem negue uma trepada que esteja à disposição sem que se tenha que fazer esforço. Ela começou a tirar pacienciosamente os penduricalhos, as correntes, os anéis de todos tipos, as pedras correspondentes ao signo dela, os brincos do brechó, outras correntes menores com pingentes e dentes da sorte. A pobrezinha corria risco de morrer enforcada se alguma corrente daquelas engatasse sem querer numa quina qualquer da casa. Foi desabotoando os panos, frouxando as alças. Arreando as segundas e terceiras peles. A calcinha ficava embaixo de tudo, como um santo graal que guarda o cálice santo da eternidade cheio de baba de buceta.
Era a mesma cena de 6 de janeiro, quando as crianças e as mães desarmam o pinheirinho de natal enquanto os papais enchem a cara de cerveja e comem as amantes em motéis de 30 reais. Em outros países, onde o Natal é menos Coca Cola, as crianças recebem os presentes no dia 6 de janeiro pelas mãos míticas dos três reis magos e seus camelos sedentos. Não é à toa que as crianças deixam 3 vasos de leite e 3 copos de água na noite de 5 de janeiro: querem contraprestar os presentes trazidos pelos reis e pelos camelos. Nós que pertencemos à cultura natalesca Roberto Carlos/Coca-Cola, acabamos recebendo os presentes no dia 24 de dezembro, o dia que eu propositalmente nasci, enviado pelo destino. Lembro que uma vez um tio religioso pediu a palavra e começou a palestrar que o dia 24 de dezembro era importantíssimo, já que era a data de nascimento de um menino muito diferenciado, especial etc. Estufei o peito achando que era eu mas na verdade ela falava de Jesus. Pode ter sido por isso que passei a travar uma briguinha pueril com as religiões, afinal, Jesus tirou meu lugar no dia 24 de dezembro. Sempre comi o bolo de aniversário com Jesus.
O monta-e-desmonta de pinheirinho pega bem só na propaganda da Coca. Na vida real, montar o pinheirinho é um pé no saco. Tirar aquela caixa de papelão imensa de algum canto empoeirado da casa. Pegar as caixas com aquelas bolas que vêm da China, luminosas, sempre desparceiradas, vagabundas. Na China parece que os chineses trabalhadores se fodem pra fazer essas bolas de natal, trabalham nos feriados e ganham 1 centavo por cada tonelada de bolas produzidas. Uma merda completa pra eles que são os responsáveis por iluminar os nossos pinheirinhos de natal minados de presentes burocráticos.
Os presentes de natal são o maior embuste das famílias que, no fundo, se odeiam. Mesmo se odiando, por vontade de redenção e desejo de paraíso, fingem amor. Todo ano é a mesma porcaria: depois de passarmos o ano todo criticando os apêndices da família e mesmo os familiares que não nos são tão familiares assim, desejamos falaciosamente que todos eles tenham saúde e prosperidade. Uma hipocrisia filha da puta. Todos os natais são os momentos rituais e solenes das pessoas que se gostam pela metade. Natal é hipocrisia materializada pela mão do hábito que virou cultura, é sorriso forçado pelo estado de necessidade e pertencimento, é a foto que se repetirá só no próximo natal, com cabelos mais brancos, rugas mais fundas e gentes mais mentirosas ainda.
Dividindo espaço com os presentes burocráticos, está o presépio e as ovelhas que só não cagam no pátio do pinheirinho porque são de gesso. Tem também aquelas plumas de papel celofane cafona que se coloca ao redor do pinheirinho. Os ricos não gostam de usar bolas, mas cajados vermelho e branco ou caixinhas de presente feitas por algum hippie fodido que adora Raul Seixas. No fim, os penduricos são iguais porque todos servem pra nada. Isso sem falar nos galhos do inferno. 120 galhos soltos que devem ser encaixados num buraco encoberto e invisível no tronco-mor do pinheirinho.
O Natal deste ano ainda virá, mas aqui no meu mundo era 6 de janeiro em um agosto qualquer. Era a hora do meu pinheirinho se desfazer. Subverti as datas porque em mim o calendário é menos totalitário, como quase tudo. Meu pinheirinho é menos hipócrita que o pinheirinho cristão porque posso trepar com o meu. Dadas as circunstâncias, prefiro ver a nudez do meu pinheirinho quente do que esperar pelos presentes gelados de natal. Ela se desfez na minha frente e foi pra cama. De lá gritou pra mim dizendo que estava com frio. Agora os deixo, aqui é 6 de janeiro de um agosto qualquer e preciso desmontar meu pinheirinho com uma ejaculação precoce.
"feliz natal" nene!
ResponderExcluirhahahahaah,
muito boa!
ou félix pascoa, como dizia o Mat(r)eiro.
ResponderExcluirabração
Tu devia ser daqueles, que quando encontrava o papai noel e olha para a criancinha do lado, barriguda, com aquele ranho saindo de sua narina, a camisa toda suja do pátio da casa mas toda feliz, dava uma cutucada na cabeça e dizia: Esquece, isso tudo é a porcaria do capitalismo natalino tentando sobreviver a mais um ano, com um cara gordo, todo suado, com uma barba falsa e doido para voltar a sua casa e tomar uma cervejinha enquanto reclama da pirralhada que chuta o seu joelho, fica berrando, e peida quando senta no colo......
ResponderExcluirEu sei disse porque eu já fui o anão ajudante do Papai Noel....
Abraços...