sábado, 12 de março de 2011

projeto barba negra

Esses dias atrás resolvi deixar a “barba” crescer. Coloco aspas porque na verdade minha barba não é uma BARBA. Tenho uns fiapos de pêlo no rosto que não merecem (ou não me sinto merecedor) do título de dono de uma BARBA.

Resolvi deixar os fiapos à vontade pra ver no que dava. Claro que, pelo tamanho da escravidão em que vivemos, permitir essa liberdade dos fiapos da cara é uma subversão, afinal, com exceção dos subversivos (os para quem FODA-SE o resto), só podemos ter barba se realmente tivermos uma completa/fechada/sem falhas. As incompletudes não são muito bem aceitas, bem sabemos. Barbas falhadas, assim, são FALHAS da natureza e, portanto, devem ser desprezadas tal qual os bebês que nasciam sem uma perna ou com uma cabeça cheia de água e eram atirados no abismo pelos próprios pais na antiguidade. Uma barbicha de mendigo, dizem, pega mal para um adEvogado.

A experiência me surpreendeu quando, no decorrer dos dias, percebi que eu realmente TINHA uma barba. Rala é verdade. Os pêlos iam nascendo tímidos, com uma preguiça filha da puta. Pensei em desistir porque realmente estava ridículo. Ponderei que o carnaval estava próximo e mantive o foco. O carnaval é um tempo em que se pode ligar o foda-se na temperatura máxima, inclusive um adEvogado como eu. Tive a certeza de manter o projeto barba 2011 quando, no carnaval, escutei de umas meninas: “homem = a barba”. Mesmo sabendo que elas são exceções já que a maioria das mulheres acha que os ácaros dormem embaixo da barba, que barba espeta o beijo e o sexo oral, que barba é suja e isso e aquilo, dei ouvido às meninas. Sempre dou ouvido às exceções. Elas, por serem exceções, acabaram se tornando, do dia pra noite, minhas amigonas. 3 grandes pessoas.

Talvez a tentativa de ter uma barba representasse a materialização do meu estágio final de ser homem. Essa condição tão reclamada pelos ecos ausentes dos “outros”, esse grande fantasma que nos assusta sem existir. Nós TEMOS que virar homens, construir nosso próprio iglu, caçar com as próprias garras. Nas tribos da putaqueopariu, os aborígenes adolescentes tinham que carregar uma capivara morta, pesadíssima (que deve ser uma coisa absolutamente cansativa), para que pudessem portar a insígnia invisível de ser HOMEM. O ritual do tornar-se homem aparece de todos os jeitos em todas as historietas da civilização e hoje, capivaras à parte, a coisa continua pesadíssima.

Chega uma hora em que somos incitados à equação liberdade-responsabilidade. Tomamos um coice na bunda e temos que caçar sozinhos o antílope que corre a 90km por hora na savana, como uma espoleta tresloucada.

Para nos tornarmos homens de acordo com o protótipo de homem que perambula por ai a coisa é mais ou menos assim: futebol, carros, cervejas até que se possa alcançar com o dedo na goela, coçadas (in)conscientes no saco pra demonstrar que TEMOS o instrumento, peidos entre os amigos (quanto mais fedorentos melhor), ímpeto de sobreviver na selva caso um boing 373 caia na selva e você seja o desgraçado que não morreu, especialidades hidráulicas, especialidade em consertar persianas que são um produto feito pelo diabo, especialidades elétricas pra saber se dá pra encostar a porra do fio vermelho no fio azul e vice-versa, especialidade com aquela máquina de furar paredes de concreto para depois pendurar quadros, especialidade matemática pra calcular AONDE enfiar o parafuso para que o quadro não fique torto, especialidade em desentupir vasos e em instalar chuveiros (eu só sei trocar do verão para o inverno). Lá no Rio Grande temos ainda que fazer churrasco, se a carne for de Capivara (um animal de caça – e ai eu pergunto: qual animal não tem que ser caçado antes de virar churrasco? Se eu fosse uma vaca e soubesse que ia virar churrasco iam ter que me caçar), se o assador assar uma capivara, mais CÔNAN ainda. Isso sem falar nas qualidades mecânicas. Esse ano o amigo Matz me ensinou a fazer a tal chupeta de uma bateria para outra, quando a outra acaba porque a gente chega podre de bêbado em casa e deixa o som do carro ligado. O problema é que eu já esqueci como faz, então, amigo Matz, por favor envie o passo-a-passo sobre a chupeta de bateria. Só lembro que é um tal de engata o cabo esquerdo no azul, o vermelho não sei onde, liga o carro x antes do y (qual agora?) e fincalhefogo na acelaração. Se eu fizer hoje incendeio os dois carros com certeza.

Quando eu era pequeno perguntava pro meu pai porque os pêlos nasciam no sovaco dos meus primos e não em mim. Ele dizia que era uma questão de tempo, pensava em como seria útil se ele pudesse passar pra mim os chumaços que tinha em excesso no saco. Ele dizia que também tinha sofrido com a falta de pêlos quando era menino e ia cobrar lateral no futebol da vila, sem um puto pelo embaixo do braço, aquela calvície no sovaco exposta pra todo o time.

Meus pêlos acabaram nascendo como meu pai tinha prometido. Quando andava todo orgulhoso dos meus chumaços ao redor do pau, a minha primeira namorada pediu que eu desse uma aparada nos pentelhos. Obedecendo a patroinha, passei a tesoura e encurtei os pêlos pra deixar a região mais higiênica. Apesar da tristeza inicial, acabei me contentando quando percebi que cortar os pêlos dava a sensação (falsa) de que o pau ficava maior. A partir de lá, sempre aparo pra ficar me enganando. Mentiras sinceras interessam, grande Cazuza, ainda mais quando se trata do tamanho do pau. (a única coisa que não dá pra aguentar é quando as mulheres falam “mete teu pauzão”... quando o cara tem certeza de que a única coisa que não tem é um pauzão, isso é realmente broxante, antes de dizer uma asneira dessas, melhor que fiquem só no óóóóhhh, úúúúúhhh, ááááhhhh). (acabei de perceber que as vogais “e” e “i” estão excluídas dos grunhidos do prazer).

Mais tarde, uma outra namorada pediu pra eu raspar com gilete todos os pentelhos. TODINHOS. Dizia que era pra ficar lisinho. Eu, sempre muito obediente, raspei. Meus amigos me escutem: NUNCA FAÇAM ISSO. É uma agressão, um atentado aos direitos humanos, uma chacina. O vermelhão que ficou foi tenebroso. Todos meus anticorpos foram para perto do pau achando que era a 3ª guerra mundial e que a gilete era a bomba atômica. Depois, quando os pêlos começaram a nascer, as pontas pontiagudas que não tinham espaço pra nascer livres porque a cueca não lhes dava o espaço devido, acabaram entortando e encostando na pele. Resultado: uma coceira filha da puta! Mas filha da puta MESMO!

Harmonizado o tamanho dos pentelhos, faltava vir os pêlos do peito. Esses demoraram. Quando os meus terminaram de nascer, nasceu a moda de raspar os pêlos do peito. Aí não entendi mais nada. Como não sou muito de me adaptar e como minhas experiências com raspagem são péssimas, mantenho os pêlos do peito até hoje. Meninas do carnaval: homem = a pêlos no peito também?

Nessa odisséia, chegou a vez da barba. Que experiência ver a barba nascer. Até ando levantando com mais entusiasmo, só pra ver se ela cresceu durante a noite. Mas hoje vou tirar todo o cultivo dos últimos 20 dias. Vou raspar todos os fiapos. É que hoje a lua está na fase crescente, então vou tentar essa nova estratégia.


10 comentários:

  1. Bah, que pena não poder comentar parágrafo por parágrafo, Paulo. Com certeza enriqueceria o teu ensaio "Conhecimentos gerais sobre anatomia, prazer e sexo: as diferenças entre o masculino e o feminino". hahahaha
    Beijos, querido!

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  2. Bah deiz! Sensacional! Me lembrei daquela vez que subimos a Rua Independência na contra-mão, em frente ao Boka, em pleno movimento (sábado à noite, às 01:30), para fazer uma chupeta no carro da mãe do Urso (vulgo Erion), hehehe.
    Bom, cumprimendo meu tema-de-casa, segue o passo-a-passo, sobre o quê fazer quando ficar sem bateria no carro.
    1. Quando verificar que o carro está "morto", procure lembrar-se de onde veio na noite passada, como o carro está estacionado na sua garagem e o que fizeste na noite passada (Dica: ligue para um amigo ajudar a lembrar, ou para te dar uma carona mesmo na saga pelos cabos, como consta nos itens 2 e 3).
    2. Pensando se se arrependeu ou não, pegue os cabos-de-bateria-para-chupeta que estão no porta-malas. Quer dizer, você não terá esses cabos no porta-malas. Só o Paulinho que comprou para ajudar alguém um dia ou quando ele esquecer o som do carro ligado novamente. Fora ele, ninguém tem esses cabos que não prestam para nada mais além de uma vez que fizeres isso (ou não). Então, não tendo os cabos, dirija-se até um posto de gasolina.
    3. Chegando no posto de gasolina peça ao frentista, teu "brother", que empreste os cabos. (Dica: se você for homem, nem adianta ir num posto de gasolina qualquer onde nunca abasteceu o carro ou não conhece algum dos frentistas. Não perca tempo e vá até o posto onde costumeiramente abastece, ou então compre os ditos cabos. Já se você for mulher, vá em qualquer posto, saia de dentro do carro, caminhe em direção ao frentista e peça os cabos-de-cupeta-para-bateria, que imediatamente os conseguirá. Algumas, quase que imediatamente, mas enfim, o que importa é que conseguirá).
    4. Volte para sua garagem com os cabos, juntamente com o carro do amigo. Estacione com a frente voltada para a frente do teu carro, sem encostar, e desligue o carro, deixando-o em ponto-morto.
    5. Erga os capôs de ambos os carros.
    6. Pegue o cabo vermelho, e conecte no pólo positivo (se você ainda estiver de ressaca, é o do símbolo "+") do carro do amigo, que está com bateria.
    7. Pegue a outra ponta do cabo vermelho e conecte no pólo positivo da bateria do teu carro. (Dica: segure na parte de borracha do cabo ao conectar, para evitar um choque).
    8. Pegue a ponta do cabo azul e conecte ao pólo negativo (se você ainda estiver de ressaca, lembre-se que é o do símbolo "-") da bateria do carro do amigo, que está com bateria.
    9. Pegue a outra ponta do cabo azul e conecte no pólo negativo da bateria do teu carro.
    10. Entre dentro do teu carro, coloque em ponto-morto, e bata a chave para ligá-lo, pisando no pedal do acelerador de leve.
    11. Obtendo o resultado esperado (o carro tendo ligado), retire primeiro o cabo azul, que está ligado nos pólos negativos das baterias, iniciando pela bateria do teu carro, e depois da bateria do carro do amigo.
    12. Retire o cabo vermelho, que está ligado no pólo positivo da bateria do teu carro, e depois da bateria do carro do amigo.
    13. Feche os capôs.
    14. Dê umas aceleradas (de leve, nada exagerado) e deixe o carro ligado com o motor funcionando por uns 10 minutos.
    15. Concluído a "trabalhera", devolva os cabos-de-chupeta-para-bateria ou guarde-os no porta-malas (os postos hoje em dia já não emprestam justamente por isso, ninguém os devolve, salvo os "brother").
    16. Vá para um bar, pagar uma "gelada" para o amigo que te socorreu!

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  3. Instalei o novo avast!, e veio junto com ele um aplicativo que informa se o site que você irá entrar é seguro ou não. O teu blog deu como inseguro, deve ser devido ao cabo de chupeta da bateria.....hahaha...

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  4. hahahhaa
    uma maravilha Nêne!
    Ficou o roteiro para bukowskianos sem bateria no carro! Eu tenho essa porcaria, se alguém precisar é so pedir.

    Bruno, meu caro Bruno, o meu blog na verdade não é meu, é do alter-ego de paulo ferrareze f. então, não sei se é perrigoso. vou visitar pra ver. hahahah
    abraçaõ

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  5. hahaha, uma vez pedi ajuda a um (único) carinha que passava na rua para nos ajudar a fazer a tal chupeta, ele desconfiou e se mandou, isso deveria ter outro nome, ou depois desta, crio outros nomes pra não assustar mais ninguém e não ficar sem ajuda, hahaha.
    Parabéns mais uma vez, o blog do Paulo Ferrareze F. e seu alter-ego é sensacional. abç

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. Suas incompletudes são bem aceitas por mim Paulo. haha! Você e suas ideias.Mas calma! Tudo é questão de tempo mesmo.
    Me divirto lendo seu blog!
    Um beijo.

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  8. Eu IA comentar algo, mas o Matzenbacher meio que OWNOU a parada...hehe!

    PS: foda o fato de que depois de uns 6 anos de barba ininterrupta (oscilando entre o "canalha de rodoviaria" e o "naufrago") eu nao posso mais tirar que nem EU me identifico no espelho.

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  9. grande borba, pra ti ver: durante o texto eu não tinha visto a chupeta por esse ângulo! puta merda!
    Carla, BAH, pareceu uma cantada! mas se for, ok.

    gabrielito: mas tu não és um adEvogado, né?

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  10. Pareceu uma cantada, foi ótimo.
    Só quis alimentar um pouco a tua angústia. Deixa estar!
    Um beijo

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