sexta-feira, 8 de julho de 2011

AINDA PENSAMOS QUE O QUÊ PENSAMOS É SÓ PENSAMENTO...





Ela toda era uma menina,
senão os olhos, 
quase cansados de tanto já ter visto.
Olhava através dos vidros do ônibus, mas sem ver nada.
Também não enxergava nada.
(Já tentaram inventar diferenças sobre ver e enxergar.
Pura idiotice de poeta).

Fones no ouvido pra evitar conversas sem razão.
(Quando as pessoas percebem que têm outras tantas por dentro,
dialogar com os vizinhos de dentro é mais legal do que conversar sobre o clima com um estranho.
Se, por um lado,
dialogar com os próprios fantasmas nos eleva à condição de senhores da autocracia que inventamos,
por outro, ficamos agrilhoados perpetuamente por nossas próprias imcompreensões.
Incompreensões são prisões).

Ela tinha incompreensões próprias da geração Y e de alguém que pensa.
Por isso a intensidade da incompreensão dela era dobrada.
(É fácil de compreender a incompreensão porque
- sem muitos rodeios -
ela é uma falta de sentido em todas coisas ao nosso redor).

As dela eram interrogações flutuantes,
julgamentos,
condenações,
renascimentos em poucos segundos,
minidepressões,
microsalvações,
amores inseguros,
corpo inseguro,
desejos seguros,
retardos de um lado,
precocidades de outro,
iluminações que vinham de cima,
tufões de coisas que o corpo não podia aguentar
e que a alma não podia entender completamente.

Mas ela queria tudo muito completamente.
(Quando a vontade de completude é tanta,
acabamos, quando é possível ir longe, sendo só pela metade).
Gente assim não se contenta com nada que não seja inteiro,
ainda que esse possa ser o prato de comida do anjo e do demônio que sentam em nossos ombros. 

(Viver é um exercício de negação da própria natureza.
Nossa natureza flerta conosco nos 360 e tantos dias do ano.
Temos medo.
Queremos fugir do que é nosso e do que pensamos.
Em geral fazemos isso porque pensamos que o quê pensamos é só pensamento...
Ao fugir - e sempre sabemos de nossas fugas, não é meus caros cônscios? -
nos culpamos.
Nos culpamos porque cometemos a maior das traições: desacordos entre o quê sentimos, somos e pensamos.
Faz bem à saúde que essas coisas estejam de mãos dadas). 

Ela, com seus fones de ouvido, sentia-se culpada.
A culpa era, na verdade, do presente.
A culpa era do destino,
que calçou all-star pra caminhar em direção ao futuro.
Ela sabia de tudo porque duvidava de tudo.
E a calma da paz viria com as rugas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário