segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Guarde essa frase para a sobriedade de amanhã: samba em bolero


para minha amiga Bruna,

SAMBAEMBOLERO


A música que sonava pela penumbra
do alaranjado dos tijolos,
do frio que atravessava as borrachas dos sapatos,
das multicores luminosas do teto ia,
junto com a ressonância dos copos em brinde,
destruindo a armadura de cada personagem,
revelando a pureza de cada um,
tirando a máscara que escondia
a nudez moral daqueles viventes.
Tornamo-nos, no eterno daquele instante,
crus como carne de bicho morto.
O álcool nos curava como nunca
e nos sentíamos um tanto mais
que aquele pouco habitual
dos que podiam também mais.
Era nossa sã anestesia,
a morfina de nossas consciências.
O alívio das nossas insatisfações.
A vodka era nossa apoteose,
transformava o soturno da música
em impulso para a dança.
Irracionais, inconscientes e condicionados
pela embriagues do momento,
entramos no fabuloso mundo
que nos permite transmudar conceitos.
O frio era a razão do abraço.
A tristeza, uma jovem sensual de seios salientes,
pernas atrativas e outros predicados de sempre.
A solidão caía vencida por nossa plural alteridade.
Já não mudava saber que lado era o oeste.
Dançávamos poeticamente.
Fazíamos do samba um bolero:
até o dia voltar, até o álcool passar
até o frio abraçar de novo nossas costelas quentes.

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