quarta-feira, 25 de abril de 2012






Tenho cogitado em como seria.
E não sei como seria.
A dúvida é uma das minhas amantes.
E quando a dúvida é tamanha, abandono as outras amantes.
Não atendo, não respondo emails, 
desejo que encontrem seus caminhos de luz como a luz da minha dúvida,
que ganha ares de rainha,
de reitora,
de paradigma dos meus detalhes do inicio ao fim do dia.  

Tenho medo de desejar mais a duvida do que o amor, é verdade.
Tenho um medo filho da puta disso.
Talvez porque ame a dúvida com unhas e dentes e coração.
Ponho um pouco de coração porque ele cabe sempre,
em tudo, 
no doce e no salgado. 
No frito e no assado.
No risco e na salvação.
No impossível e no cogitável.
Coração é como espichar-se na rede. 
Tendo uma rede ou um coração, não há quem não queira usá-los.

Se pudesse, convidava a dúvida pra sair.
E depois pra não sair - da minha casa, da minha cama, da minha vida.
Pra não sair dos meus projetos, dos meus projéteis sem direção.
É a falta de direção dos projéteis que empata meus projetos.
Convidaria a dúvida pra entender meus ataques nonsense,
pra esclarecer o porquê gosto de vinho,
pra que ela pudesse entender porque sou escravo da dúvida e dos paradoxos.
Queria me explicar à dúvida, não por culpa, mas por marketing.
Amo a dúvida porque tenho a esperança de que a dúvida acabe.
E que em acabando, eu possa passar a amar não ela, mas o amor.
E ser simples, cotidiano, preocupado,
como são todos estes que parecem tão felizes, mesmo tão preocupados.

Tenho cogitado em como seria.
E penso que até seria, mesmo com todos os "se's", 
afinal, quando podemos cogitar é porque os "se's" não são bastantes pra impedir a cogitação.
O que foi cogitado, cogitado está.
É como ver um crime que não se pode negar o testemunho.
É como a impossibilidade de deixar de saber aquilo que já se sabe.

Que ela, assim incogitável, assim duvidosa, me estabeleça o amor.
Ou me reestabeleça, já que tenho a sensação de já ter estado nos andares altos do amor.
Como se ascendesse a alguma altura de fazer suar as mãos, 
como se recebesse um cartão de banco com mais vantagens,
ou como se tivesse entradas grátis pra um lugar sem entradas disponíveis ao dinheiro do mundo.

O maior valor do mundo a custo zero e uma dúvida me sustentam.
Coleciono reticências de um, dois e três pontos. 
Penso delas o que eu bem quiser, 
porque tenho essa afinidade com a interrogação que te perfuma 
– meu jeito de estar perto do teu cangote.

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