domingo, 10 de julho de 2011

A CULPA DA CLASSE a

O quê a filosofia da moral moderna e o quê a filosofia da moral contemporânea diriam sobre o quadro “A vida Glamurosa da Classe C” do Pânico na TV?

A primeira filosofia não diria nada, porque na época da filosofia moderna (que resumindo achava que a RAZÃO era a bola da vez já que o Nosso Senhor Todo Poderoso da Igreja católica-apostólica-romana-amém tinha brochado e teve impedida a chance de tomar viagra porque naquela época a Pfizer não existia), sequer havia televisão. Ainda assim, tenho quase certeza de que os assuntos deviam ser muito parecidos na “rádio corredor” da época.

A música dos Titãs foi precisa quando disse que “a televisão me deixou burro, muito burro demais”...não porque não existam programas bons, eles existem, e o Pânico é um deles se você conseguir e entender que rir é uma forma de deixar de pensar e, portanto, viver bem. Não pensar é viver bem e é por isso que a meditação, a espiritualidade, as terapias, o yoga, a acunpuntura, o reiki, o I-ching, o taichichuan, o furgirokakombi, e todas essas coisas orientais estão se tornando personagens principais no “Pequenas Empresas, Grandes Negócios”. Escola de yoga no “Pequenas Empresas, Grandes Negócios” é um RETRATO da contemporaneidade... que será marcada, nos livros de sociologia desse nosso tempo, como um tempo de gente com dois grandes objetivos: ser rica e obter paz interior. Mesmo assim, até pra obter paz interior é preciso dinheiro, a não ser que você resolva o problema enchendo a cara com pinga barata, o quê acaba dando quase na mesma.

Quando ficamos muito tempo assistindo televisão, deixamos de pensar para sermos pensados. Ligamos a TV e nos desligamos. Somos pensados por quem define o conteúdo que será exposto na tela, pela associação contextual entre imagem e som. Isso hoje já não significa dizer que tudo que aparece na TV é liberal, burguês e individualista como todo intelectual gosta de pensar. A internet vem tomando o lugar da TV e esse vaticínio garante que a domesticação provocada pela TV se amenizará consideravelmente quando as pessoas estiverem capitaneando o clic e tiverem liberdade para estar em todos os lugares e acessar todos os temas e textos do mundo.

Na internet é possível escolher, ao mesmo tempo, as altezas das mais íntegras filosofias, minuciosas explicações científicas, outras profundezas explicadas por todos homens que já passaram por aqui e, por outro lado, as baixezas do bate-papo com algum ignorante igual ao outro ignorante que escreveu o primeiro “oi” “e aí” “tudo bem?” no msn. Com a televisão também dá pra escolher o Café Filosófico da TV Cultura em detrimento do Pânico na TV (que passam no mesmo horário), mas como quase ninguém fala do 1o por aí, a propaganda do Café Filosófico fica comprometida.

De todo modo, de nada adianta você ter o universo à disposição se dentro de você houver apenas um pequeno vilarejo e você não puder vencer as pressões sociais de estar em lugares e espaços que não são determinados por você...Quando a internet vencer a TV, grande parte dos intelectuais ficarão órfãos, terão que abandonar o argumento cansado de que a mídia é protetora das elites e terão que voltar a estudar (talvez as coisas orientais...). É compreensível que ainda façam isso como forma de compensar o histórico desequilíbrio de classes que ainda hoje permanece  vivo mas que já não é mais tão totalitário assim. 

A filosofia contemporânea olha para o programa que tenta causar riso a partir da vida da classe C, que acaba sendo classe C na roupa que usa, nas festas que vão e também no que se refere à capacidade de pensar, e pensa: qual a diferença entre a classe C e a classe A? E a resposta é rápida porque a diferença é que, enquanto a classe C come guizado de 3a, veste roupa de balaio e compra cd's do camelô; a classe A come filé mignon, veste as marcas que o mundo do norte ordena e esbanja potência tecnológica nos I-Phones e outras coisas do tipo. Além dessa diferença, existe outra, que acaba fodendo com a moral da classe A, sem que ao menos ela perceba que sua própria moral é abalada.

A classe C, por estar alheada das condições de possibildade de formação de qualquer pensamento crítico que supere o impulso de rebanho enfiado goela abaixo pela televisão e outros outdoors pósmodernos, não estuda nos colégios que prestam (aliás os colégios da classe C vivem em greve...) e, portanto, acabam - pobres pobres -  se tornando uma grande massa de medíocres... Mas se quisermos olhar para o outro canto da fila, na esperança de que a classe A sirva de contrapeso à mediocridade, acabamos frustrados. Mais que frustrados, indignados, porque a classe A consegue ser medíocre mesmo que tenha todos os acessos e possibildades. Na vila e nos condomínios de luxo a música sertaneja é moda. No morro e na beira-mar, os horizontes de sentido são os mesmos (e nem vale a pena elencá-los). E os colégios da classe A sequer entram em greve...A classe C se diverte por estar na TV. A classe A ri da classe C. Todos dão risada. Contentes. Contentamento raso é o que todos querem. E todos acabam no mesmo barco furado, afundando sem perceber. E, se fosse possível estabelecer graus de culpa entre as "classes" (porque efetivamente classes não existem), a maior culpa sem dúvida seria da última, que mesmo tendo estudado e feito terapia, continua passivelmente ignorante, deixando-se enrabar.

O Brasil ainda tem essa ferida chamada classissismo. As pessoas realmente acreditam que são diferentes (leia-se, melhores) das outras porque tiveram a sorte de nascer de pererecas cercadas por mais moedas de ouro. As pessoas realmente acreditam que vivem e são de nichos diferentes, com níveis diferentes...sem perceber que suas mediocridades são mais culpáveis porque tiveram condições de possibilidade melhores. A mediocridade destes fede muito mais.
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2 comentários:

  1. Não "ouvo" Pânico, mas já dei boas risadas ao comentar essa "aproximação" da 'classe C' conosco ('classe mérdia'). Sim, com essa mesma ironia... E a mãe olha pra mim com aquele ar de quem lê Marx na pérgula da piscina e diz: "mas isso não é bom?!" hahahah
    Paulo, o dia que tiveres coragem, publica tuas crônicas! Farão sucesso! Beijos!

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  2. Grande amiga Lu, não entendi a da piscina, mas concordo contigo, afinal, tem horas que temos que concordar e ponto final (sim, bebi, não vou negar, mas não foi muito).

    Por enquanto eu escrevo, se quiserem publicar depois que eu morrer não vou cobrar nada. Até porque a chance de dar certo é maior depois que a gente morre. hahaha

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