quinta-feira, 2 de junho de 2011

explicação silenciosa da saudade





A temperatura era baixa.
A cadela dormia no meu colo,
enrolada no cobertor.
Mesmo aquecida e energizada,
rosnou baixinho,
choramingou,
queria descer no chão onde as possibilidades eram tantas.
Como não tinha coragem de se lançar no ar,
dei uma mãozinha com a mão.
Então ela foi deitar perto da porta,
no piso gelado pelo inverno,
esperando seu amor,
que pela mesma porta tinha saído
e ido sabe-se lá pra que puta que pariu.
O bichote ficou grudado na porta,
o mais perto que podia daquilo que amava.
Era uma condição que dela só requeria resignação.
Resignou-se sem vitimização.
Resignou-se sem pensar que tinha que resignar-se.
Dormiu em seguida, indiferente ao piso frio.
Talvez para que o tempo passasse mais rápido.
Diz a sabedoria animal:
dormir é uma saída boa pra quando a saudade aperta.
As mulheres usam chocolate.
Eu fico com o sono, cansa menos que comer
e , além disso, não me força à escovar os dentes.
O bicho ficou ali, me ensinando coisas sobre a saudade,
num silêncio de matar qualquer saudade com entendimento.
(E erguendo a cabeça a cada alarme falso de chegada).


2 comentários:

  1. se for pensar nestas palavras, não dorme-se tão cedo.

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  2. Gosteii muitooo.
    Concordo plenamente: "Diz a sabedoria animal:
    dormir é uma saída boa pra quando a saudade aperta."
    Quanto a "As mulheres usam chocolate.
    Eu fico com o sono,"... eu também.. nem todas as mulheres usam chocolate.

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