domingo, 30 de junho de 2013

MÍNIMAS COISAS QUE SE PODE DIZER DEPOIS DE UM BOCEJO





A resistência é o pai e a mãe da força dos fortes

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Diremos de nosso tempo: foi uma época de publicidade das potências.

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Para os surrealistas a visão privilegiada é a do dissenso, da margem, da brisa gélida de uma sombra no inverno que mantém viva a nossa atenção.

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Interpretar é se dedicar ao erro.

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Clarice Lispector - uma mulher metafísica que viveu maritalmente e que, certamente, terá muito a nos dizer sobre a democracia no amor.

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O que se faz quando você olha pra alguém que tem aquela cara estilo - eu tenho a chave mestra do universo?

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A saudade é um atraso, é o fora do agora, é a doença dos doentes que não se sabem doentes, é uma faceta feliz do absurdo humano.

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Vote nulo: não é a peça que está ruim, mas o teatro que está velho - e precisa ir abaixo.

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Depois do invenção da cura gay, até os cús estão protestando.

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Na maior parte do tempo eu fico acreditando, como um fiel ajoelhado numa igreja. Mas lá pelas tantas, ver a massa cantando o hino nacional na rua, atiça meu ceticismo, e sinto um cheiro de rebanho que nunca agradou o meu nariz grande. É uma espécie de natureza torta que fica pulsando em mim.

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as mal comidas e os heróis da bronha ficam ainda mais insuportáveis no dia dos namorados.

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A tristeza é a ressaca da crítica. Fico triste com a raça humana de um modo geral, triste porque ela vê pouco, triste porque ela é estreita, triste porque ela não percebe obviedades.

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Homem é lobo do homem: o maior interesse de quem viaja é fazer inveja a quem não foi.

democracia e amor





A criação da leveza nos relacionamentos – não o líquido e o sem fundamento - mas o leve, que tem o fundamento ligado à própria leveza, estará entre as promessas mestras que faremos ao outro, em todos os tipos de relacionamento que ainda não soubemos arquitetar pelas fraquezas e medos do nosso espírito. Haverá uma reedição imanente daquelas coisas sutis que teimamos em não lembrar. 
Contemplar o outro e o agenciamento dos seus desejos será estar com o outro. E esses infantis desejos de ser Senhor, ou dono, e mesmo a castração do devir-desejo do outro, serão uma nostalgia primitiva.

terça-feira, 25 de junho de 2013

quarta-feira, 12 de junho de 2013

sobre outras verdadinhas



O primeiro arrebatamento que nós, ocidentais, deveríamos ter, é o do experiência com a imposição de Verdade presente no pensamento judaico-cristão. 
A própria maiúscula usada nos termos Deus, Senhor e Verdade, mostra a necessidade de sujeição imposta pelo sistema de sentido das religiões cristãs. É o “estar-sujeito-a-Deus” que alimenta o discurso bíblico e que pede, sempre, uma atitude de submissão. Mas  o discurso bíblico cobra uma atitude de submissão querendo, no fundo, promover o aprendizado da fidalga virtude a que chamamos humildade. Se um barulhento “- sim” corroborar essa afirmação, então, uma primeira contradição emerge do discurso bíblico. 
Sustendo a expressão “discurso bíblico” justamente porque, de fato, o que há nesta dimensão terrena, imanente, limitada e parcial, é apenas a possibilidade de um discurso sobre alguma coisa – um texto, um relato, uma história, um dado empírico, um sonho, uma fantasia, seja o que for. Se há alguma “Verdade” capaz de ser maiúscula, essa verdade nunca poderá ser escrita em algum lugar, ou entoada por alguma voz, ou lida em algum púlpito. Para os  cabalistas o rosto de Deus pode ser visto a partir da combinatória infinita, e a combinatória infinita precisa da pluralidade do outro para ser feita. O rosto de Deus, diz Warat, é a diferença. Os orientais, ao contrário de nós – ocidentais e herdeiros do judaico-cristianismo – percebem Deus (ou a ideia de Deus) de outro modo. Enquanto nós escrevemos a “Verdade”, eles apenas a contemplam (humilde e minusculamente). Enquanto nós discursamos com pompa e embargamos a voz para que a Verdade pareça séria, eles apenas cantam (humilde e minusculamente). Enquanto nós temos que ler para ter certeza de que não esqueceremos de nada para termos poder sobre tudo, eles querem apenas esquecer de tudo (humilde e minusculamente). Para os orientais, estar com Deus é esquecer de tudo, é dançar, é contemplar tudo que existe. Os orientais estão de acordo, inclusive, com o velho santo solitário que dialoga com o Zaratustra de Nietzsche (este que irônica e metaforicamente "matou" Deus), quando diz: “eu faço canções e as canto, e, quando faço canções, rio, choro e sussurro: assim louvo a Deus. Cantando, chorando, rindo e sussurrando eu louvo ao deus que é meu Deus.”

O pensamento oriental, que tem o mesmo propósito do re-ligare ocidental, acaba, por fim, ensinando melhor. Enquanto o ocidentalismo judaico-cristão concentra sua atenção na submissão em relação ao transcendente e ao metafísico; o pensamento oriental se preocupa, antes, com o aprendizado da crença da virtude da submissão, ou seja, a capacidade de se tornar humilde diante, principalmente, do Deus que vive no outro e que é sempre o reflexo do Deus que vive no "eu" que olha. Este outro que obrigatoriamente é um não-eu que não deve (ou não deveria) ameaçar egos culturalmente domesticados pela cultura patriarcal ao vício de ser o portadores da verdade - uma atitude arrogante, nada submissa, muito menos humilde e, portanto, anticristã... O cristianismo tem paradoxos insanaveis como tudo que é humano, ainda que se pretenda divino. É apenas sem a agressão do ego alheio que podemos encontrar o Deus que vive nos outros, para que este, fale com o Deus que vive dentro de nós.

Essa atitude de “desprendimento” ou de liberação, está no I-Ching, oráculo chinês que data da danistia Chou dos anos de 1150-249 a.C, portanto, anterior à passagem de Cristo na Terra, precisamente no hexagrama 40. Neste hexagrama consta: “[...] como a chuva provoca um alívio nas tensões atmosféricas e faz com que todos os brotos se entreabram, assim também o período da liberação traz um alívio ao que estava sendo oprimido, e um estímulo à vida.”  O I-Ching é também chamado de Livro das mutações e, por isso, contraria a noção do cristianismo que pretende uma Verdade estável, fixa e eterna, em evidente repetição do modelo de pensamento ocidental socrático-platônico. O cristianismo como um platonismo para as massas (Nietzsche) é, nesse sentido, uma expressão certeira. Desde o modo sincronístico como deve ser lido, até o modelo de verdade-eternamente-transitória contida no contexto do texto, o I-Ching é a expressão contrária do Deus cristão, que se pretende Maiúsculo, Onipotente, Onipresente e Onisciente.

Jung, que prefaciou a tradução ocidental do I-Ching, quando perguntado se acreditava em Deus, disse simplesmente: “- eu sei, não preciso acreditar”. Nesse sentido, é possível dizer que Jung estava com Deus, que a sua própria profundidade e riqueza eram o seu próprio Deus, construído artística e exclusivamente por e para ele. Negada a pluralidade, onde ficou esquecida a humildade das centenas de religiões que professam suas crenças a partir da Bíblia? A imensa lista de dissidências das religiões ocidentais que tem a Bíblia como fundamento, por si só indaga: qual realiza a Verdadeira interpretação da Verdade do texto Bíblico? Da Igreja Católica Apostólica Romana, passando Igrejas não-Calcedonianas, pelo Luteranas, Anglicanas, Calvinistas, Presbiterianas, Pietistas, as Pentecostais e Neopentecostais, as Igrejas Unidas, Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, a Quadrangular, a da União em Cristo, as dos surfistas unidos do reino do Senhor como a Bola de neve e, numa dessas, até a Bola de fogo…para qual delas eu me associo, já que o ritual do batismo é imprescindível?

Tenho profundo respeito à noção de humildade que se pode extrair do discurso bíblico, na medida em que ele se estrutura a partir da ideia de que devemos nos render ou nos sujeitar a alguma coisa do qual somos incapazes a partir dos sentidos (de saber, de lidar, de tocar, de ver, de experimentar). Assim, o substrato ou a "essência" da ideia do Deus bíblico, está apoiado na noção de que assumir a incapacidade humana é livrar-se da incapacidade humana ou, dito de outro modo, assumir a incapacidade humana significa assumir a submissão para, por fim, salvar-se.  A superação da “vontade de ser submisso”, que vai em direção à “materialização da humildade”, corolário da tolerância solicita por Jesus, encontra uma resistência fincada na alienação do sujeito formatado culturalmente como um animal de rebanho, homogêneo, humilde, capaz de prescindir do palco da linguagem (os pastores, os politicos e, recentemente, o sincretismo de ambos na infeliciana figura dos políticos-pastores adora o palco da linguagem...), da enfermaria que é construída no centro do próprio ego. O desconhecido recebe então diversos nomes (Deus, Allah, Buda, Iluminação, Transe, Morte, Sonho), mas dentro de cada uma dessas vozes, as palavras são ditas e interpretadas, cada uma, de outro jeito, o que torna o I-Ching chines um livro sagrado que merece mais respeito do que a Bíblia. O discurso é o feto da intuição - talvez porque a intuição, seja para sempre este diálogo que a gente faz com Deus sem a imposição material e humana da linguagem.  

Essa noção de submissão do homem terreno em relação àquilo que ele não pode dominar – como Deus, o Desconhecido e a Morte, para ficar apenas nesses exemplos – encontra infindáveis recorrências. Lembre-se: recorrências significam, precisamente, uma mesma ocorrência que acontece em diferentes lugares, com diferentes pessoas, em diferentes tempos históricos, com diferentes linguagens e com diferentes roupagens. Utilizarei apenas dois exemplos da recorrência da noção de humildade como efeito da atitude de submissão.  No espiritismo, o corpo é desprestigiado, na medida em que faz da vida terrena uma escola de errantes, o desconhecido ambiente spiritual é privilegiado. Também no oriental livro sagrado hindu chamado Bhagavad-Gita, que do sânscrito significa literalmente “Canção de Deus”, Krishna, o equivalente de Jesus neste texto sagrado do hinduísmo, auxilia seu discípulo Arjuna a promover sua própria autorrealização (leia-se - o encontro pessoal com seu Deus) a partir da conciliação do bem e do mal – apenas uma outra recorrência em relação à experiência e à moral postas no mito edênico da Bíblia. Nesse sentido, o Gita se aproxima da Bíblia, quando esta afirma que Jesus veio ao mundo para auxiliar o homem a se re-conciliar ou se re-unir com Deus depois do pecado original. Considerando que se tratam de ocorrências idênticas narradas em textos sagrados diferentes, como pode o discurso bíblico apropriar-se da arrogantemente da Verdade em detrimento deste (ou outros tantos textos sagrados), tão antigos, humanos e profundos quanto a Bíblia?


Precisamos falar (alguma coisa) sobre o Direito




pa’que bailen los tucumanes

Mercedes Sosa


                Para responder a pergunta: por quê a Teoria Narrativista do Direito? É preciso, primeiro, dizer que o tema é sustentado por um fiapo, ou, dito mais claramente, por conta de uma das grandes misérias humanas: o medo. É o medo do desconhecido, esse instinto a que a psiquiatria designou de misoneísmo, o combustível que move o motor de uma das salvaguardas humanas mais queridas no Direito: a segurança jurídica. A segurança jurídica é apenas o medo humano disfarçado de terno e gravata.

                É pelo reflexo do medo humano, que as tentativas de controle do caos da arbitrariedade judicial, se tornaram a grande questão do Direito nos andares elevados do pensamento jurídico atual. Se os grandes debates constitucionais do Direito ocidental[1] são apenas fruto deste grande medo, todos os grandes debates que envolvem as ramificações das propostas de humanização do Direito, por mais infantis que sejam (como a resolução 75 de 2009 do CNJ), são a batalha que empreendemos contra este grande medo que nos petrifica o corpo e a alma. Mas para esta batalha, é necessário que possamos estar fortalecidos. Não é mais possível apostar que a doutrina crítica do Direito, que trabalha querendo transformar o “sistema de operação” do Direito, possa, de fato, transformar o Direito. A aposta deve recair sobre o próprio técnico que procurar consertar a máquina, e não sobre a máquina em si. É preciso apostar na saúde da semente para que uma colheita diferente nasça.

                É querendo controlar o animal selvagem que é a decisão judicial, que se dão a maioria dos esforços em termos de Teoria do Direito.  A própria necessidade de reinvenção de uma “teoria” do Direito, significa que se começa a marcha desta reinvenção com o “pé esquerdo” e pela porta dos fundos. Pretender uma teoria do Direito é autodecretar a incapacidade de uma Teoria do Direito adequada  aos paradigmas culturais e filosóficos de hoje. Compreender as narrações que Zigmunt Baumann faz deste tempo é, portanto, inevitável. Uma sociologia adequada do Direito deve perceber em Baumann o passo com o pé direito que é necessário dar em direção a um Direito, no mínimo, adequado e que de fato possa ser atual. Um direito adequado não é um direito que seja satisfeito adequadamente em algum caso a partir de uma coerência normativa ou uma coerência narrativa dos fatos ditos em um processo; ou, ainda, um direito que esteja adequado à ideias de Justiça que não servem para absolutamente nada; ou, por fim, um direito que esteja adequado a interesses de maiorias ou minorias, simplesmente porque as maiorias são maiorias e as minorias são minorias. Aliás, as reclamações das maiorias e das minorias são exatamente iguais: para as minorias a grande culpa é das maiorias, que não permite que elas sejam também maiorias – algo que soa paranóico, ainda que os paranóicos tenham dificuldade em se dar conta, como já disse Alexandre Morais da Rosa - ; e, para as maiorias, a grande culpa é sempre das minorias, que criam resistência para que a maioria seja sempre cada vez maior. A ideia do “homem de bem”, que é uma herança platônica nascida e criada na imanência da modernidade, é reflexo disso. A flexibilização do maniqueísmo que esta umbilicalmente relacionado com o Direito é uma dessas grandes sessões de terapia pela qual os juristas devem passar. É na crença fixa de que o legal e o ilegal representam juridicamente, de um lado, o certo e o bom, e, de outro, o errado e o ruim, que o Direito sofre a recidiva de uma patologia coletiva e crônica, uma espécie de fixação depressiva, esta que é tratada pela psiquiatria com remédio faixa preta. Para os remédios faixa preta não há outro jeito: ou temos que comprar o farmacêutico para que nos venda sem receita, ou comprar a receita com o médico, ou, em último caso, tomar pensando que é outra coisa porque não temos a capacidade de entender que estamos definitivamente loucos. De um jeito ou de outro, para que possamos conviver com o Direito patologizado que temos hoje, ou teremos que ser corruptos, ou teremos que vestir o véu da ignorância.


                Isso não significa a falta de importância da narratividade no direito, mas significa, precisamente, que também a Teoria Narrativista do Direito deve adotar a perspectiva carnal do Direito, preocupada com a saúde do técnico que trabalha no sistema operacional, e não na vagueza desumana do próprio sistema operacional. A psicologia, então, abraça o direito. Para se humanizar, o direito precisa necessariamente enfrentar o seu próprio inferno. E o inferno do direito é a discricionariedade porque ela é tudo que o nosso medo humano não suporta. Assim como a descida ao inferno do inconsciente é uma tarefa fundamental para o processo terapêutico que está no cerne das construções psicanalíticas, Jung é um autor importante para entender o inferno psíquico, também essa confrontação com o caos da discricionariedade é a permissão que os juristas devem dar para que o bisturi corte suas carnes humanas.

Para isso, aliada a outras preocupações que envolvem a tentativa de construção de uma Teoria do Direito, a Teoria Narrativista do Direito, poderia também ser pensada a partir de três diferentes distinções a partir do símbolo do teatro: uma (1) Teoria sobre as narrações feitas no Direito (pelos personagens do processo, aqueles que atuam no palco do processo); uma (2)  Teoria sobre as narrações feitas a partir do Direito (pelos espectadores que emitem suas críticas sobre a atuação daqueles que estão no palco) e, por fim, uma (3) Teoria sobre as narrações feitas do Direito (por todos que emitem suas meras opiniões, os leigos da rua, os medíocres de todo gênero, e mesmo os leigos e medíocres que, mesmo juristas, continuam sendo leigos e medíocres em relação ao direito e em relação a quase tudo).  




[1]  vá em busca de quais são os debates porque não tenho nenhuma paciência de fazer uma nota de rodapé no estilo ABNT.

domingo, 2 de junho de 2013

as duas flores cor lilás




O vínculo entre o que se diz e o que silencia
é igual ao rastro de um sonho.

A ponte entre esses dois mundos - o dito e o não-dito, 
é a riqueza de estar em dois mundos ao invés de um, posto que a maioria, por desmemória, ignorância ou demasiada juventude, é pobre de um mundo só.

Há também os miseráveis,
que por milagrosa crueldade de Deus, 
se contentam com farelos de um mundo só. 
É que até a própria fome que sentem é miserável - daí o sucesso do farelo.

Duas flores cor lilás em um sonho esquecido,
nunca poderiam ser qualquer coisa ou coisa alguma,
sem um vínculo de afeto entre a memória do sonho e a imanência deste dito.

As duas flores lilás viviam suspensas no céu de um sonho.
os caules finos e verdes se fixavam no próprio ar,
mas-meio-que-dançando,
pois nos sonhos, a matemática da razão é um pretexto da preguiça de quem quer acordar e viver os confortos de um mundo só.

As flores eram um cálice aberto e passivo,
tanto às gotas celestiais quanto aos olhos do sonhador.
e ao olhar do sonhador, reagiam fechando as pétalas,
numa clausura tímida como a de quem quer ser um nu solitário numa praia deserta.
é que o segredo das duas flores de cor lilás era precisamente este: o esplendor do estado de cálice pedia apenas um vínculo sentimental com o sonhador, um toque espiritual, nada dessas paqueras idiotas de colégio.
a potência da floração e o gozo primaveril requisitavam a ausência da mácula do olhar.

Existem as flores que se abrem nos solstícios.
existem as que florescem só em determinadas estações.
essas duas eram permanentemente abertas, e só se fechavam quando alguém olhasse pra elas.
Eram, em seu conjunto, uma Medusa que condenava a Beleza à uma morte poética pelo olhar de um Perseu sonhador.
E isto, de lá, era tudo:
um terceiro mundo, com seus códigos, nepotismos e mistérios.

sábado, 1 de junho de 2013

os filhos das margens, a angústia do desconforto e o desconforto como semente da autonomia




No máximo, um amante perter-pan.
As de 30 querem ter filhos.
As de 20, 
também querem ter filhos, mas ainda não sabem.
Umas dizem: "eu sou uma MULHER
e preciso de um HOMEM, 
por isso que você não fica comigo."

No meio de um mundo em que todo mundo quer ser um HOMEM, eu só quero ser um homem.

Algumas dizem que abortariam.
Outras dizem que teriam a criança de qualquer jeito -
mesmo que tivessem que ser mães solteiras.

O lamento heroico da mãe solteira - uma moda.
É a sujeirinha moral da história na toalha em que tomamos este café da manhã.
Todas as mães acabam abandonadas no mundo animal.
O abandono do macho em relação à fêmea prenhe,
é um dos caminhos do mito da heroína.

Os coringas de baralho,
os peter-pans,
os palhaços de circo,
os ciganos e os nômades,
os tripulantes de navio,
os imigrantes,
os andarilhos.
Todos esses são os homens de um rio guiado pela força da gravidade.
Homens que esquecem seus filhos na margem com as mães depois que descobrem a riqueza da Terra e da Vida.