sexta-feira, 7 de maio de 2010

O ser humano inventou o amor porque não sabe o que fazer com o espelho


Muitos me dizem o mesmo. O mesmo escuto nas esquinas, nos bares, nas repartições. Quem se sente à vontade e abre as cancelas da alma...promove o chororô pós-moderno!

Sempre que se vão embora as máscaras que escondem a pele lisa da verdadeira autenticidade, uma criança desacostumada com o mundo lacrimeja. Chora. Pensa que o mundo é muito cansativo. São tantas coisas que se devem fazer. É ter que ser tanta coisa. Viver é um saco, literalmente. Somos um saco vazio de coisas nossas querendo encher o mesmo saco com quinquilharias que nos dizem que devem estar no saco... é muito óbvio ou eu ando ficando cego, louco, surdo, mudo? Digam-me, por favor! E, nostalgicamente, roga-se pela mãe. A velha mamãe a acocorar as dores dos dentes que furam a gengiva, a que conforta a boca com leite morno e nutritivo. A mãe já era meus amigos (em relação ao leite morno um microondas ajuda barbaridade), e ainda vamos ter que cuidar dela e dos filhos no futuro (depois que aprendermos a engolir o choro, se bem que eu não sei se tem que engolir mesmo...). Por essas e outras que a psicologia é a ciência e a profissão do futuro. O seu Freud acertou em muitas partes, era um tadinho como nós, os habitantes do mundo adulto, em que tudo reina linear e lindo nos ares públicos e bêbado e angustiante nos espaços privados (sabe aquela angústia do chuveiro e da privada, essa mesmo!).

O ser humano inventou o amor porque não sabe o que fazer com o espelho. Tem um medo danado de ser autosuficiente. Como disse o Fernando Pessoa, não entendeu o ser humano que para se ver é preciso estar em reverência a si mesmo, quando antes só podíamos nos ver nas águas dos riachos, ajoelhados sobre nós mesmos... Muitas máscaras eu vejo por ai, nas esquinas, nos bares, nas repartições. Faz tempo que sabemos que é tudo um teatro e que tudo vale quase nada. Essa tem sido uma regrinha última para os meus botões: se é o desejo do senso comum, não siga! Melhor que nem todos saibam disso, sob pena de esquizofrenia generalizada (mais um ponto para a classe dos médicos da alma). Parece que ninguém mais sabe ser! As vitrines ambulantes seguem a trotar pelas cidades cheias de vitrines... será que o pessoal que não vive na terra pára - como as senhoras nos shoppings - ao redor dos anéis imaginários do nosso planeta para especular sobre os produtos que vendemos aqui?

A vida contemporânea é uma menininha de vinte anos com silicone e chapinha no cabelo: uma bela princesa pública a pisar os espinhos lancinantes da vida nos seus rançosos espaços privados. Uma desalegre (infeliz é pesado demais) que esconde, atrás da pseudo rigidez da carcaça extonteante que lança ao público, uma gelatina mole e frouxa, uma poeirinha pueril da própria existência. Uma incapacidade de viver sem bengalas, de saber quem e o quê é. É uma criançinha que chora baixinho e sem derramar lágrimas, saudosa da última mamada.


6 comentários:

  1. "A diferença dos sexos é o paradigma do incompleto não apenas dos corpos, mas dos espíritos.É mais certo,que existe algo de masculino no feminino e algo de feminino no homem. Senão, como poderia existir num dos sexos a ideia do outro e a emoção por aquilo que lhe falta? Falta-lhe porque existe nele, no mais íntimo do corpo e da mente, assim como um velador, na reserva, de lado, indiretamente , no horizonte.Inapreensível. Ainda a transcedência da iminência. A ideia de sexo que reina na sociedade contemporânea impõe que se esconda esta falha, que se desfaça esta transcedência, que se ultrapasse o impoder" (Lyotard)

    "A vida é breve e o amor mais breve ainda".(Quintana)

    Morrer não dói, viver sim.
    bjos querido

    ResponderExcluir
  2. Lindo o texto. Viver dói, viver é um saco. Mas vambora!

    Aguardo teu trabalho, mande para este e-mail : apbeheregaray@yahoo.com.br

    Espero, bjs!

    ResponderExcluir
  3. Viver dói realmente , mas cada ser humano pode escolher entre acrescentar uma colher de açúcar ou uma de sal em sua longa jornada diária ! Todo dia ao amanhecer surge novas oportunidades,novas idéias, projetos! Ainda existe esperança para o mundo!

    " È preciso abrir os olhos, acordar"

    Amar é necessário! Ninguém vive sem amor, a diferença é que poucos amam e muitos se enganam !

    ResponderExcluir
  4. Paulito querido... quanto mais eu leio mais te gosto..

    ResponderExcluir
  5. Viver não dói se tu mudares teu ponto de vista.
    E ponto.
    Saco.

    ResponderExcluir
  6. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir