quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Gemido do cão




O cachorrinho ia esganiçado na coleira. Querendo dar mais passos do que o limite da coleira permitia. Ele patinhava, roçando as unhas no chão de concreto bruto. O filho da puta silvava, esganiçado, com o diabo no corpo. Lembrei da menina do Exorcista, mas ele ainda não pertencia ao inferno porque não girava a cabeça em 360 graus. Latia como uma mulher em trabalho de parto, bem na hora em que está saindo a cabeça da criança, que deve ser dose de elefante misturada com dose de cavalo. Sinto dó das mulheres que tem que parir naturalmente. Um parto pode ter ares divinos, mas a dor deve ser infernal. Senti pena da cadela que pariu aquela aberraçãozinha doméstica da natureza. O cachorrinho idiota queria atravessar a rua. Não tinha noção do perigo. Se fosse atropelado eu aplaudiria. Gosto dos cachorros assim como gosto das pessoas, mas em alguns casos é melhor que nem existam. Ele latia um latido estridente, insuportável, contínuo. Íamos na mesma direção, o que sepultava minhas esperanças. O dono tinha uma cara de tapado. E recém tinha saído da cama. Devia estar de férias. Provável que tivesse levantado da cama exclusivamente pra levar aquela porcaria de cachorro pra mijar. Depois iria voltar pro ronco eterno da felicidade, até o meio dia. Eram 8 horas de uma manhã que era o fim de uma noite mal dormida. A dor de cabeça era do tipo minhocas: minhocas remoendo minha massa encefálica como se fosse terra úmida. Minha panturrilha ainda está se acostumando com o salto maldito do sapato social. O cachorro parecia que ia infartar, berrava e gemia sem parar. Parecia ter orgasmos múltiplos de ver a rua. Eu ganhava alguns metros de distância enquanto ele largava jatos de mijo pelas rodas dos carros estacionados. Achei que o cachorro pudesse estar vendo um fantasma, tamanha a gritaria tresloucada. Dizem que alguns animais podem ver espíritos, provável que esse visse. Era cedo, mas já devia estar uns bons 25 graus embaixo do meu agradável terno de lã quente (não existe lã que possa ser fria no verão tropical do Brasil). O dono do cachorro bocejou. Estava com a camisa do pijama que não tapava toda a barriga esquizofrênica que ele tinha. O cachorro continuava gritando e querendo correr sabe-se lá pra onde, talvez quisesse mesmo o suicídio por não aguentar aquele dono gordo. Comecei a entender o cachorro, mas com os gritos repetidos, voltei a não entender mais. Nunca gostei de armas de fogo. Melhor assim.

3 comentários:

  1. auhuhahuahuauhaahuauhuha ME MATEI DE RIR Paulinho! Acho que é o mesmo sentimento que tenho pelo cachorro da Síndica do meu prédio! haha

    Abraço!

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  2. Se anda sentindo isso, atira. Atira no focinho Lili!

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  3. Estás precisando de amor. Só masturbação não está resolvendo seu problema. Ou o do cachorro. Não sei. Procuras um médico, porque o gordo tapado deve ter levado o cão ao veterinário. Ao contrário do "seu dono".

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