domingo, 1 de maio de 2011

patologênese




Os sinais estão aí. Basta alguma atenção acurada e intencional para perceber que a racionalidade pede socorro. A racionalidade e seus títeres, que são os homens e as mulheres. A racionalidade é uma complexa assediadora de consciências pueris (e são tantas...), de consciências que não nasceram há dez mil anos atrás como Raulzito.

Essa espécie de Queda no Éden da sociedade contemporânea é um efeito natural como já nos alertou Capra no seu Ponto de Mutação. Mesmo sendo natural, tem resultados nefastos. Como se a saúde de um corpo inteiro dependesse da amputação de alguma parte esclerosada. As amputações invisíveis estão por aí e pode que alguém perto de você esteja com dores atrozes ou mesmo anestesiado com algum antidepressivo. A existência vem naturalmente dispensando esse exército de “portadores rígidos da verdade”.

O caráter natural não aproxima nem exclui os falaciosos atributos de “bondade” e “maldade”. A ruína – pessoal e coletiva – é uma condição de possibilidade da grande natureza cósmica que, em essência, não se pretende boa ou má. O maniqueísmo é uma amarra da natureza humana que nunca encontrou harmonia com o caráter transcendente da natureza cósmica, mas que se manteve até hoje como uma espécie de agente regulador dos trópicos da existência temporal. Assim como algumas partes de nós são descartáveis, também o são os princípios que afiançam a realidade de algum tempo, considerando toda a história como uma grande existência una.

Às consciências de hoje resta perceber que a natureza pessoal depende do seu próprio entorno e que, em havendo dissonâncias, qualquer possibilidade sadia de pertencimento será aniquilada. A não adaptação à nova frequencia que vem se instalando neste pedaço de tempo e espaço em que vivemos, promoverá alguma espécie de eco inaudível daqueles que permanecerem escravos de sua própria noção de tradição. A tradição neste tempo é uma traidora. Não é possível que haja unidade com alheamento e, por isso, permanecer com os vícios ortodoxos do maniqueísmo é carimbar o próprio passaporte para o não-pertencimento existencial nesse tempo que vem.

Se você é do tipo que tem mais certezas do que dúvidas... cuidado! Os castelos de certezas traem os racionais de hoje assim como os contos de fada traem qualquer menina-mulher que acaba percebendo que seu príncipe-grande-amor tem uma barriga imensa, peida embaixo das cobertas e ainda por cima é assíduo freqüentador da zona, só pra comer umas pererecas que tenham gemidos diferentes. Um príncipe muito mais ogro do que encantado. Deviam ter contado a verdade desde o início, tanto às menininhas-projetos-de-princesa quanto aos racionais, que têm finas paredes de concreto que sustentam uma grande massa chorosa e gelatinosa. Mas como poderiam ter aprendido sem que ninguém os tenha ensinado? E como agora, depois que suas próprias certezas se tornaram firmes como a rocha, poderá ser diluído esse edifício altaneiro de verdades? Essa construção que ameaça cair sobre a cabeça dos engenheiros que confiaram tanto na precisão de seus dados e esqueceram-se da natural espontaneidade dos terremotos... Haverá – que me digam os deuses – outra via que não aquela que nos faz beber a lama do inferno para que se possa indicar a saída a esses tantos? Ou manteremos a verdade de Nietzsche que já sabia há quase 200 anos atrás que no trono da grande sabedoria repousa absoluto o Diabo como grande mestre?

O óbvio é uma ovelha branca igual à outras milhares de ovelhas brancas do rebanho. A terceira guerra mundial não será do Bin Laden, nem do Kadafi, nem do Obama. A terceira guerra é na verdade a primeira das guerras da invisibilidade. Que pouca atenção temos dado ao silêncio e ao escuro, como se fossem partes mortas e inertes da nossa parte humana que só vê sentido nas cores e sons do utilitarismo.

Nessa inexorável caravela que leva os racionais ao abismo, não serão bastantes as ciências tradicionais. Os antidepressivos serão tão ineficazes como usar aspirina como método contraceptivo. A terceira guerra é uma guerra personalíssima: você contra você mesmo. Uma guerra sélfica, só pra se dar os devidos ares de importância pra esse negócio que é sério, inevitável e desafiador para quem pretende servir de bóia de salvação para os outros. A interiorização nos seus mais plurais matizes é o anestésico possível. A interiorização requerida vai desde o canal afetivo que se pode estabelecer com um bicho de estimação até grandes descobertas no terreno da espiritualidade. Vale ir à missa, praticar yôga, frequentar o psicólogo, meditar sobre si mesmo tomando um porre, estudar filosofia e usar a interrogação como enfeite do chapéu, significar a vida com o afeto puro dos filhos, dialogar com os próprios demônios, encontrar um amor profundo que permita um passeio comprometido em territórios selvagens do ser etc. Vale reiki, biodança, tarôt francês, aprender a tocar um instrumento musical e mais uma etc (acho a coisa mais idiota do mundo esse tal de etc.). Além disso, primordial é que cada um encontre o seu próprio meio de alinhar as ondas pessoais com as novas que já estão começando a enlouquecer muita gente por aí.

Os acometidos de overdose de racionalismo estão adoecendo, incapazes de suportar a nova frequência desta temporalidade e deste espaço histórico. Esses ainda viciados pelas fragmentadas linearidades da lógica padecem vagarosamente, já que a única linha reta que lhes resta é a que os conduz, como gado ao abate, em direção ao próprio abismo. Os significantes desses doentes da vez serão a própria causa do abalo sísmico em suas harmonias existenciais. Quantas vezes esses livros insuportáveis de autoajuda já não disseram que viver com um único norte na vida é cavar a própria cova? Esses livros são um porre, mas insistem em obviedades que se escondem no meio do rebanho de ovelhas brancas. Que paradoxo filho da puta esse de que o
óbvio vive em permanente estado de ocultamento...

Erga as armas e caminhe, SEM dentes cerrados e SEM sangue nos olhos porque isso é coisa desatualizada, em direção à seus territórios desconhecidos. Só assim será possível evitar a morte por exaustão (e dor de cabeça e depressão e ansiedade e pressão alta e TPM e úlcera e câncer e esquizofrenia e AVC e e e e...) no seu próprio labirinto escuro.



2 comentários:

  1. Como prometido: 1X1
    Pênalti não conta. Deu empate.

    Abraços....

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  2. chocolate meu amigo Bruno, chocolate de Páscoa atrasado!

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