domingo, 1 de janeiro de 2012

ADULTOS NO ÚTERO DA HISTÓRIA

Na casa da paz, reina, além da paz, uma nudez despreocupada, um silêncio benigno, a calma das ruas marginais. Na casa da paz existe uma rede com tramas tradicionais, que se deixa ser tocada pelo vento sem sentir frio ou desagrado... Estando morta, a rede consegue ser mais forte do que eu que, supostamente, estou vivo, o quê, por si só, me desassossega.
Na casa da paz existe a potência da música, que dorme em cada instrumento não tocado – esse tão belo casamento entre homem e instrumento (se os casamentos fossem assim, uma conciliação entre o silêncio e a música, poderiam dar certo...) 
Para instalar a paz, como faz um técnico que instala uma antena de TV a cabo que multiplica os canais, é necessário abrir as gaiolas e deixar que os pássaros engaiolados voem para onde quiserem voar, isso se for caso de gaiola ainda não vazia.  
Com a liberdade dos pássaros, as gaiolas são inúteis, são adereços... Como espelho da natureza como faziam os antigos, cogito que ainda não sabemos separar o que é necessidade e o que é adereço com a liberdade que a história nos concedeu. É esse o cálculo a ser feito depois da conquista desse sentimento a que damos o nome de liberdade... Viver é perceber a vida como um amontoado de adereços decorativos que escondem coisas com as quais não sabemos viver sem... Do ponto de vista quantitativo, para cada um, há uma quantidade de necessidades - quanto menor elas forem, mais próximo do grande sono se está. Afinal, desde que se saiba que o grande objetivo da vida é morrer, não haverá mais qualquer sintoma da grande ignorância, desse som infra ou ultra que chega a tão poucas consciências sonares.  
A paz existe nos orgasmos de amor e de intimidade, na recuperação do fôlego que o excesso de participação na vida nos tira. É nesse sentido que o sedentarismo é um exercício poético: quanto mais plácido o corpo, mais rapidamente se perde o ar. Todos vivem de querer perder o ar, e é por esse desejo catastrófico de perder o fôlego que se instalam no homem todas as chagas do espírito. É esse desejo nirvânico, de tocar com os dedos o rosto de Deus e de descortinar a verdade por inteiro, que há que se decretar a falência de uma era. No cume das altas montanhas existe um baú com a inscrição “A HUMILDADE DAQUI PARA DIANTE...”. Dentro dele está, num frasco muito pequeno, a única gota que é necessária para que a vida se mantenha dentro de cada caminho de cada caixeiro viajante do novo destino. Parece zombeteiro? Em breve não parecerá...
A casa da paz abre as portas, para um mundo reinventado, com olhares sem medo, com uma injeção que pinga honestidade pela agulha, ávida para fazer matar e fazer viver, tingindo de verdade a verdade de cada um. O sol queimará toda pele fraca que não souber que a sombra é seu lugar. As teorias serão parciais, localizadas, regionais. Haverá uma outra metafísica, já que as matérias da metafísica serão experiências ligadas à carne, aos olhos, aos sentidos. Haverá calma ao dormir e interesses grandiosos ao despertar. Haverão ainda outros e novos caminhos para o devaneio. As casas serão, em todas as partes, igrejas.

2 comentários:

  1. para o primeiro post do mundo que não terminou na virada do ano, afirmo que há pequenas verdades em cada frase.

    será que dá para "curtir" também no blog? hehe

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  2. valeu minha querida! tá "curtido" já. bom inicio de ano. bjo

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