Tenho cogitado em como seria.
E não sei como
seria.
A dúvida é uma das
minhas amantes.
E quando a dúvida
é tamanha, abandono as outras amantes.
Não atendo, não
respondo emails,
desejo que
encontrem seus caminhos de luz como a luz da minha dúvida,
que ganha ares de
rainha,
de reitora,
de paradigma dos meus detalhes do inicio ao fim do dia.
Tenho medo de
desejar mais a duvida do que o amor, é verdade.
Tenho um medo filho da puta disso.
Talvez porque ame
a dúvida com unhas e dentes e coração.
Ponho um pouco de
coração porque ele cabe sempre,
em tudo,
no doce e no salgado.
No frito e no assado.
No risco e na salvação.
No impossível e no cogitável.
Coração é como espichar-se na rede.
Tendo uma rede ou um coração, não há quem não queira usá-los.
Se pudesse,
convidava a dúvida pra sair.
E depois pra não
sair - da minha casa, da minha cama, da minha vida.
Pra não sair dos
meus projetos, dos meus projéteis sem direção.
É a falta de direção
dos projéteis que empata meus projetos.
Convidaria a dúvida pra entender meus ataques nonsense,
pra esclarecer o porquê gosto de vinho,
pra que ela pudesse entender porque sou
escravo da dúvida e dos paradoxos.
Queria me explicar à dúvida, não por
culpa, mas por marketing.
Amo a dúvida
porque tenho a esperança de que a dúvida acabe.
E que em
acabando, eu possa passar a amar não ela, mas o amor.
E ser simples,
cotidiano, preocupado,
como são todos estes que parecem tão felizes, mesmo tão
preocupados.
Tenho cogitado em
como seria.
E penso que até
seria, mesmo com todos os "se's",
afinal, quando
podemos cogitar é porque os "se's" não são bastantes pra impedir a
cogitação.
O que foi
cogitado, cogitado está.
É como ver um
crime que não se pode negar o testemunho.
É como a
impossibilidade de deixar de saber aquilo que já se sabe.
Que ela, assim incogitável, assim duvidosa, me estabeleça o amor.
Ou me reestabeleça, já que tenho a sensação de já ter estado nos andares altos do amor.
Como se ascendesse
a alguma altura de fazer suar as mãos,
como se recebesse
um cartão de banco com mais vantagens,
ou como se tivesse
entradas grátis pra um lugar sem entradas disponíveis ao dinheiro do
mundo.
O maior valor do mundo a custo zero e uma dúvida me sustentam.
Coleciono reticências de um, dois e três pontos.
Penso delas o
que eu bem quiser,
porque tenho essa afinidade com a interrogação que te
perfuma
– meu jeito de estar perto do teu cangote.
– meu jeito de estar perto do teu cangote.
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