quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

MÍNIMAS - 9


Harmonia, pedia um mendigo no metrô


ELOGIO AO DETALHE: Ser contemporâneo é ter intimidade com o detalhe. É uma inteligência que, no braço de um violão, cria acordes que formam uma música calma de se ouvir na sombra de uma rede, calma e toda detalhada. Como um flamenco que se escuta sentado, tomando um vinho. 

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A verdade, por ser o primeiro passo no ar de um pé que acaba de deixar a superfície, é impossível à vida. A verdade é apenas um "estar morrendo" qualquer, é um clic de uma catraca no meio exato entre duas coisas diferentes e imemoráveis entre si.

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Por paradoxal que possa parecer, o homem-aranha é uma fantasia do imaginário coletivo para demonstrar a força destruidora do feminino. A mulher é a aranha-moira de uma grande teia, que desenha traços de armadilha nos ares da floresta escura chamada vida. Durante o dia e para todos, as vistas são o escudo contra a escravidão e morte na teia. Mas durante a noite, a morte e a vida ocupam o mesmo lugar... e estão sempre prestes a acontecer. 

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Se um corpo desatento ou sem fortuna encontra a teia, tem sempre sua força de resistência testada. Precisa juntar todas as maiores forças para livrar-se da confusão da trama que se mistura com as pernas paralisadas,  precisa esperar que a anestesia da possibilidade de seguir caminho passe. A liberdade perdida no instante requer a energia necessária...mas não para sair da teia, senão para mostrar à grande aranha que pode sair. Quanto a este aprendiz que acaba na teia: ou acaba preguiçosamente permitindo o corte frio da foice da morte ou começa a desfazer o nosado a tempo, com a astúcia devida para desarmar uma bomba-relógio.

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CONTINUAÇÃO CONTEMPORÂNEA DO COMPLEXO DE ÉDIPO: São as mães que nos matam de não estarmos vivos.

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Todos os paus são pequenos. Um pau duro é uma antena que tenta captar algum sentido no universo inexplicável e no mistério do universo de um útero.

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