terça-feira, 20 de outubro de 2009

Escuro exposto, exposto no escuro!


EFÊMEROSESTADOS

Adivinha-me os segredos?
E eles, os segredos, se fizeram,
um a um, quando, sem qualquer
prenúncio, aviso ou intimação;
as energias elétricas todas,
enviadas pelas redes, desapareceram.
Era um sábado qualquer
de um mês também qualquer.
E no escuro pela energia ausente,
uma outra brotava.
Eis que a energia de um homem
acontece quando ele é capaz
de pensar sua própria imagem:
dos espelhos e da alma.
Mas a noite era escura.
E com ela, o homem se encontrou sozinho.
A solidão mórbida e sabida da noite,
se fez outra pelo estado de natureza
plantado naquele homem, de forma bruta
e de jeito normal, pela queda abrupta de energia.
Sabia ele que logo voltaria.
Sabia que com ela também tornaria
sua capacidade vaga de perceber as coisas
na noite por meio da possibilidade da luz.
Notava que, durante a noite,
era nada sem a luz,
a ferramenta que fazia ver as coisas no escuro.
Não exatamente a luz, por si só, especificada
nuns ou noutros abajures, nas irradiações
das lâmpadas de cem velas, que equivaliam,
dentro de um micro universo de química,
a nada menos que cem velas de cera acessas,
todas, ao mesmo instante.
Essas mesmas que se esvanecem
nas capelas a sonegar promessas que
nunca se dão.
Não a óbvia luz elétrica,
mas a luz que nele tanto se escondia,
e que se acendia, na noite escura que ali vivia.
Sabia, o homem do escuro, que a luz voltaria.
E pensou até poder dispensá-la,
eis que em rápida adaptação,
podia já ver certos contornos
mesmo na mancha negra do escuro.
Seu sínodo só não era em solidão
pois se fazia notar seu vinho e sua taça.
E pensava que o vinho escuro que tragava,
tinha uma qualquer correspondência com aquele
momento posto em notas de uma poesia ilegível no escuro.
E percebia, também, todo o poder da escuridão.
Sua onipresença silenciosa.
Era uma monarca dormente.
Que estava ali todos os dias,
escondida na ardilosa luminosidade artificiosa.
A mesma que fazia velar os próprios dentes escuros
que o vinho escuro pintava e que não
se fazia notar, pela faticidade escura que se dava.
Todas as circunstâncias do instante,
içaram do profundo do espírito do homem,
uma inquietação cercada de nada,
aquela angústia de sempre e um novo porém.
As próprias velas de cera eram nada.
Pois se estavam, encontrá-las não era possível.
E a companhia daquele sábado, se resumia
à escuridão do momento e à outra do vinho.
A embriaguez que não se mostrava no rubor das buxexas,
cansada e com medo,
pediu licença ao prazer por um lapso,
e aquele efêmero homem sem luz,
pleno e perdido entre a nuvem escura,
escureceu também seus desejos inquietos,
sacrificou uma parte pouca dos seus segredos,
para mostrar que era ele o dono daquilo,
e que nenhuma escuridão seria invencível
com a possibilidade eterna que tinha de transcender
à exatamente tudo que se tensionava,
no clarão dos dias sem sol,
ou na escuridão daquela noite em que se encontrava.

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