segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Lars von Trier: caos e dúvidas em Anticristo

Os ceguinhos do castelo dirão: uma porcaria, quero meu dinheiro de volta! Nada mais normal quando se tem pouco para projetar em coisas que não tem nada de óbvio ululante, artisticamente falando, claro. O último filme do dinamarquês Lars Von Trier é uma caldeira de dúvidas. Terror, sexo, mitologia, mutilação genital e psicologia são algumas palavras que poderiam resumir o filme entitulado Anticristo. Talvez pela minha atual proximidade ao tema, saltam aos olhos os símbolos psicológicos e a aparição dos arquétipos animus e anima, lembrando fortes traços da teoria junguiana. Conhecer um pouco de ocultismo da idade média é também essencial para compreender algumas sequências do filme. Afinal, está Freud morto? E qual o tom da crítica lançada no filme? Se é que de crítica se trata...
Sem sacar o privilégios dos que ainda verão o filme, trata-se de uma obra despegada de convenções. Se espantarão aqueles que não tem uma mínima familiaridade com a libertinagem. Também os descendentes dos imortais moralistas europeus católicos do século XVIII e XIX. Sim. Sade também dá as caras nas entrelinhas. Entre Eros e Tanatos, o filme apresenta-se bruto. Do loirinho que despenca de cabeça da janela enquanto os pais transam ao cervo parindo um filhote natimorto, que, ao invés de nascer, fica pendurado em meio aos restos de placenta e sangue embaixo do seu rabo; da raposa dilacerada anunciando que "o caos reina" à masturbação convulsiva da personagem, possuída em meio ao húmus da floresta.

O desespero e o caos são retratados na relação do homem com a natureza. Com suas próprias naturezas selvagens. Mostrando como quer Jung que temos algum caldo histórico coletivo em tudo aquilo que nos toca e nos remete ao genuíno de nossas psiques. Lembra-se do velho e tão atual niilismo de Nietzsche. Do vórtice da vida posmoderna. Enquanto tudo é gozo, o mundo se deprime. E ficamos sem responder (pela cabeça de von Trier) se Freud é apenas um homem das cavernas que fez do quadrado uma roda e que agora é obsoleto na tecnologia dos carros de luxo. Sem os venenos dos sectarismos, é um filme líquido, diria Baumann. Não há respostas aparentes. Não há preto no branco. Não há!

A personagem observa a queda do próprio filho no mesmo momento que chega ao orgasmo transando - em camera mais que lenta - com seu marido. Essa não é uma crítica de cinema, mas um convite a não compreensão. Ficar pensando sobre o que queria von Trier, é um bom exercício, afinal, o próprio diretor afirma que fez o filme para ele mesmo e que foi vital para curar uma fase depressiva. Logo, é quase um feixe de elementos inconscientes do próprio diretor, o que torna, por essa simples razão, instigante. Compreender na totalidade? talvez impossível até para o terapeuta de von Trier. Afinal entender em linhas exatas não importa. Bendito Pessoa "O essencial da arte é exprimir, o que se exprime não interessa". Em Cannes foi amado e odiado. Aqui encantou e deixou graciosas dúvidas. Novas descobertas. Nada como dúvidas suculentas!

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