quarta-feira, 18 de abril de 2012

RASTEIRICES





É nas derrotas microscópicas que o lado negro do ego humano estende grandiosamente seus tentáculos, sufocando a vítima por asfixia, deixando-a diminuta, menor que sua própria derrota pueril. Essa cegueira em relação à tirania do ego impede o desenvolvimento de uma consciência ascética e autônoma que, sem ver suas próprias falhas, parte à caça das causas externas à ela, com sangue nos olhos e um nó cancerígeno na garganta. Essa sabotagem do micro-derrotado, que tenta  imputar a responsabilidade de suas derrotas à causas externas à ele é antiga, vem do primeiro livro da bíblia, o Gênesis, quando Adão apontou covardemente o dedo do pecado à Eva e esta, outra covarde, à Serpente, que só não apontou o dedo para alguém porque a natureza resolveu dar um basta em toda covardia podre que na Terra havia, deixando a Serpente sem dedos e com uma vida rasteira... de lá até hoje continuamos na mesma, as serpentes continuam rastejando como nós, mas nos ganham pela falta de dedos. É pela impossibilidade do exercício da covardia pela serpente, que Deus, um cara bacana e um chefe nato, soube bem comandar o inicio da civilização e impor limites, até mesmo na miserabilidade dos homens e seus jeitos asquerosos flertar com suas certezas idiotas e carcomidas pelo próprio ego. A covardia das serpentes, se existe, morreu muda pela falta de verbo e de dedos... No mundo animal, estamos mais parecidos com os cachorros, que correm atrás do próprio rabo pensando que estão fazendo uma revolução... talvez por isso que sejam (por identificação) os melhores amigos do homem.

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