Já tentei de todos os tipos, idades, tamanhos, cheiros, cabelos, currículos, tons de batom, gostos musicais e gastronômicos. Já tentei com a engraçadinha que trepava mais ou menos e que tinha ares de ser uma futura boa mãe. Tentei a burrinha altamente gostosa que apesar de me segurar por um tempo, acabou se tornando insuportável. Com essas não tem jeito meu amigo, ou você bebe bastante pra apagar depois do sexo, ou apaga depois do sexo fingindo que apagou por outro motivo ou, ainda, tenta passar todo o tempo com o pau enterrado naquela pererequinha linda e oca como a dona.
Tentei as diferentes ao extremo, as hippies, as marxistas com camiseta do Laranja Mecânica e all-star desbotado, as yôgins, as que tomam chá de cogumelo, as que fumam maconha o dia inteiro pra viver além da linha do tempo-espaço. Com as religiosas tentei apenas por cogitação, pensando que minha vida poderia ser calma se desse certo com uma dessas que gozam legitimamente quando dizem “AI MEU DEUS”. Com essas só cogitei porque estou mais pro lado do inferno mesmo, não tem jeito.
Tentei via internet e via intercâmbio. Pela internet tive uma namoradinha virtual que mentia que ia mostrar TUDO pela web cam... descobri que mulher odeia web cam (se alguma quiser explicar o real motivo, manifeste-se por favor). Ela acabou mostrando, num diazinho apenas, uns nacos da bunda que parecia uma saúva preciosa. Terminamos o namoro virtual no dia em que nos conhecemos pessoalmente.
Tentei as de outros estados da federação, pensando que a cultura podia ser um atributo salvador. A distância ferrou com tudo. Tentei as de outros países pensando que seria bacana largar tudo pra viver um grande amor no estrangeiro (eu era novo demais, idiota demais, vi filmes demais... e daí a gente se engana achando que a vida é um filme). Tentei comer as amigas, ter relações mais verdadeiras em que a amizade pudesse ser a cereja do bolo. Nosso projeto de manutenção das TRANSUAIS (transas casuais) não foi além da primeira.
Tentei as com mais e menos idade que eu. As casadas e as solteiras. Viúvas não cheguei a tentar e, pensando, pode ser uma boa, desde que o defunto não venha encher meu saco de noite. Tentei querer inventar amor onde amor não havia, sem poder explicar como aquela mulher tão legal podia não ter me interessado, caído nas minhas graças tão cheias de exigências e bipolaridades orto e heterodoxas (ao mesmo tempo).
Tentei esquecer amores verdadeiros. Tentei entender os amores verdadeiros... esse pode ter sido um erro fatal. Tentei as putas que não cobram. Essas são divertidíssimas, mas também têm o mesmo problema de ficar só tentando como eu: tentando consumir imediatamente algo que sempre está cru demais, tentando enganar o próprio ego, tentando descartar a profundidade do amor. Tentei as putas que cobram – e foi um dinheiro bem gasto. Uma se apaixonou por mim e acabou se tornando uma grande amiga, as outras foram boas e más porque até nesse serviço existem critérios de qualidade. Não existe relação de homem e mulher mais sincera do que as com as putas, é tudo muito claro, frio, burocrático, animal, contratual e honesto.
Tentei mulheres para que eu pudesse atuar como professor. Tentei outras em que eu me sentia aluno. Tentei cruzar o oceano e levar alianças, infelizmente acho que isso se faz apenas uma vez na vida: se der certo é porque deu certo e, portanto, irrepetível; se não der, é improvável que se faça de novo. As frustrações nos fazem desacreditar e desacreditar é perder a possibilidade de viver plenamente. Tentei ganhar umas com poesia, outras sem poesia, outras com indiferença vigiada. Sobre o efeito da indiferença, detectei que o ser humano é ainda muito viciável por todos os tipos de dor. Somos efetivamente como o girassol poetado pelo Pessoa: não cremos na verdade que está diante de nossos pés, senão no inatingível calor do sol, com seus ares de infinitude e eternidade. A insatisfação humana impede a realização do amor, o que é lastimável e nos dá uma pena danada pelo fato de estarmos tão humanos desde sempre.
Mandei flores soltas e em ramalhete. Espalhei pétalas na cama para as poucas que amei de verdade. Cartões foram escritos e energias foram enviadas pelos ares. Programei encontros que funcionaram e outros absolutamente desastrados. Tentei mentir e isso é uma merda porque pagamos todas as contas AQUI MESMO. Fiquei esperando 4 horas, de noite, no frio, em cima de uma árvore perto da casa de uma ex-namorada, só pra confirmar que ela já andava com a perereca assada de tanto dar pra outro cara (o cara que deixou ela em casa as 4 da manha quando a carne da minha bunda já tinha virado um guisado). Essa vez fiquei mal de verdade... e acho que o modo de condução e término do nosso primeiro namoro determina muita coisa no terreno da afetividade incessante. Óh afetividade, a grande vilã de todo mundo. Eu fui traído, corno mesmo, dos grandes. No meu primeiro namoro eu acreditava. Depois do corno acho que desacreditei. E hoje a guerra é pra voltar a acreditar, voltar a crer num sistema de ilusões que tenta congregar todas as minhas descrenças. Como se eu rogasse pela cegueira que me foi roubada por raios lancinantes de lucidez.
Fiz serenata de terno em cima do carro que ficou todo amassado, a mãe da guria gostou muito mais que ela que, àquelas alturas, já tava dando (com prazer) pra outro cara. Por tentar, eu sofro com as mulheres. Tentei as eruditas que eram ótimas pra um bate papo sobre Marx e Nietzsche, mas que sempre tinham um pixel fora do lugar ou um cheiro incompatível (a exigência é uma defesa sobre a nossa própria incapacidade de amar). Tentei as mais velhas, assumindo resquícios de um Édipo fajuto que ao fim nunca ganha a qualidade de ter só resquícios. Adivinha? Não deu certo. Tentei as novíssimas, tudo no lugar, silicones cheios de esperança e desejos de princesa; mas os poucos anos de vida (quase) fazem as pessoas parecerem iguais. Nesse caso sempre há muito que se caminhar e meu sedentarismo relacional nunca aguenta a potencial maratona a ser percorrida.
Tem uma época da vida do homem em que tentar tanto assim é um prêmio. Hoje sinto vergonha, confesso. Tentar pode ser uma forma de esperança persistente, mas nunca deixará de ser uma espécie de fracasso. Tentar nos embrutece, nos faz ganhar armas (só que armas pressupõem a existência de uma guerra...e as guerras, em se tratando de afeto, são absolutamente dispensáveis) e perdemos milhares de possibilidades de acreditar que os filmes podem existir na vida da gente. Acreditar que dá pra acreditar, sabe? É por isso que os olhos dos lobos amaldiçoados das histórias infantis é todo amarelado.
muito bom, mais temos que tentar fechar os olhos e acreditar no lobo mal,pq como extinto humano não vivemos sozinhos e precisamos aceitar o indesejavel para assim sabermos o que é verdadeiramente de nossa natureza(nossos problemas).
ResponderExcluirTentar é isso mesmo. Mas deixar de tentar é morrer.
ResponderExcluirQue doido no dia do meu aniversario to lendo suas frustrações que não são muito diferentes das outras pessoas... Você é muito incrédulo quando se trata do sexo oposto. Talvez por que deixou seus amores passarem por causa da cretinagem (divertindo-se trepando com a primeira que parece mas proxima da ideia de mulher que vc possuia quando jovem)... Mas é isso ai continua tentando, e não coloque rótulos nos outros pois nem sempre somos o que parecemos.
ResponderExcluirAline Aguiar.
Gostei desse texto. Quase romântico. Pode soar clichê ou piegas, mas talvez as coisas dêem certo justamente quando forem feitas sem essa intencionalidade de tentar. Não que eu queira te dar conselhos, mal te conheço... Mas sigo seu blog.
ResponderExcluirQueridos amparadores, meu sentimento é de afeto. A dedicação das mensagens, essa mão invisível e anônima estendida por vocês é bendita. Interessante pensar sobre o anônimato, já que de alguma forma guarda uma pureza que é impossível numa bate-papo-cara-a-cara.
ResponderExcluirAline, você tem razão quando fala dos impulsos. Tendemos à repetência, repetição, re-fazer-a-mesma-ação e isso pode ser que foda comigo mesmo. O Freud chamava isso de eterno retorno, copiando a filosofia do Nietzsche que era feita em meio aos vômitos. Comigo acontece bastante de criticar nos outros o que não suporto em mim, um clichê da psicologia. Eu coloco rótulos mesmo, e condeno nos outros que o façam. Você me parece sábia, sabe! E esse não é um elogio cretino.
Ana, o problema de pensar é que aprendemos quais produtos devem ser usados na sopa, mas nunca sabemos em qual mercado encontrar.
Amei esse teu texto Paulinho! Demais mesmo..
ResponderExcluirMe remeteu ao final do filme "Noivo neurótico noiva nervosa", do Woody, quando ele fala:
"Então eu acho que é mais ou menos assim que vejo os relacionamentos amorosos hoje: eles são totalmente irracionais, loucos, absurdos, mas a gente continua tentando porque...a maioria de nós precisa dos ovos."
hehe abração!
Foste de uma felicidade sem par no teu post. Mega-blaster excelente a tradução das mazelas de quem tentou e tentou e segue(?)tentando - até porque acreditar, ainda que a razão diga para jogar a toalha, é inerente à nossa natureza.
ResponderExcluirMe fez pensar em um zilhão de teorias da observação que tenho, mas, ao cabo, te digo que o que mais gostei de pensar foi pensar no paradoxo de inverter o processo: da lucidez à cegueira. Aquilo que fomos desconstruindo ao longo da existência por ocnta das experiências, tirando os véus dos sonhos fundados em expectativas idealizadas, e que nos fez lúcidos demais para retentar. Talvez a arma seja reverter o processo, construindo a cegueira na medida necessária para seguir apostando, e exigindo menos (um pouquinho, vai... - difícil isso, mas estou concluindo que conseguimos!)
beijo.
O 1o filme do WA com certeza é um dos melhores dele Lili. Ao fim, o que ele quer nos mostrar é que os desfechos reais são diferentes dos desfechos que gostaríamos que fossem reais... e os ovos são a nossa única parte comum, dependente, necessária (temos que admitir).
ResponderExcluirDa lucidez à cegueira: quantas vezes será que dá pra ir e voltar no intervalo de uma vida hein Janice?
Grande Mago!
ResponderExcluirComo é bom ler texto de gente inteligente! Praticamente um orgasmo... ou melhor, não sei.
Como é bom reconher um pouco de nós nos outros.
"a exigência é uma defesa sobre a nossa própria incapacidade de amar"
Eis o grande desafio: Amar... com a coragem de saber respeitar o que somos e queremos da vida.
Eu sigo, fazendo dos limões azedos que a vida me dá, deliciosas caipirinhas!
Valeu Lila, adoro orgasmos intelectuais também, é um gozo parecido e não precisamos dos rituais póstumos de costume..rsss
ResponderExcluirTambém sou adepto da caipira pra açucarar a vida e amolecer a alma.
Beijao