sábado, 23 de janeiro de 2010

Contos Imediatos II




OS TIJOLOS REBENQUE


A olaria dos irmãos Rebenque em uma cidadezinha de Goiás, era uma referência no ramo. Os tijolos Rebenque eram tidos por melhores e mais duros até onde as fronteiras da notícia se espalhasse naquele Estado e também nos cercanos. Aproveitando a brecha da investida de Juscelino para a construção da nova capital do Brasil em meados do século XX, o então pioneiro e sócio fundador Sr. Adelino Rebenque, impulsionado pela perspectiva de lucro fácil e se valendo do já consolidado nome da empresa que carregava seu sobrenome, sentiu que poderia acumular riqueza para as gerações que carregariam o seu sobrenome na carteira de identidade. Sr. Adelino era também homem de alguma influência nas atividades políticas da região. Com o já reconhecido nome, com alguns cafezinhos pagos estrategicamente no meio político e com o momento de otimismo econômico do país; estava montado o palco perfeito para que as peças do seu negócio se encaixassem de vez e para que seus tijolos se amontoassem, com uma boa dose de cimento duro, naquele plano piloto – que ainda apenas se pensava – de Brasília. Não deu outra: a olaria do Sr. Rebenque foi a que fez todos os tijolos para construção dos principais edifícios da Brasília de Juscelino. Afinal, se especulava nas conversas da construção civil qual era a alquimia dos tijolos do Sr. Adelino, pela firmeza, resistência e dureza daquele pedaço alaranjado que não podia perceber que enchia de vinténs o cofre do seu dono.

O Sr. Adelino Rebenque morreu poucos anos depois do início da construção de Brasília. Seu filho, que já entendia de negócios sobre tijolos, assumiu e também morreu quando já se mentia que Brasília, pela luta vencida contra a ditadura, era democrática. Depois, assumiram a empresa os filhos do filho do Sr. Adelino, que eram dois rapazes sem muita afinação com tijolos nem com administração de negócios sobre tijolos. Um era corretor de imóveis. Ao outro lhe aprazia a música, e queria ver sua banda fazer sucesso nas novelas do centro do país, que continuava sendo coordenado em Brasília nos edifícios do governo que se sustentavam com os tijolos duros do avô. De tão duros, os edifícios se fossilizaram, num acontecimento que a ciência dos tijolos ainda não sabia explicar. De tão duros e fossilizados, os tijolos perderam resistência e se esfarelaram. Brasília veio abaixo. Virou, deveras, pó. Os irmãos não tiveram de pagar indenização, mas ninguém soube os detalhes do processo. Um dos irmãos seguiu como corretor de imóveis. O outro, frustrado com a música, taxista. Mas nunca entenderam como aqueles velhos tijolos duros haviam se esfarelado tão rápido.
PFF

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