terça-feira, 15 de junho de 2010

Ecos de Curitiba II



A vida parece mostrar que é da natureza das coisas valiosas o velamento. As jóias da vida já nascem craques na arte de ocultar-se. Que o digam as pérolas de luz e circunferência perfeitas do mar, ou, o pó de ouro encalacrado nas minas tantas do mundo. O velho e sábio essencial invisível aos olhos de Exupéry.
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Nas jornadas de Direito e Psicanálise do gelado final de semana de Curitiba, as incontáveis interseções feitas pelos grandes currículos ficaram à margem. Impressão no mínimo paradoxal para quem encontrou justamente na margem do caminho, aquele que compôs e cantou o grande refrão da música que foi o encontro. Albano Marcos Bastos Pêpe, aqui desde já Albanito, o escrivinhador do sublime, ou melhor, o inquilino do sublime, para lembrar Oto Lara Rezende. Eis que do sublime não existem proprietários.
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Albanito é um marginal, um marginalizado, mas por opção própria. Por conta e risco da vida que a ele não leva risco algum, afinal, olhar a vida com beligerância é das grandes miopias a se corrigir na vida. Dentre tudo, Albanito foi a mais agradável surpresa. E não os dizeres da palestra que não pude ver (a vida contemplativa ainda não me pertence!), mas o sublime exato do olhar e a mansidão da existência sublunar, uma de suas tantas felizes expressões. Aliás, não causa espanto que estabeleça a energia lunar como uma referência do seu próprio existir. Albanito, dentre tantos “cobras”, mostrou – porque à ele não cabe ensinar, senão apontar – que da vida se pode cobrar apenas a poesia autêntica de viver saborosamente, ofertando o afeto como tempero geral para os pratos da vida, sejam eles doces ou salgados. Com certeza é um acólito da sábia canção de Fito Paez, pois que a ele le gusta estar al lado del camino, fumando el humo mientras todo pasa, e a obviedade constante da margem é mais divertida e também custa muito menos. Menos dinheiro, menos angústia, mais sabor, mais saber (me ensinou a raiz etimológica gêmea entre saber e sabor, putaquepariu!).
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Albanito resolveu abraçar a doce melancolia e solidificar suas próprias sombras. Integrou suas interioridades (teria alta imediata se fosse paciente do Jung), acolhendo com carinho os porquês do amigo Warat para traçar seu próprio Caminho do Elefante, que abandona a manada no crepúsculo da vida em busca de seu personalíssimo itinerário. Albanito escolheu a serra central do Rio Grande do Sul em Itaara e a contemplação. Venceu o narcisismo colérico da academia. Está nas montanhas, sem ser das montanhas. Vive de estados, enfim. Está perto das nuvens celestes. Mas sem deixar de estar com os pés plantados na raiz terrena que o leva aos ctônios de Gaia e de si mesmo. Albanito é das consciências mais livres que cruzei durante essa passagem. Não totalmente livre porém: caminhar é um estar em busca de tudo, inclusive da própria liberdade. Ele pode tocar mais a liberdade que a maioria, não resta dúvida. Mesmo dispensando o papel e sendo assim tão mais livre, está escravizado: a ser mestre daqueles que o percebem e sentem, mas um mestre que anda ao lado. Ao lado do aprendiz. Ao lado do caminho.

2 comentários:

  1. O Albano já leu?

    Estou esperando nossas fotos para postar uns escritos.

    Bjs.

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  2. Mandei email pra ele, acho que sim Deia!!
    No aguardo das tuas impressões de Curitiba.
    Vou te mandar as fotos que tenho, beijo!

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