segunda-feira, 9 de abril de 2012

MÍNIMAS PÉSSIMAS E PESSSIMISTAS - 14



Estou cansado de conhecer gente nova porque sempre parecem alguma coisa que já conheço. De novo acabam não tendo nada. 


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BRASIL, O PAÍS DO FUTURO: Aqui os cachorros ainda dormem nas ciclovias.


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Sendo triste, vivo numa cidade alegre. Quantos tristes vivem escondidos nas cidades alegres? Essas penitenciárias a céu aberto... Nas cidades alegres as ruas não principais são normais como as ruas de qualquer cidade, e andar por elas é um cortejo fúnebre.


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Dias atrás eu briguei com a gerente do mercado. Uma garrafa de vinho tinha duas etiquetas com preços diferentes e ela acabou me cobrando o maior valor. Fiz uma cena, falei que faria uma reclamação ao dono, ao Barack Obama ou a alguém importante. Acabei não fazendo nada porque reclamar do jeito certo é burocrático e trabalhoso demais. No futuro não haverão danos morais porque os pedidos de indenização serão por tempo perdido. Este será o nosso pedido. Nosso tempo será muito mais caro que a nossa dignidade. Nosso tempo terá valor como ações de uma empresa na bolsa. Rose, a gerente, estava salva pela minha falta de tempo e paciência, porque eu tinha um pé no presente e outro no passado. Hoje quando cheguei no mercado a Rose estava lá. Me olhou com gelo nos olhos. Ela nunca saberia se eu lembro dela e, se dela lembro eu. Quando ela passou por mim acompanhei a bunda com os olhos. Dentro da calça, a bunda da Rose era bonita. Muitas bundas vivem assim, às escondidas, como travecos de rua que escondem a verdade de um jeito óbvio. Era óbvio que aquela bunda da Rose era uma farsa. Eu podia imaginar os pêlos, os furos, aquela calcinha posta pra não ser vista por ninguém. Eu tinha perdoado a Rose, mas a gente, um para o outro não servia pra nada. Minha antipatia começa pela bunda.

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As primas, as alunas, as mulheres casadas, as evangélicas guardadas por Deus, as primeiras-damas, as filhas únicas... personagens dos séquitos da subversão.

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Nas livrarias, mulheres ficam mais bonitas, mais cheirosas, mais deliciosas. Nas livrarias, ficam com as unhas feitas, ficam com a bunda mais ajustada e com o cabelo mais sedutor. Se estiverem nas prateleiras marginais, mais gostosas ainda. Se não estiverem na sessão dos mais vendidos, mais belas ainda. Se prestarem a atenção mais no livro que manuseiam do que na mirada falível de um homem babão, então são rainhas. A livraria é um salão de beleza.

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