segunda-feira, 2 de abril de 2012

PARTILHA





Escuto um choro delicado em ouvidos que são meus,
de um LP que era do meu pai, 
na vitrola que foi do meu vô.
Divido esse choro com todos argonautas, astronautas, internautas, 
com quem deve e com quem teme,
com quem se gaba por pensar que é de fino gabarito,
com quem lembra ou já esqueceu.
Divido este choro com quem faz a janta 
e com quem grita com a cria que chora porque o grito não pára.
Compartilho com quem não me suporta ou tão bem assim não me quer,
com os que não se afinam com meu olhar,
porque somos assim estranhamente distantes no olhar
mas irmãos em quase tudo.

Com eu partilho, 
porque sou no fundo um egoísta, 
que divide porque sabe que ainda ficará com todos os pedaços.
E talvez este seja um importante segredo do autoengano e do amor: 
pensar que o pedaço é tudo.

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