quinta-feira, 31 de março de 2011

A VALSA DOS DEMÔNIOS




Há em ti essa cólera.

Percebo.
Porque em qualquer movimento teu está tua própria nudez.
Em qualquer aceno, em qualquer letra composta em frase.
Tua nudez revela tua fraqueza, teus demônios.
Os demônios que são pra mim amigos de bar.
Cago de porta aberta com os demônios
enquanto tu ainda pensas que eles são “do mal”.

E eles me dizem sobre tua cólera ao pé do ouvido, na maior amizade.
Essa cólera tua, que te consome a alma e te alfineta a espinha,
é só um amargo,
um  amargo que tu sentes ao perceber que este domínio do microcosmo não faz dele macro.

E queres o macro, não é?
Ou queres e por saber que não podes, finges que não queres?
Tu dominas a ínfima imensidão da tua pequena mansarda...e só!
Dominas esse farelo enquanto desejas,
no prelúdio da noite que faz do travesseiro tua fuga ao sonho,
o cosmo todinho.

E com a cabeça no portal dos sonhos, choras,
fazendo brotar em ti a dor que não dói,
a inveja, a incompreensão,
a ira maquiada de zelo,
uma vontade de vingança pelo destino que não pudestes escolher,
todos esses temperos que fazem da tua cólera a sopinha sem graça que tomo nos domingos de noite.

E quando te dás conta disso tudo,
esse microcosmo – que é um grão de areia – se desenha como pueril demais.
E tu choras criança, agora chorando por dentro, porque não tens a chave da transcendência,
e não podes ser maior, nem expandir tua consciência por aí.

E mais criança te sentes porque existe essa dúvida sobre o mistério das poesias...
E, de novo, não sabes pra que lado caminham os versos...

Então tua transgressão te fitas e tu não tens coragem de olhá-la no grão escuro dos olhos.

Teus planos de armadilha te mostram:
são indícios de uma criancinha que chora porque ficou sem lugar pra ver o teatro de bonecos só reservado às criancinhas que tiveram sorte.

CONCLUO:

Meus demônios vão até ti,
determinados a afogar tua garganta quando estiveres deslizando pelo sonho.
Quando estiveres sem ar,
caindo no abismo crepuscular e quase deixando a vida,
se iluminará em ti a verdade.
E a embriaguez do holofote ofertará a chance de volta.
Poderás voltar com resignação à vigília da tua pobreza, que é o teu tempo.
Ou então dançarás uma valsa com os demônios. Veremos.

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