A divindade da poesia do Chico sobre a união dos corpos e das almas que não podem, senão afixadas, grudadas, trançadas, conectadas, afiveladas; continuar respirando. A tatuagem imperiosa das peles, que faz do toque uma condição, do roçar uma sensação bendita, de dois calores um sol, do tato das línguas saliva una. Coisas que apenas inundações de feminilidade podem contar aos ouvidos do mundo. O mistério é um menino que nasceu do sexo entre duas mulheres, a vida e a morte. Só quando as feminilidades encontram-se é que nascem coisas incomensuráveis como o universo, o inconsciente, o fundo do mar, um talho entreaberto, um caminho de escura textura e cálido perfume. As fêmeas são a condição de todo mistério. E o paradoxal é que as lésbicas não geram nada além de orgasmos mútos. E o intrigante é que a Monalisa deixa no ar que era um Monaliso, com aqueles peitos escondidos, sem silicone e aquele riso que chama de imbecil cada turista idiota que visita o Louvre e não entende que ela se ri dos idiotas que não entendem o porque do riso. A eternidade está além de tudo isso. O eterno mora além dos lados da moeda. Quantas mensagens subliminares morrerão incompreendidas? Sigam duvidando e tropeçando no fio do próprio bigode. As flores, estas sim, são eternas. Vivem e morrem misteriosamente. Também as nuvens são eternas, mas por pertencerem ao reino dos céus, não devem ser assunto nosso. As nuvens são a única transcendência possível aos olhos, a prova aos que duvidam que seja possível atravessar coisas que parecem tão grandes e espessas. As especulações apenas morrem, porque querem entender. Entender é morrer. Por isso é preciso fazer com que as flores terrenas - e também os que pensam por portarem olhos - tenham a propriedade de transcender e alcançar a graça das nuvens.
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