quinta-feira, 14 de abril de 2011

Enquanto os gatos trepam num sábado à noite



(psicose, nice to meet you)

Quando acordei ela já tinha saído da cama. Senti que ela estava sem estar quando escutei os pingos do chuveiro que escorriam pela pele dela que era uma pele deliciosa. Dormi de novo. Depois acordei de novo e ela já não estava mais no banho e nem do meu lado. Chamei por ela “Fulanaaaa, ô Fulana” (claro que fica complicado escrever o nome da Fulana aqui, posso tomar no cú valendo com uma ação de danos morais). A Fulana veio me enchendo de chamegos.

Deitou comigo na cama e senti a pele lisa, o cabelo molhado e perfumado do shampoo do banho recente. Ficamos abraçados por um tempo na cama. Ela tinha um cheiro tão feminino, tão adocicado, tão mulher, tão sobremesa, tão carnívoro, tão edípico talvez, tão salvador. SIM, um cheiro que me enchia de uma esperança de morte. Esperança de que ela pudesse matar minha parte que sentia com o abraço mortal da perereca, da perereca que conduz ao útero, o túmulo dos túmulos. Esperança de voltar ao útero e ficar lá, tranquilão, fazendo porra nenhuma senão ficar boiando nos líquidos amnióticos e ficar chupando comida pelo umbigo, como se o umbigo no útero fosse um chimarrão de comida que se toma pela barriga.

Eu tava com um bafo absolutamente podre. Como se tivesse mastigado um rato e esquecido de tirar os pedaços de carne de rato da boca antes de dormir. O bafo é o porém do sexo matinal. Só com muita intimidade se pode trepar com bafo, o que pressupõe obviamente uma trepada sem beijo e sem trocas de baforadas na cara caso a posição eleita seja o ortodoxo “pai e mãe” (papai-mamãe é meio pedófilo não acham, temos que amadurecer e começar a fazer a posição pai-mãe). A opção “de ladinho” acaba sendo uma boa pedida pra transar de manhã. O que não dá pra entender é quando umas mulheres querem beijos de cinema às 9 da manhã de um domingo. Não há pau que levante. Sentindo aqueles cheiros frescos e matutinos dela, fiquei de pau duro. Na verdade, antes mesmo de ela chegar na cama meu pau já tava duro. Aquele conhecido paudurismo da manhã. Nas manhãs, ganha-se um cheiro de rato morto na boca, mas pelo menos o pau fica sempre altivo.

Ela estava com um vestidinho branco colado no corpo, desses de malha surrada de ficar em casa, um tesão. As mulheres não entendem que tesão de homem é natural. Tendemos a gostar da naturalidade. Aquelas roupas cheias de panos nobres de festa, aquelas purpurinas idiotas e aqueles rebocos na cara não deixam ninguém excitado. Isso é alimento só pro imaginário de conto de fadas. Na fábula da libido real o desejo não usa maquiagem. Sem contar que aquele pó (a BASE, vejam só que base do mundo feminino eu tenho) que as mulheres passam na cara tem um fedor insuportável. Então melhor que apareçam as espinhas e os buracos na cara já que no final sempre se acaba trepando na penumbra que é uma anestesia para as imperfeições do corpo.

O vestidinho dela, além de excitantemente surrado, era curtíssimo. Revelava os gomos de baixo da bunda que ficam melhores ainda quando ficam na dinâmica do aparece-desaparece com o sobe e desce do vestido. Ela se enrolava na cama e o vestido subia (Nosso Senhor do Tico Duro, Dai-me Forças). Depois alinhava de novo o vestido enquanto eu ficava embriagado no planeta do tesão (Mais Forças Senhor). A verdade é que uma perereca tem o poder de levar um homem tanto ao céu quanto ao inferno. E isto é tudo que se pode dizer.

Percebi que ela tava sem calcinha. Era uma mania que ela tinha, vivia sem calcinha. Fazia pra me provocar. Acho que queria me deixar constantemente de pau duro. A estratégia funcionava muito bem. Além do mais, tinha uma perereca incrível, sem nenhum pêlo, ajustada, controlada, danada de boa. Um corpo gostoso que era um alimento. Um corpo com curvas no exato lugar em que as curvas devem estar. Coloquei a mão e ela já estava molhada, úmida como uma chuva fina que experimentamos com a mão pra fora da janela do carro. Incrivelmente molhada. Me achei dispensável, afinal, sempre escutei (não sei onde) toda aquela história de que as preliminares é que preparam o terreno e blá-blá-blá, que querer enfiar logo de cara não é muito romântico e blé-blé-blé. Teorias da Revista Nova à parte, aproveitei a situação quando ela disse:

- Pode enfiar. (pelo que lembro a Vani falou uma dessas pro Rui no seriado OS NORMAIS)
- Sério?
- Aham.

Como eu não era o Rui, achei ótimo. Nós homens somos ANIMAIS que tentam disfarçar que não são. Convites pra jantar, telefonemas carinhosos e até flores são só disfarces do animal que escondemos. Perdoem minha sinceridade, mas já é hora de começarmos um mundo mais honesto. Digo isso até das mulheres que amamos porque quando ficamos sem sexo, todo o romantismo escorre pelo ralo. Mas não se enganem porque ESSE é o nosso amar. Mulheres fontes de vida, entendam, nos amamos ASSIM. E teremos que nos entender pra que não se fale mais em “guerra dos sexos” em todas essas revistas idiotas de salão de beleza. Amamos MESMO. Temos coração, sensibilidade e até vontade de casar com a perereca que amamos.

Enfiei o pau como ela tinha determinado. E lá fiquei até o final. Verdade que não demorou muito, mas tudo bem, era sábado e teríamos o dia todo pela frente. Talvez novas chances de um sexo sem esforço no decorrer de um loooongo sábado libidinal. Ela não gozou. Eu sempre ficava preocupado quando ela não gozava. Homem materializa o amor com sexo e pensa estupidamente que a mulher faz o mesmo. Como somos estúpidos. Não que elas não precisem de sexo de qualidade com orgasmos alucinantes, mas é que simplesmente não dão a dimensão que nós homens damos pra essa coisa. (E não me venham mulheres metidas a revolucionárias, que ainda estão guerreando com o objetivo de dizer que mulher também tem prazer e goza porque isso todo mundo já sabe e é só um resquício de que algumas mulheres, em 2011, estão com a cabeça nos anos 70). Tire a magia do sexo e, para as mulheres, não há mais sexo. Nós conseguimos trepar sem magia nenhuma. E isso não é uma VANTAGEM, só uma característica, capiche!

Pelo menos é mais ou menos isso que tenho escutado por aí, nas traduções que faço. Pode ser que falem pra me agradar ou mintam. Em qualquer um dos casos, tudo bem. Como não tem como saber precisamente o que se passa na cabeça delas, o negócio é seguir na missão de ler as mensagens subliminares e continuar gozando sempre e sem problemas de frigidez. Melhor assim. Melhor pra quem goza fácil.

Fiquei preocupado, afinal, eu gostava dela e queria saber se ela não tinha gozado porque simplesmente não tinha gozado ou se não tinha gozado porque eu tinha gozado antes do tempo hábil para que ela gozasse. Ela se limpou e fomos para a sala. Ela não gostava de ter discussões sobre sexo e nem sobre porra nenhuma. Não queria briga. E agora me dou conta desse grande atributo dela: é uma pessoa pacífica! Eu às vezes me sentia a mulher da relação, querendo fazer terapia de casal. Eu sempre gostei de conversar e descobrir os porquês dos porquês dos porquês, sempre achava que conversando podíamos nos entender. Eu era um rato metido a psicólogo que achava que entendia das coisas, mas não entendia que algumas coisas dispensavam o entendimento. E as vezes esquecia que não sabia era merda nenhuma.

Às vezes não adianta falar. As pessoas em geral não são sábias o bastante pra simplesmente observar que o fogo queima e não ir colocar a mão nele. Só aprendem quando queimam a própria pele. O ser humano ainda é uma criança.

Tentei argumentar, mas ela estava ríspida demais. Disse que discutir sobre sexo era broxante e que falar só piorava as coisas. Falamos um pouco e depois paramos, aquilo não levaria a lugar nenhum. Ela trouxe um bolo que tinha feito para nosso café da manhã. Depois que comemos o bolo, trocamos uns beijos e tudo já estava certo. Ela não gostava de discutir e não era rancorosa. As rusgas dela se iam embora com o vento e isso era bom pra ela e pra mim. Depois sentou e foi estudar. Limpei a sacada que estava toda suja de areia, nunca suportei areia dentro de casa. Areia é infernal porque ela pode se esconder num canto da casa eternamente. Além do mais, acabava indo parar na cama e ai é aquela porcaria coçando as costas da gente a noite toda. Quando eu ficar velho vou ser insuportável de tão chato.

Limpei tudo e voltei a sentar na mesa com ela. Na verdade sentamos nas cadeiras que estavam ao redor da mesa e não na mesa propriamente. Ela me ofereceu um café batido que sempre ficava muito bom. Tomei. Uma pomba começou a grunhir na sacada e ela me perguntou:

- Já viu algum gato trepando?
- Não.
- Eu vi uns gatos fodendo nos arredores da casa da minha vó, eles fazem um barulho estranho. Ai ela imitou os gatos transando com uns sons absolutamente estranhos de gatos transando (tudo muito estranho).

Acabamos não trepando mais no sábado. Os gatos deviam estar metendo nas gatas, gemendo de prazer, era sábado, o dia em que o sexo se burocratiza. Minha quota tinha acabado. Mas sempre depois de um dia vem outro dia e sempre pode ser que a gente tenha outra possibilidade de dar uma. Se for com quem a gente gosta, muito melhor. A parte libidinal do sábado tinha acabado logo cedo. E eu teria que me contentar com algum filme, sabe com é relacionamento depois de um tempo, muito filme e pouco sexo. Acho que prefiro transar depois da janta.

3 comentários:

  1. "sabe como é relacionamento depois de um tempo, muito filme e pouco sexo" depende muito de com quem estais tendo o relacionamento, é um pouco relativo. Mas concordo com você, as vezes bom mesmo, é ter uma noite alucinante depois de um jantar inesperado...

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  2. Meu amigo, quando li sobre a mulher sem calcinha logo lembrei deste texto do Carpinejar: http://carpinejar.blogspot.com/2010/08/estrategias-de-seducao.html - ri e me fez pensar que a vida é um universo de opostos - de faz de conta - de isso de aquilo...

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