terça-feira, 27 de setembro de 2011

PÁSSAROS ARTERIAIS






Compulsaram-se os pulsos.
Posso pedir que pulses? - algum disse.
Pousaram-se, nos pulsos dum, os dedos doutro.
Desnortearam-se os pássaros em ambos,
como se houvesse incêndio na floresta ou eclipse na lua.
Pululavam em conjunto as pulsações, como explica a medicina das paixões.
Mas a medicina ortodoxa não explica o desnorteio dos pássaros de dentro das pessoas.
Dizem outras poesias que esses pássaros têm a cor azul.
(Eu nunca pude ver algum pra atestar qualquer tom ou cor)
Era o pulsar da veia do pulso contra o da veia da ponta dos dedos.
Era um par de dedos tocando,
e outro fazendo charme.
Como fazem os despreocupados com etiqueta quando bebem espumante barata.
Com relação aos pássaros que vivem em nós, não é necessário etiqueta.
Nas pulsasões moravam veias e artérias e ainda outras coisas humanas como os pássaros.
Nas veias corria sangue arterial, que é aquele sangue bonzinho, com vida e oxigênio.
Nas artérias não havia sequer sangue, mas pássaros que cantavam em coro.
E era a batida das asas que se podia sentir.

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