quarta-feira, 21 de julho de 2010

Contos Imediatos XXIX


Antonia morava sozinha numa casa de tijolos. Quase não recebia visitas. É que não fazia muita questão. Se bastava com Andorinho, o papagaio que fora confundido com uma andorinha quando pousou esbaforido no quintal, sem eira, nem beira, nem nenhuma palavra no gogó. O bicho e a velha se falavam sem falar, e a ambos era conveniente conviver assim.

Murmurava-se no bairro que havia um mistério escondido na casa, tão silenciosa que era a velha, o bicho e a casa. Ninguém sabia o que era e se era, e também ninguém ousava perguntar à suposta guardadora. Alguns a tinham por feiticeira; e, como sabe-se de há muito que feitiços são osso duro de ser roído, melhor mesmo era não dar muito as caras.

Mesmo assim, algumas madamas curiosas paravam na calçada em frente à casa para tentar espiar o cotidiano daquela vida misteriosa. A velha nem se importava, não era muito de se importar nem com as coisas que importavam. Até que um dia lançou da varanda: "aceitam um chá preto?" As madamas saíram em disparada, assustadíssimas. No outro dia, escondendo os rostos entre as echarpes e os óculos escuros, lá estavam elas tentando espiar de novo, mas na calçada do outro lado da rua, por precaução.


PFF

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